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Impasse. Os números do Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb), recém-divulgados pelo Ministério da Educação, são ou não para festejar? Trata-se de um caso típico de miopia numérica: não se sabe ao certo o que os algarismos e porcentos significam – um retumbante fracasso ou uma prova de que estamos superando o pior dos nossos descompassos. Façam suas escolhas.

A contar pela curva pouco voluptuosa dos gráficos, ainda assim o Brasil melhorou. Nos primeiros anos de escolarização – o básico – a nota foi 4,6, um avanço de 0,8 em relação a 2005 e de 0,4 em relação a 2007. No ensino médio, cuja nota redonda é 3,6, o aumento oscila entre 0,1 e 0,2 dígitos. A esse desempenho muitos matemáticos chamariam de "empate técnico". Mas vá lá, é algo para mais e barco para frente.

Para leigos, fica de fato difícil identificar onde é que se esconde o avanço do Ideb, a não ser que se lance mão de uma lupa. A questão, porém, é que o ensino não se mede em metro. As virtudes dessa área são a continuidade, a persistência, a observação, entre outros requisitos que não cabem em cronogramas e tabelas.

Há de se considerar, contudo, que já se gastou muita saliva tentando desqualificar os sistemas de avaliação governamentais e que já se está em outra etapa do jogo: mesmo imperfeito, duro e estéril para traduzir a realidade algo mole e flexível do ensino, o Ideb e outros índices dizem muito sobre o "cubo de Rubik – o cubo mágico" da educação.

O resultado do Ideb permite afirmar, por exemplo, que o avanço não depende apenas de investimento monetário, como se propalou por décadas e com tamanha insistência que se tornou uma de nossas nênias tristes. Os índices modestíssimos do ensino médio são uma prova de que nem tudo se resolve no tilintar das moedas, mas com a exaustão de investimentos humanos. A dizer.

O dinheiro todo da educação não é o bastante para tirar do barro os milhares de professores necessários para suprir disciplinas como Física e Matemática. Até onde se sabe, não ultrapassa 30% o total de docentes realmente preparados para essas áreas, o que concorre para colocar orelhas de burro nas escolas brasileiras, passar-lhe uma carraspana, dar-lhe com a palmatória.

Mais. O desempenho do ensino médio não depende apenas da comunidade escolar, mas de financiamento público, a exemplo do que acontece no ensino básico. Qualquer mudança no cenário só vai se dar mediante um novo pacto social em torno da infância e da juventude – aí é que são elas. Ou igrejas, empresas, ONGs e onde mais possa estar a sociedade organizada se engajam na tarefa ou nada feito. Permaneceremos entre 1,5 ponto e 2,4 pontos abaixo dos países desenvolvidos, chorando nossa porcentagem infame.

E aí vale uma ressalva. Todos os esforços da administração Fernando Haddad em dar transparência e dinamismo a seu ministério não têm sido garantia, por ora, de que se vai ter uma reviravolta nas políticas de ensino médio. O ministro tem aplicado a lógica das pedrinhas do dominó enfileiradas: uma vai empurrar a outra, levando o país a ter, nos próximos anos, nota alta e honra ao mérito.

O raciocínio de Haddad não chega a ser um embuste. Houve de fato, uma grande tour de force na educação, trazendo para as salas de aula levas e levas de crianças, antes à solta. Há classes cheias. Ao trocar evasão por inclusão, passou-se uma rasteira nas práticas que geravam marginalidade, subemprego e atraso tecnológico. A expectativa agora é contaminar todo o fundamental e o médio, criando uma espécie de corrente de qualidade em meio à quantidade.

Nada mal. Mas que não nos decepcionem esses homens de terno. Que não tentem nos iludir. Somos gatos escaldados. Em índices de educação, então, nem se siga: lamuriamos desde os idos de dom João VI. Bem que andamos cansados.

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