Com mais de 65 anos de história, o Hospital Universitário Cajuru - referência no atendimento em traumas e transplante renal - coleciona histórias de transformação. Foram mais de 1 milhão de pacientes que passaram pela instituição que integra a rede filantrópica de saúde do Paraná, com atendimento 100% via Sistema Único de Saúde (SUS).
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O hospital foi fundado na capital paranaense em 1958, com 5,9 mil metros quadrados, pertencendo à União dos Ferroviários. Desde 1977, o hospital pertence ao Grupo Marista e foi expandido para uma área de 17,9 mil metros quadrados, com 1,5 mil profissionais de diversas áreas, incluindo 242 médicos, 156 residentes médicos, 101 enfermeiros e 434 técnicos de enfermagem.
O crescimento da instituição se deve também à interligação entre a formação acadêmica e a prática clínica. “Não formamos somente alunos de medicina, fisioterapia, enfermagem e psicologia. A gente é um grande formador de mão de obra qualificada, de residência, que é quando o médico se forma e depois busca se especializar”, evidencia o médico intensivista e diretor-geral do Hospital Universitário Cajuru e do Hospital São Marcelino Champagnat, Juliano Gasparetto.
Há 15 anos na instituição, Gasparetto comenta que o hospital tem uma dupla missão em formar acadêmicos e profissionais especializados em alta complexidade. “Vem gente do Brasil inteiro se especializar. Temos em torno de mil estudantes de graduação que passam pelo hospital e de 150 a 180 médicos que passam por ano para se especializar em procedimentos de alta complexidade”, explica.
Cajuru foi o primeiro hospital pronto-socorro do Paraná
Desde a fundação com a prestação de serviços em múltiplas especialidades, o Hospital Universitário Cajuru se tornou referência em traumas. Em 1977, o Cajuru foi o primeiro e maior hospital pronto-socorro do Paraná, com especializações em procedimentos cirúrgicos nas áreas de cirurgia geral e de trauma, cirurgia ortopédica e neurológica. Segundo a instituição, ainda é o maior pronto-socorro 100% SUS do Paraná.
Como a instituição pertenceu à União dos Ferroviários, o médico intensivista Gasparetto lembra que, na década de 1970, o hospital prestava atendimento recorrente a vítimas de acidentes que ocorriam na linha férrea. Além disso, o hospital está próximo ao entrocamento da BR-277 e da BR-476, facilitando o encaminhamento de pacientes envolvidos em acidentes de trânsito para receber atendimento.
Pela frequência e experiência no atendimento de traumas, o hospital tem uma vocação para casos de alta complexidade. A instituição foi credenciada pelo Ministério da Saúde como Unidade de Alta Complexidade em Ortopedia, Traumatologia e Unidade de Transplante Renal, em 2006. No mesmo ano, o hospital foi recomendado pelos gestores estadual e municipal de saúde como Serviço de Alta Complexidade em Cirurgia Vascular e Centro de Referência em Alta Complexidade Neurológica e Neurocirúrgica, incluindo procedimentos de investigação e cirurgia da epilepsia.
Em média, o Hospital Cajuru realiza 147 mil atendimentos por ano, incluindo internações, atendimentos de emergência, cirurgias e consultas ambulatoriais. Em 2023, 28,8 mil pacientes chegaram pelo pronto-socorro, sendo 13,1 mil deles de atendimentos ortopédicos. Já no centro cirúrgico do Hospital Universitário Cajuru, mais de 13,6 mil pacientes passaram por procedimentos das mais diversas especialidades.
Com o passar dos anos, o perfil do paciente começou a mudar, segundo o diretor-geral. “Com um envelhecimento da população, as pessoas começam a ter hipertensão, diabete, doenças cardiovasculares e AVC. Então, o hospital começou a se adaptar, porque somos um hospital com vocação para urgência e emergência, mas também abrindo para outros serviços”.
Ao longo do último ano, 51 transplantes renais foram feitos na instituição. O Hospital Universitário Cajuru presta atendimento para pacientes com doenças crônico-degenerativas, urgência e emergência em cardiologia, transplante renais e atendimento cardiovascular. “Mas ainda nossa primeira linha de cuidado é atendimento de traumas, sendo de 50 a 55% do total”, acrescenta o médico.
Hospital Cajuru faz parte das instituições filantrópicas de saúde do Paraná
O Hospital Universitário Cajuru faz parte das 147 instituições filantrópicas de saúde do Paraná. De acordo com a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), os hospitais filantrópicos e santas casas disponibilizam 13.728 leitos no estado e 1.837 leitos de UTI.
Somente em dezembro de 2023, essas instituições foram responsáveis por 58% das internações no SUS. Das cirurgias realizadas, a porcentagem chega a 57% e internações em alta complexidade a 63%. No mesmo período analisado, os hospitais filantrópicos do Paraná foram responsáveis por 64% dos atendimentos em oncologia e 69% em cardiologia, de acordo com a Femipa, com informações do Datasus.
O médico Juliano Gasparetto, evidencia a importância dessas redes filantrópicas para o fortalecimento da saúde do Paraná. “O SUS está de pé porque tem as instituições filantrópicas, que atendem 60% de toda a alta complexidade. A filantropia tem as desonerações, mas é revertido para o cidadão. É uma relação direta de recursos. Por isso, são eficientes. Sem elas, o SUS não existe”.
