Uma polêmica vem chamando a atenção nos últimos dias nas cidades de Curitiba e de São Paulo e diz respeito às multas aplicadas no trânsito. Por aqui, a questão decorre de decisão da Justiça que entendeu não ter a Urbs competência legal para aplicar multa pelo fato de ser uma sociedade de economia mista. Não bastasse isso, novo entendimento judicial mandou a empresa ligada à prefeitura curitibana devolver o valor pago em multas que foram aplicadas nos últimos cinco anos. Passível de recurso, a determinação judicial promete ainda muitos desdobramentos.

CARREGANDO :)

Na capital paulista a questão derivada do trânsito é outra: em quatro anos, as multas aplicadas aos motoristas irão mais que duplicar, passando de R$ 386,1 milhões, em 2008, para R$ 832,4 milhões, até o fim de 2012. Entre as explicações imediatas para a explosão de penalidades aos condutores paulistanos estão o aumento do poder de fiscalização pelo uso de equipamentos e o crescimento descomunal da frota de veículos. Justificativas cabíveis, sem dúvida, mas que não resolvem o problema, que carece de soluções mais eficazes.

Além disso, os dois casos remetem à constatação de que a preocupação primeira dos organismos imbuídos de cuidar do trânsito parece ser mesmo a de multar os motoristas infratores. Em outras palavras, seria uma opção de prática educativa que dói no bolso, o que para alguns é a única que o brasileiro entende. A aplicação de multas e a perda de pontos na carteira de habilitação como formas de punição aos maus motoristas são defensáveis, mas mostram-se claramente insuficientes para resolver a questão do crescimento das irregularidades cometidas ao volante. A começar pelo crescente número de vítimas contabilizado diariamente no trânsito e que pelas estimativas oscilam de 35 mil a 50 mil mortes por ano, a um custo anual de R$ 105 milhões. Como acabar com essa verdadeira tragédia diária que se verifica nas ruas e rodovias do país é a grande indagação que se faz. E aí, o recurso à multa claramente não é o caminho, ainda que os órgãos de trânsito tenham aperfeiçoado seu arsenal punitivo com apoio da tecnologia que faz de cada esquina uma máquina arrecadadora em potencial.

Publicidade

Apesar dos problemas crônicos existentes, o caos do trânsito não é um mal apenas do Brasil. Diante da sua dimensão mundial, a ONU estabeleceu de 2011 a 2020 a "Década de Ação pela Segurança Viária". O objetivo é o comprometimento dos países signatários em reduzir pela metade, ao fim de dez anos, o número de mortes registradas no trânsito. Uma meta ambiciosa que, para obter o sucesso esperado, mais do que mecanismos punitivos será fundamental a conscientização dos motoristas sobre a responsabilidade que cada um deve ter quando ao volante. Campanhas educativas não apenas pontuais, mas de longo prazo, atingindo os atuais e futuros motoristas são fundamentais. Paralelamente a isso, o aperfeiçoamento da legislação vigente, de forma a evitar que os crimes de trânsito acabem na impunidade é outro ponto a ser tratado. Para tanto, são necessárias leis mais eficazes como as existentes nos Estados Unidos e em países da Europa, fazendo com que o responsável por um acidente com morte responda efetivamente pelo ato cometido. Sem esse elenco de medidas, o que se vislumbra é a continuidade da "indústria da multa", que reforça os cofres públicos sem garantir um trânsito ordenado e pacífico.