O comandante Stenghel, à direita, acompanhado do filho, fotógrafo Zig Koch| Foto: Arquivo da família
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Antônio Pedro Stenghel Cavalcanti, conhecido como Comandante Stenghel no trabalho e como Tôto entre os familiares, gostava de ver as nuvens de cima. Foi piloto comercial durante a maior parte da vida e na juventude se voluntariou para servir à Segunda Guerra Mundial. Antes de tudo isso, conquistava as alturas com os pés na terra. Foi o primeiro, junto com um amigo, a subir a Serra da Prata, em 1944, um tempo em que o marumbinismo também era jovem. Antônio morreu aos 96 anos no dia 19 de março, por falência múltipla de órgãos.

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Tomazina (PR) foi apenas o local onde ele nasceu por causa do trabalho do pai, que construía estradas de ferro. Cresceu em Curitiba, em uma casa pequena cercada por outras onde hoje se localiza o prédio da Copel, no Batel. Na infância, ganhou o apelido de “padre” por ser bastante quieto e tímido, características que permaneceram com ele durante toda a vida. “Era extremamente discreto, se você não ficasse puxando, ele não falava. Era uma pessoa de poucas palavras, mas quando falava era muito preciso no que dizia”, relata o filho, o fotógrafo Zig Koch.

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Disputava a competição "conquista das montanhas"

Foi de “padre” a “canguru”, pois descia as montanhas saltando. Havia uma competição saudável na época de quem subia primeiro cada montanha paranaense, já que quase todas eram virgens, e Antônio se empenhou para ser um dos conquistadores. O processo contava com uma série de desafios que não existem mais hoje, como o difícil acesso à base das montanhas e a falta de equipamentos adequados. “Era tudo de algodão, couro e vidro. A pessoa ficava confortável quando criava calo no lugar”, conta Zig.

Apesar dos protestos do irmão mais velho, o médico Manoel, Antônio se tornou piloto quando a aviação contemporânea engatinhava, antes do grande impulsionamento gerado pela Segunda Guerra. No aeroclube local, surgiu a possibilidade de receber treinamento nos Estados Unidos para atuar na guerra. Antônio, por falar inglês, foi selecionado e partiu para a aventura. A bordo do hidroavião Catalina, desenvolvido para o combate com funções de carga e reconhecimento, sua missão era patrulhar a costa do país para evitar invasões. Estava sendo treinado para ir ao front no Pacífico. Porém, semanas antes de terminar o treinamento, a guerra acabou e Antônio retornou ao Brasil.

Longevidade como comandante em grandes companhias aéreas

Fez táxi-aéreo e em seguida passou a trabalhar em companhias como a Real Transportes Aéreos, Panair e Varig, na qual se aposentou décadas mais tarde, aos 65 anos. Em suas rotas mais utilizadas, percorria o interior do Paraná, de Curitiba a Foz do Iguaçu e a Londrina, ou até o Norte do país. O nível de exigência da profissão é alto, e Antônio fazia testes físicos a cada seis meses para prosseguir pilotando. Para ele, isso era apenas uma parte do objetivo maior: voar sempre, sua grande paixão.

Viu de cima um Paraná que não existe mais. Contava de quando pilotava teco-teco nos anos 1940, guiado por bússola, mapa e pelo curso dos rios, de pensar consigo “Se der uma pane no motor vou ter que pousar na copa das árvores, porque não tem campo livre para pousar”, tamanha a imensidão da floresta. Ficou impressionado com o depois, em como o verde desaparecera na maior parte dos locais. Aposentado como piloto comercial, deu aulas na Escola Paranaense de Aviação, pilotou aviões particulares e ultraleves até parar completamente de voar, com cerca de 70 anos. Zig acredita que ele foi um dos pilotos mais velhos em atuação na época. “Ele é uma rara pessoa que fez a vida inteira o que quis fazer”, define o filho.

Alguns de seus prazeres no tempo livre era montar roteiros de viagem para a família, ainda sem a facilidade da internet, ter ideias para reformar a casa, exercer a criatividade na pequena oficina que mantinha e organizar grandes encontros com a família em datas especiais, como o Natal.

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Antônio teve um filho e uma filha, esta já falecida. Também deixa a esposa, Tereza Koch Cavalcanti, um neto e uma nora.