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Saravá. Findou-se agosto e desta vez não ocorreu nenhuma tragédia de vulto, como no passado, convulsionando o ambiente nacional. É verdade que a proximidade desse mês desperta os piores presságios para a nossa vida política.

O termômetro gregoriano indicava que havia potencial para que, nos 31 dias desse mês, pudesse se materializar um desfecho significativo no âmbito das CPIs, que vão desnudando as maracutaias do financiamento de campanhas políticas e a obtenção de aliados para formatar e dar consistência à maioria governamental, mediante a compra de votos de parlamentares disponíveis a operações mercantis, realizadas em recintos impróprios, por protagonistas inidôneos, com recursos escusos.

Os depoimentos dos implicados, em rotina desavergonhada, revelaram bacanais de cinismo, mentira, falsidade, inclusive literal orgia coordenada por cafetina, a clamar por purificação, em ritual de exorcismo a expurgar os possuídos pela corrupção na vida política nacional.

Não é hora de sacrifícios, tipo cortar na própria carne. O tempo pede justiça. Dar a cada um o que merece, pelo seu comportamento. Os corruptos serem submetidos às sanções correspondentes às suas ações e omissões desonrosas.

Nesse cenário triste e vergonhoso, o presidente Lula da Silva segue no pula-pula aviatório, a pousar em inaugurações paroquiais e eventos onde haja microfones para sua oratória exemplar de líder popular em campanha.

Trata a crise como se ela lhe fosse externa e solteira, preservados ele e o Palácio do Planalto, transformados seus mármores e granitos em torre de marfim, inexpugnável aos escândalos e incompetências. Há uma ilusão presidencial de que a política econômica direitista, que garante privilégios para a turma de cima, do andar e do hemisfério norte, ficará intocável a assegurar boa-vida para as multinacionais, as empresas privatizadas, os especuladores do nosso mercado acionário e cambial, os exportadores, os rentistas da dívida pública, as instituições financeiras e o FMI. As apurações em avalanche inexorável, realizadas no palco das CPIs, vão desnudar as operações efetuadas em Campina Grande, Ribeirão Preto, Londrina, Santo André e fundos de pensão. Os alicerces das políticas, estabelecidos pelos Ministérios da Fazenda e Planejamento, podem se contaminar pelos cupins localizados nesses locais tempos atrás, que não foram exterminados e que vão sendo descobertos, na sua ação destruidora da moralidade e da ética, e dos patrimônios e fortunas obtidos ilicitamente.

O presidente Lula da Silva foi notável porta-bandeira da ética e moralidade na condução da coisa pública e na mudança da realidade nacional. A missão que lhe foi atribuída por quase 53 milhões de brasileiros lhe exige grandeza para avaliar a circunstância em que está inserido, pelas ações e omissões do seu governo.

Essa, a opção que se lhe impõe. A decisão entre a miséria e a grandeza. Para que corresponda ao mandato e à missão que lhe foram conferidos pelo povo, torço pela grandeza de sua conduta.

Osíris de Azevedo Lopes Filho é advogado, professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário da Receita Federal.

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