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Aparentemente, a tranqüilidade parece voltar às ruas de Paris. Após três semanas de graves distúrbios promovidos por jovens filhos de imigrantes que habitam os subúrbios pobres da capital francesa, as últimas noites registraram poucos casos de incêndios a carros e de depredações – marcas principais da onda de violência que assustou a Europa e escancarou para o mundo a existência do profundo mal-estar social subjacente numa das mais desenvolvidas nações do planeta. Mal-estar que nasce da mistura explosiva entre a pura e simples miséria provocada pela falta de oportunidades de emprego a uma odiosa discriminação de caráter étnico e religioso.

À custa das rigorosas medidas de força adotadas pelas autoridades, entre elas a instituição do toque de recolher, a proibição de reuniões públicas, a multiplicação das prisões e a ameaça de expulsão dos estrangeiros flagrados em atos de vandalismo, as desordens estão enfim sendo contidas. Mas seguramente não estão contidas nem solucionadas as causas profundas que levaram o caos à periferia de Paris, se espalhou por centenas de outras cidades da França e ameaçou eclodir com força também em outros países europeus.

De fato, a Europa não estará livre do ressurgimento das manifestações e nem de que elas se tornem ainda mais violentas e incontroláveis se não houver a implementação de um novo, mais humano e socialmente mais justo modo de encarar suas causas e buscar superá-las. O que significa que toda a sociedade do Primeiro Mundo europeu precisará reconhecer o importante papel que os imigrantes desempenharam e desempenham para o seu enriquecimento e, a partir desta inelutável constatação, procurar promover a integração e, sobretudo, a redução das desigualdades.

A imigração gera riqueza e crescimento econômico da Europa ocidental, garantem os indicadores mais respeitáveis, mas permanece a resistência à integração. Muitos dos trabalhadores estrangeiros não encontram condições nem incentivos para contribuir para os sistemas nacionais de seguridade social, ao mesmo tempo que se calcula que em 15 ou 20 anos estará literalmente falida a previdência oficial dos cada vez mais envelhecidos países ricos. Nos próximos 10 anos, mais 20 milhões de europeus alcançarão a idade da aposentadoria, que precisarão ser sustentados pelos novos contribuintes. A sobrevivência confortável da próxima geração de inativos passará, portanto, pela urgente integração dos imigrantes aos sistemas formais de emprego.

Se não, portanto, por questões humanitárias, mas também por motivos práticos e pragmáticos, a Europa inevitavelmente terá de voltar seus olhos, com urgência, para o drama de sua população imigrante – que hoje já corresponde, em média, a cerca de 15% da força de trabalho dos países que integram a União Européia. Cabe hoje à Europa se precaver desse futuro sombrio promovendo a integração e o reforço de suas políticas sociais. Caso contrário as ruas de Paris e de outras metrópoles voltarão a tremer. Será apenas uma questão de tempo.

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