As convenções nacionais partidárias confirmaram, no último fim de semana, as três principais candidaturas à Presidência da República. Não houve, claro, nenhuma surpresa de última hora. Os partidos tão somente referendaram o que já haviam decidido há tempos: representando o situacionismo, a ex-ministra Dilma Rousseff concorrerá pelo PT; pela oposição encarnada pelo PSDB, o ex-governador paulista José Serra tentará pela segunda vez chegar ao Planalto; e, concorrendo "por fora", mas simbolizando sobretudo as causas ambientais, a senadora Marina Silva foi lançada pelo Partido Verde (PV).

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Salvo, pois, pelo eventual surgimento de outros candidatos – os chamados "nanicos", representando partidos idem –, o eleitor brasileiro já tem diante de si o quadro sobre o qual será chamado a decidir em 3 de outubro.

Não há que se negar os méritos pessoais e políticos dos três principais postulantes. São, em primeiro lugar, representantes legítimos das grandes correntes nacionais. A tais qualidades soma-se a experiência acumulada por eles ao longo da história de militância de cada um e dos postos de administração que ocuparam. Unem-se também por suas origens ideológicas, sempre vinculados às posições de esquerda e à luta contra o autoritarismo do período militar. A diferenciarem-se entre si apenas pela retórica e algumas propostas de governo, especialmente nas áreas econômica e social, que não chegam a colocá-los radicalmente em campos opostos.

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Têm assim os 100 milhões de cidadãos brasileiros aptos a votar um conjunto de opções digno do momento histórico que o país atravessa. Não há, entre eles, o aventureirismo que marcou eleições passadas; não há razão para demagogia e populismo exacerbados que possam turvar o processo eleitoral e redundar em resultados ca­­tastróficos para o Brasil, como se viu, por exemplo, no plei­­to de 1989, quando se elegeu Fernando Collor concorrendo contra um candidato que encarnava o radicalismo, o então inexperiente líder sindical e fundador do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Tem tudo, portanto, a campanha eleitoral que se aproxima, de se desenvolver em clima elevado, de absoluto respeito ético entre as partes e ao interesse primordial do povo – isto é, para ser propositiva no mais amplo sentido. O povo quer propostas sérias; tem o direito de fazer sua escolha de acordo com a seriedade e com a responsabilidade que os candidatos demonstrarem na apresentação de seus programas de governo e projetos. Quer escolher segundo o que acreditar melhor atenda ao interesse público.

Assim, é com tristeza que se veem iniciativas como os noticiados dossiês de denúncias produzidos nos porões das campanhas; os ataques de ordem pessoal; as comparações anacrônicas com governos anteriores; as tentativas de disseminar o medo e prenunciar o caos caso vença o outro lado, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Não é este o modelo de campanha que mais atende o interesse popular, nem o que mais engrandece a biografia dos candidatos, nem o que mais ajuda os eleitores a fazer a melhor escolha.