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Higienização da passarela que liga o continente à Ilha de Valadares, em Paranaguá.
Higienização da passarela que liga o continente à Ilha de Valadares, em Paranaguá.| Foto: Divulgação/Prefeitura de Paranaguá

Assim que as ações de prevenção ao coronavírus começaram a ser tomadas no Paraná, no início de março, os municípios do Litoral apareceram entre as primeiras regiões preocupadas em conter o avanço da doença. O temor dos prefeitos era que as cidades litorâneas, por receberem grande número de turistas, apresentassem excesso de casos e que o sistema de saúde, mais compactos do que da capital, não suportasse a demanda e, em um cenário mais grave, entrassem em colapso. Passados dois meses desde o início das medidas restritivas, o Litoral está entre as regiões com menos incidências da Covid-19 no estado.

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De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), divulgado nesta terça-feira (12), Guaraqueçaba apresenta um caso de coronavírus: Guaratuba, 4; Matinhos, 2; Morretes, 2; Pontal do Paraná, 3; e Paranaguá, 18 - onde também houve o registro de duas mortes. Não foram registrados casos em Antonina. Isso significa um total de 30 pacientes infectados para uma população total de 290 mil habitantes. Uma nova morte que ainda não entrou no boletim, mas foi confirmada na noite de segunda-feira (11), foi de um morador de Guaraqueçaba. Com isso, são três óbitos no Litoral. Ainda assim, números relativamente baixos se comparados a outras regiões.

O próprio levantamento da Sesa coloca a Regional de Saúde de Paranaguá (que corresponde a todo o Litoral), com um coeficiente de incidência de Covid-19 com estimativa de 101 casos confirmados a cada 1 milhão de habitantes. Isso deixa a região na 12º colocação, entre 23, a maioria delas com menos apelo turístico do que o litoral. Paranavaí lidera a lista com 881 infectados para cada 1 milhão de habitantes.

Um fato interessante é que desde o início do isolamento, houve três feriados prolongados (Sexta-Feira Santa, Tiradentes e Dia do Trabalhador), datas em que os turistas procuram as praias do Litoral, mas que desta vez não estavam abertas ao público.

Bloqueios sanitários e ajuda da população

Os prefeitos do litoral ouvidos pela reportagem foram unânimes em dizer que acreditam que o êxito, até aqui, no enfrentamento ao coronavírus, tem ocorrido por causa das medidas tomadas com muita antecedência – noticiadas pela Gazeta do povo no dia 20 de março – e também pelo fato de a população estar se mostrando consciente.

Roberto Justus, prefeito de Guaratuba, determinou barreiras sanitárias nas entradas do município e chegou a fazer um apelo que chamou a atenção, quando em meados de março foi taxativo ao falar, em um vídeo divulgado nas redes sociais: “não venham para o Litoral”. “Nenhum gestor quer falar para que as pessoas não venham para uma cidade turística, ou mesmo para fechar comércio e Igrejas, mas a população está consciente da importância e tem apoiado as medidas”, disse.

Justus disse que tem trocado experiências com o prefeito Fernando Jordão, de Angra dos Reis, município litorâneo do Rio de Janeiro, e pôde assim ver como as ações paranaenses têm sido eficazes. “Angra dos Reis tem 200 mil habitantes e 200 casos confirmados. Em Guaratuba, são quatro apenas e estamos fazendo controle total e monitoramento rigoroso, então estamos tendo sucesso na prevenção”, detalhou. A cidade conta com cerca de 37 mil habitantes.

Guaratuba tem 21 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), por isso, o controle tem sido rigoroso para que não haja uma situação de vulnerabilidade na saúde.