“As instituições filantrópicas garantem um atendimento de qualidade rápido no SUS, com total transparência e prestação de contas”, complementa o médico.
Colecionando histórias: Hospital Cajuru avança no estudo de transplante de microbiota fecal
Com mais de 65 anos, o hospital filantrópico vem colecionando avanços na medicina. Um dos estudos é o transplante de microbiota fecal, alternativa para quando os antibióticos não são suficientes para combater infecções no trato intestinal. O procedimento é realizado por endoscopia ou colonoscopia, e transfere bactérias intestinais de um doador saudável para uma pessoa doente.
O primeiro relato desse procedimento foi feito em 1958. No Brasil, esse avanço na medicina chegou somente em 2013. Contudo, o estudo de transplante de microbiota fecal ainda não é muito difundido no país. Por conta disso, o hospital, juntamente com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), começou um estudo experimental em 2018. Após dois anos, foram feitos estudos clínicos e o primeiro transplante para confirmar a eficácia.
Segundo o infectologista e coordenador do programa de gerenciamento do uso de antimicrobianos do Hospital Universitário Cajuru, Felipe Tuon, a eficácia do transplante foi de 90%. Nos Estados Unidos e na Europa, esse é um procedimento comum nos hospitais. Para impulsionar o avanço desse estudo no Brasil foi implementado um banco de fezes na PUCPR, em parceria com o hospital.
“Temos doadores fixos, pessoas saudáveis, que são submetidas a avaliação médica regulamente. Fazemos avaliação descartando qualquer bactéria e doença. Fazemos um exame molecular que detecta todas as bactérias do intestino”, destaca Tuon.
O hospital fez mais de 50 transplantes de microbiota fecal. Os médicos têm analisado a eficácia para realizar o procedimento antes de fazer o uso de antibiótico. “É uma satisfação investir nesse tipo de projeto. Um banco que está fazendo pesquisa e pretende trazer um produto para estar disponível em todos os hospitais do Brasil. Estamos fazendo essa pesquisa para consolidar o produto desenvolvido que tem uma tecnologia aprimorada e o objetivo da pesquisa é fazer uma validação do método e da eficácia. Terminando essa pesquisa, assim que a Anvisa se posicionar, estará disponível para toda a população”, ressalta o médico infectologista.
De paciente a voluntário
Ao longo das décadas, o Hospital Cajuru também colecionou transformação de vidas com diversos pacientes. Uma dessas pessoas que faz parte da história do hospital é o educador físico José Ribeiro Filho. Por conta de um acidente de trânsito, ele descobriu uma lesão na coluna e precisou de uma cirurgia no Cajuru. “Como paciente, eu tive o melhor atendimento. Vim para o hospital em 2017 e fiquei internado durante quatro dias”, conta.
Durante esse período, ele conheceu a equipe de voluntários do hospital. Como uma forma de ajudar o próximo e de retribuir o que a instituição fez por ele, Ribeiro Filho se tornou voluntário do hospital. Ele ajuda a conduzir macas, faz visitas para os pacientes que não têm acompanhantes e aborda sobre qualidade de vida aos colaboradores.
“O voluntariado mudou a minha vida. É muito pouco o que faço perante tudo que fizeram por mim. O hospital muda a vida do paciente e do voluntário. São inúmeras histórias de pacientes que ficaram encantados com o que o hospital faz e com o acolhimento”, compartilha ele.
De capela ao palco: "cada leito tem uma história", diz médico do hospital
O Hospital Cajuru virou até lugar para celebração de casamento, no ano de 2017. A capela do hospital foi o local que Luiz Carlos Hemeniuk e Lourdes de Lima Loures formalizaram a união. Hemeniuk estava com câncer no pâncreas e tinha poucos dias de vida, mas queria realizar o sonho de se casar. “Eles tinham filhos, mas nunca haviam oficializado. Então, montamos uma UTI na capela e um padre foi realizar a cerimônia. A equipe inteira do hospital fez um casamento, foi um momento que impactou bastante”, relembra o médico intensivista Juliano Gasparetto.
O hospital também foi palco para um show realizado pelo paciente Maurício Stemberg, de 55 anos, no ano passado. Saindo do tradicional silêncio do centro cirúrgico, o paciente ficou acordado durante parte da cirurgia para retirada de tumor cerebral e aproveitou para cantar e tocar violão.
A complexidade do tumor estava em uma área do cérebro ligada diretamente aos mecanismos da linguagem. Como o paciente trabalha com música diariamente, Stemberg sugeriu permanecer acordado em parte da cirurgia para garantir que partes importantes do cérebro não fossem afetadas. “A maneira como o médico me atendeu foi incrível”, conta o paciente.
“O médico foi muito humano e sensível. O médico descobriu [que o paciente é produtor musical]. Então, o Maurício se ofereceu para cantar e tocar. O doutor deixou e tratou ele com muito carinho, foi muito bonito”, relembra a esposa do paciente, Sonia Stemberg.
O diretor-geral do Hospital Universitário Cajuru e do Hospital São Marcelino Champagnat evidencia que a instituição busca manter um olhar humanizado para cada paciente. “Quando ainda ninguém falava em humanização, em 2012 e 2013, o hospital de pronto-socorro, mesmo com todos os estigmas, já tinha esse olhar carinhoso para as histórias. Cada leito tem uma história”, destaca Gasparetto.
Confira abaixo um trecho da cirurgia de Maurício Stemberg:
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