A surpreendente ocupação do prédio da Assembleia Legislativa na madrugada de ontem por tropas da Polícia Militar deu a mais clara e prática demonstração da vontade do seu recém-empossado presidente, o deputado Valdir Rossoni, de "passar para a história". A expressão é dele mesmo; fez parte do primeiro discurso que pronunciou após a eleição e posse da nova Mesa Executiva, ocorridas no fim da tarde da última terça-feira. Com ela, quis informar a opinião pública da sua disposição de implementar medidas radicais para pôr fim às décadas de desmando em vigor no Legislativo paranaense.

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Bastaram poucas horas para se ver que não se tratava apenas de um recurso de retórica de Rossoni: os 150 milicianos destacados tomaram as dependências da Casa e passaram à ação, controlando o trânsito de funcionários e visitantes; impedindo a entrada de uns ou exigindo a saída de outros; mantêm rigorosa vigilância de salas e gabinetes, trancam portas, abrem cofres, apreendem armas e esquisitos aparelhos de interceptação telefônica – tudo como se estivessem atuando numa daquelas operações de caça à de­­­linquên­­­cia comumente vistas no noticiário policial.

Tudo isso, diga-se de passagem, a pedido e sob estrita orientação do novo presidente do Legislativo – o que pode significar, sem exagero, que também ele encontrou motivos para compartilhar com a sociedade paranaense da visão de que a Assembleia se tornara mesmo um caso de polícia! Rossoni sentiu na própria pele que estava carregado de razões para assim pensar e reagir: no mesmo dia da posse foi confrontado por funcionários que, em tom ameaçador até contra sua integridade física, pretendiam impor-lhe condutas administrativas.

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Certamente lhe pareceu imperioso dar tal demonstração de força, pois, a se perceber por esse primeiro episódio, ser-lhe-ia impossível cumprir as demais drásticas promessas de moralização que anunciou em seu discurso de posse. A ousadia dos insubordinados deu-lhe duas certezas. A primeira, de que havia grupos perigosos atuando dentro da própria Assembleia; a segunda, a de que era aquele o momento certo para demonstrar que ninguém poderia se sobrepor à autoridade e ao poder de que estava sendo investido.

Dada essa primeira demonstração de força, o deputado Valdir Rossoni pode se considerar pronto para enfrentar situações ainda mais desafiadoras. Terá, como prometeu, de vencer vícios que, digamos, fazem parte da própria "cultura" do nosso Legislativo – cujas entranhas ficaram expostas, sobretudo a partir das denúncias que constaram da série "Diários Secretos" publicada por este jornal e que tão grande repercussão alcançou perante a opinião pública.

Cabe agora aos novos dirigentes da Assembleia utilizar instrumentos técnicos e legais apropriados para ultrapassar os limites da investigação jornalística e as competências dos organismos institucionais, como o Ministério Público e a Polícia Federal, que desvendaram os esquemas de corrupção que imperavam na Casa. Rossoni mostrou-se disposto a tanto ao anunciar a participação da Fundação Getulio Vargas (FGV) para auditar as contas e o quadro de servidores ativos e inativos. Certamente obterá, aí, os elementos suficientes para as providências de correção e de punição que se impuserem.

É preciso, neste momento, dar um voto de confiança. É preciso confiar na palavra e na disposição já demonstrada por Rossoni e por seus companheiros da Mesa Executiva. É preciso torcer para que a esperança não se desvaneça; para que não haja retrocesso. O Paraná cívico espera com ansiedade pelo novo tempo – o tempo em que a Assembleia Legislativa já não mais poderá ser considerada um caso de polícia.