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Aquecimento na venda de automóveis deve aumentar competição entre concessionárias
Montadoras de veículos estimam que até 110 mil carros podem ser vendidos com incentivo do programa governamental.| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo/Arquivo

O aquecimento no mercado automotivo com a baixa dos preços dos automóveis zero quilômetro tem gerado mais competividade entre as concessionárias. A queda nos preços deve movimentar o setor, que ainda sofria com as consequências da pandemia da Covid-19. Para atrair mais clientes, as empresas apostam na oferta de preços mais atrativos, atrelada ao programa concedido pelo governo, e nos serviços digitais. Apesar disso, especialistas afirmam que a vantagem nos preços nos automóveis não deve se prolongar.

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Em um primeiro momento, o programa de subsídio a montadoras lançado no começo do mês de junho pelo governo reservou R$ 1,5 bilhão, sendo R$ 500 milhões para os automóveis de passeio e R$ 1 bilhão para a troca de ônibus e caminhões. Nesta quarta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que haverá um aumento de R$ 300 milhões. Dessa forma, o programa tem reserva de R$ 1,8 bilhão para incentivar a compra de carros 0 km. Os recursos virão da antecipação em R$ 0,03 da reoneração do diesel que começará em outubro.

Segundo Haddad, a expansão do programa foi necessária para atender à alta demanda vinda de pessoas físicas. "Acumulou uma fila e foi trazida à consideração do presidente Lula. O presidente Lula resolveu atender a fila que se formou até ontem. Então nós vamos estender um pouquinho para atender essa fila". O benefício contempla alguns critérios para gerar o desconto, como fonte de energia, eficiência energética, preço público sugerido e densidade produtiva do veículo.

Embora tenha comemoração por parte do setor automotivo, o impacto não deve se prolongar, explica Guilherme Marques Moura, doutor em Desenvolvimento Econômico e professor de Economia da Universidade Positivo. “O impacto não será a longo prazo. Será uma oportunidade de diminuir os estoques e, de certa forma, é um estímulo, pois pagar menos é sempre melhor. Pessoas que estavam querendo trocar o carro podem aproveitar. Mas não é um estímulo contínuo na economia”.

O economista pontua que parte da indústria automobilística está com grandes estoques de automóveis. Dessa forma, a baixa nos preços reforça a possibilidade de que esses estoques diminuam e que haja permanência de emprego das pessoas que atuam no setor.

Além disso, como há critérios para o desconto, o objetivo é focar no incentivo da produção brasileira. “O montante de desconto depende de quanto energia gasta, do preço e quanto dele é feito no Brasil. A ideia é que, se mais peças forem feitas no Brasil, maior será o desconto. Tudo isso para incentivar a produção no país”, explica o especialista.

Com a baixa nos automóveis, a competividade entre as concessionárias irá aumentar, avalia o economista. Atrairá o cliente quem tiver as melhores propostas. O especialista acrescenta que algumas empresas têm concedido mais desconto, além do programa do governo. Outras têm apostado nos serviços digitais para conquistar o consumidor.

Startup paranaense atua com serviços digitais para concessionárias, tendência impulsionada pela pandemia

A startup paranaense Dealersites atende mais de 1 mil concessionários em todo o país, exclusivamente no setor automotivo, desenvolvendo soluções e sistemas para as concessionárias se digitalizarem. Ou seja, tem como foco melhorar a jornada do cliente online. O meio digital no setor automobilístico foi impulsionado, principalmente, pelas restrições impostas pela pandemia.

“Por muitos anos, a forma de comprar automóveis era a pessoa ir até a concessionária para conhecer o carro e negociar. Quando entrou a pandemia, o modelo que mais funcionava parou de funcionar e veio a necessidade de inovar”, afirma o CEO da empresa, Cesar Cantarella.

Essa necessidade de inovação das concessionárias foi responsável pelo avanço da startup que, somente em 2022, teve um crescimento de 96%. Tem mais de 30% de quota de mercado (market share), sendo considerada líder no setor.

Apesar do desenvolvimento da empresa, o CEO espera que o mercado aqueça mais com a baixa dos preços dos veículos. “Expectativa é o mercado dar uma acelerada e aumentar o volume de venda de automóvel 0 km. O acumulado de vendas desse ano, comparado com o mesmo período do ano passado, está aumentando 7%. Porém, comparando maio do ano passado com este ano, teve uma queda de 8,59%”.

“Expectativa com as quedas de valores é de aumentar a procura por carro e trabalhar com o estoque, ou seja, vender o carro que já está no estoque”, acrescenta Cantarella. Ele diz que um estímulo - como o do governo - ajuda a aumentar a demanda e dá a esperança de que o setor permaneça aquecido.

Mesmo assim, há uma previsão de que a baixa nos preços não dure muito tempo, por conta do valor-limite que o governo estipulou para o programa. Por conta disso, para o CEO da Dealersites, haverá uma competição entre as empresas e, para atrair os consumidores, as concessionárias terão como foco conceder mais descontos ou irão utilizar de ferramentas digitais.

“Há uma disputa nas concessionárias para atrair esses clientes. As concessionárias estão correndo e vai se destacar aquelas com uma estratégia digital, quem consegue identificar e atrair os clientes”, diz.

De acordo com o CEO da Dealersites, mais de 90% da jornada de um cliente que quer comprar um automóvel é online. “Para dar visibilidade, as concessionárias precisam usar das ferramentas que existem no ambiente digital para fazer que uma pessoa que está querendo comprar um carro veja a concessionaria”.

Desse modo, com o setor aquecido, há uma expectativa que o mercado busque investir na digitalização. “Quanto melhor a concessionária está, mais disposta está para fazer novos investimentos”, explica o CEO da Dealersites. Ele afirma que a empresa desenvolve uma esteira de produtos para concessionária estar atualizada digitalmente, influenciando diretamente o consumidor final. “Conforme o maior volume de vendas nas concessionárias, maior o interesse em fazer investimentos em outros produtos nossos”.

“Ainda tem concessionárias que estão para trás no processo de digitalização. Na pandemia, algumas avançaram, mas há muitas que não. E quando o mercado aquece, as concessionárias querem melhorar”, complementa Cantarella.

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