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Nesta semana rememoramos os 100 anos da morte do militar pernambucano João Gualberto Gomes de Sá Filho (11/10/1874-22/10/1912), um dos mais importantes heróis paranaenses. Por incrível que pareça, o alferes João Gualberto veio parar em Curitiba devido a uma punição disciplinar. Em 1895, durante um ato público ocorrido na Escola Militar da Praia Vermelha, gritou um "viva" a Floriano Peixoto, o que então parecia impróprio. Expulso da Escola, veio parar aqui. Tempos depois foi anistiado, mas não largou Curitiba.

Na capital paranaense, casou-se com Leonor Pedrosa de Moura Brito, com quem teve sete filhos: Júlia, Julieta, João Gualberto, Xaguana, Cecília, Rosa e Floriano Peixoto. Nesse meio tempo, formou-se engenheiro militar e trabalhou na ligação telegráfica entre Curitiba e Foz do Iguaçu.

Também presidiu a Sociedade Tiro de Guerra Rio Branco, protagonizando um episódio memorável. Em setembro de 1910 comandou-o em uma competição nacional entre todos os tiros de guerra. A chegada dos meninos do Tiro à estação ferroviária; a recepção aos 20 oficiais, 23 corneteiros, 36 músicos, 8 ciclistas e 205 praças pelas suas famílias, depois do primeiro lugar nacional, foi um acontecimento sem precedentes na Curitiba de 40 mil habitantes.

Em agosto de 1912, João Gualberto assumiu o comando do Regimento de Segurança. Estava cotado para ser prefeito de Curitiba, mas o governador o incumbiu dessa mortal tarefa. Seu comando duraria dois meses.

É importante entender seu ideário. Admirava Floriano Peixoto e o Barão do Rio Branco. Floriano, pela simplicidade, nacionalismo e probidade; o Barão, pela genialidade e poder de negociação. Ambos, pela defesa do território nacional. Assim, João Gualberto não podia compreender por que, na disputa com Santa Catarina, o Supremo Tribunal Federal houvera simplesmente desconsiderado a posse imemorial do Paraná (uti possidetis solis) sobre o território contestado. Ela está na origem da consolidação territorial do Brasil e era aceita pacificamente pelo Supremo. A mudança súbita do entendimento levou ao acirramento dos ânimos entre os dois estados.

João Gualberto se inseriu nesse contexto como poucos. Percebeu a questão do Contestado como altamente explosiva. De um lado, a perda de território em uma decisão inusitada. De outro, a instauração de uma monarquia celeste no território do Paraná, em que o falso monge distribuía títulos nobiliárquicos e demarcava território. Além disso, chegou a Curitiba a notícia de que o falso monge era Miguel Lucena de Boaventura, desertor do Regimento de Segurança. Contra ele pesava um mandado de prisão pelo estupro de uma menina.

É pueril achar que o falso monge melhoraria a vida da população pobre da região. Começara com a manipulação violenta da miséria da população e acabaria com mais violência. Daí a decisão de trazê-lo amarrado para Curitiba. É lógico que João Gualberto poderia ter apostado na acomodação – estilo muito ao gosto dos brasileiros – sem intervir energicamente. Os resultados teriam sido outros, mas esse não era o seu estilo. Matou o falso monge e foi morto por seus seguidores. Com alto custo, cumpriu sua missão.

João Gualberto defendeu a integridade territorial do Paraná. E como o Paraná precisa de defensores! João Gualberto foi um deles, ao seu modo. Vamos comemorá-lo.

João Gualberto de Sá Scheffer é médico e professor universitário; João Gualberto Garcez Ramos é procurador da República e professor universitário.

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