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Eurídice Ferreira de Mello, mais conhecida como Dona Lindu, a mãe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, furou o anonimato de uma vida humilde e heróica e conquistou a popularidade pela constância com que é lembrada nos improvisos do filho ilustre, especialmente desde que antecipou a campanha como candidato à reeleição para escapar pela tangente da enxurrada de lama que escorre das denúncias das CPIs dos Correios e do Mensalão, chega às portas do Palácio do Planalto e respinga em seu gabinete, ultimamente tão pouco e mal freqüentado.

Do pai, o presidente pouco fala. Nos assomos de entusiasmo, quando cunha as frases para o consumo do povão, resgatou o pai do esquecimento uma única vez, para juntar os genitores no reforço a ênfase: "Eu sou filho de pai e mãe analfabetos, o único legado que eles me deixaram é andar de cabeça erguida, não vai ser a elite que vai fazer eu baixar a cabeça".

Não se trata portanto, de bisbilhotice buscar entender as razões da diferença de tratamento entre os genitores pois, tudo o que possa ajudar a entender e decifrar o temperamento presidencial é da maior importância para o país mergulhado em frustração e perplexidade.

Desafio de fácil solução: os depoimentos de Lula, dos irmãos, de dona Marisa desfilam pelas 527 páginas do livro Lula, O filho do Brasil, da jornalista, escritora e petista de carteirinha Denise Paraná, lançamento da Editora Fundação Perseu Abramo. Durante horas, em dias, meses os entrevistados responderam a perguntas ou falaram livremente, sem reservas e restrições. Desse tesouro selecionei algumas gemas. Ressalve-se que Dona Lindu é uma unanimidade consagrada nos louvores de toda família, como extraordinária lutadora, que conseguiu criar a penca de oito filhos em meios às mais terríveis dificuldades.

Já o pai, Aristides Inácio da Silva, sofre o castigo de linchamento de Judas em sábado de Aleluia. A começar por Lula, nascido em Garanhuns (PE), em 27 de outubro de 1945, duas semanas depois de o pai ter viajado para São Paulo com a amante de 15 anos, a prima Mocinha, que engravidara e com quem teve um punhado de filhos e depois abandonou.

"Eu tenho mágoa do meu pai porque acho que ele era muito ignorante" – Lula entra de sola. "Meu pai era um poço de ignorância". Conta: "Um dia, em 1952, a minha irmã tinha uns três anos, eu via meu pai comendo um pão e minha irmã pedindo um pedacinho. Meu pai ia pegando os pedacinhos de pão e dava para os cachorros. Ele não dava para ela".

Aristides gostava de pescar e tinha uma chata que guardava na lagoa. Lá um dia, seu amigo de pescarias avisou que a chata fora roubada. O filho presidente desfia o resto: "Aí meu pai chegou em casa de noite, pegou a mangueira, pegou o Frei Chico – o coitadinho estava trocando roupa, para ir para a escola – e deu-lhe uma surra! Mas, deu-lhe uma surra!... Acho que ele tinha uns 10 ou 11 anos. O coitado urinava nas calças de tanto que apanhava".

Outro flagrante: "Minha irmã mais velha, Marinete, tinha um namorado, que é o marido dela hoje. Ela pulava a janela para namorar. E um dia meu pai soube e deu um soco na testa dela que afundou a testa".

Mais um exemplo: "Na verdade meu pai não queria que ninguém estudasse. Ele só queria que a gente trabalhasse".

O irmão de Lula, José Ferreira Mello, conhecido pelo apelido de Frei Chico, tem muito o que contar: "Quando chegamos em Santos e meu pai dormia com as duas mulheres, meu pai engravidou minha mãe. Ela teve um casal de gêmeos. Ela quase morreu, as duas crianças morreram."

A irmã Marinete Leite Cerqueira recupera amargas lembranças: "Depois, acho que de quatro anos (da ida para São Paulo com a segunda mulher) ele voltou lá com ela e com os dois filhos. Você acredita que ele voltou lá, deixou os dois filhos e a amante em Garanhuns, foi para a minha casa e minha mãe ficou grávida da minha irmã? Ficou grávida da Ruth. Não dá para acreditar nisso. A minha mãe ficou grávida e ele veio embora outra vez!".

A mana Maria Ferreira Moreno foi a irmã que mais conviveu com Lula. Bate firme: "Meu pai era um verdadeiro cavalo. Ele não era gente, sabe? Ele não era um ser humano. O Vavá foi um que apanhou muito dele. Ele judiava do Ziza... Eles tinham que carregar água para essa mulher dele... Tinha que levar na areia quente."

Outra: "Meu pai judiou tanto do Rubens (filho com a segunda mulher) que ele chegou a fazer o menino comer um quilo de farinha sem água." Mais: "Ele batia no Rubens que deixava marcas nas costas. Mas meu pai bateu tanto naquele menino que ele tem marcas nas costas até hoje. Quando o Zé foi buscar o Rubens lá em Santos ele veio com as costas em feridas de tanto que apanhava". Seu Aristides morreu em hospital público e foi enterrado como indigente. A família só foi avisada dez dias depois. Pelos depoimentos dos filhos, não deixou saudades. E lembranças só nos discursos eleitorais do filho na campanha pela reeleição.

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