Toque de recolher e carros de som

Outro município que chegou a bloquear as entradas foi Matinhos. O prefeito Ruy Hauer assinou, ao longo do período de quarentena, 14 decretos com várias medidas restritivas, entre elas uma determinando o toque de recolher das 22 h às 6 h, para auxiliar na diminuição da circulação de pessoas. “Optamos por medidas imediatas. Limitamos a entrada no município, fechamos o comércio - agora estamos reabrindo aos poucos com restrições - e proibimos o acesso às praias. Estamos com muitas ações diárias de conscientização em diversas mídias e carros de som que pedem para que a população fique em casa seguem passando”, detalhou.

O Secretário de Saúde de Matinhos, Claudir Lourenço, contou que há uma comissão permanente para decidir quais são as medidas tomadas, diariamente, no município em relação ao coronavírus. “Temos uma comissão formada por um grupo de profissionais das mais diversas áreas. Todos os dias nos reunimos e deliberamos ações de prevenção e enfrentamento. Estamos nos preparando para qualquer cenário”, falou.

O primeiro caso da doença no Litoral foi registrado em um morador de Matinhos, no dia 30 de março, de acordo com dados do boletim da Sesa. O paciente foi atendido no Hospital Regional em Paranaguá.

Gabinete na Secretaria de Saúde

Marcelo Roque, prefeito de Paranaguá, aponta que o bom resultado conseguido até o momento se deve ao fato de que desde o início da pandemia conseguiu “blindar” a cidade. Roque, inclusive, transferiu o gabinete da Prefeitura para a sede da Secretaria Municipal de Saúde para fazer uma “força-tarefa” em relação ao coronavírus.

“Uma das nossas primeiras atitudes visou justamente o que tem mostrado melhor resultado: o isolamento social. Dos 18 casos registrados até a data de 11 de maio, 5 são importados e 13 por transmissão local. Se não fosse a barreira epidemiológica aplicada em Paranaguá, esses 18 casos já poderiam ter contagiado cerca 54 pessoas considerando que o índice de infestação do vírus é de um para três, e assim em diante, conforme indica a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a transmissão da Covid -19 no Brasil”, explicou.

Paranaguá é o município com mais concentração de habitantes de todo o litoral, com cerca de 154 mil pessoas. O primeiro caso em Paranaguá - uma mulher que retornou de viagem fora do país - aconteceu quase 20 dias depois de o vírus ser confirmado em um paciente no Paraná.

Convidados a darem "meia-volta"

A preocupação do prefeito Ariad Júnior, de Guaraqueçaba, em impedir a entrada do vírus no município não é à toa. "Temos apenas dois respiradores em nosso hospital e não temos aparatos para entubação. Isso abre um alerta, já que cerca de 60% da população está em grupo de risco", enfatizou.

Com menos de dez mil habitantes, a cidade litorânea está fazendo o possível para evitar a Covid-19. Seguindo a vizinha Antonina, Guaraqueçaba também montou barreiras sanitárias rigorosas rodoviárias, na PR-405, e marítimas.

" Tivemos no último feriado tentativas de entrada de turistas ou familiares de moradores. Nossa barreira foi rigorosa e essas pessoas foram convidadas a darem 'meia-volta'. Só passa caminhão para abastecer posto de combustível, produtos alimentícios e de material de construção", disse o prefeito.

Além disso, os moradores não podem sair para comprar em outras cidades e apenas quem tem autorização pode ir a outras cidades para fazer exames ou ter consultas médicas.

Em relação à morte confirmada na noite de segunda-feira (11), o prefeito esclareceu que tratava-se de um morador de 34 anos, que contraiu a doença em um hospital da Região Metropolitana de Curitiba, ao ser internado para tratar de uma doença cardiovascular. Ariad Júnior lamentou o falecimento do homem, muito conhecido em Guaraqueçaba, e esclareceu que o município segue "blindado".

Todos os prefeitos ouvidos explicaram que apesar do sistema de saúde dos municípios estarem sob controle existem medidas preventivas sendo tomadas para caso haja necessidade. Além disso, afirmaram que não há prazo determinado para o fim das determinações de controle em relação ao coronavírus.

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