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Fundição de metais.
Fundição de metais.| Foto: Daniel Castellano / SMCS

A areia descartada de fundição de metais (ADF) terá destinação ambiental no Paraná. Sancionada segunda-feira (2) pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), a lei estadual 21.023/2022 define que a ADF deixará de ser depositada em aterros sanitários industriais particulares para ser reciclada na produção de insumos da construção civil. Por ano, as fundições do Paraná produzem 150 mil toneladas desse resíduo. Em todo o Brasil são 3 milhões de toneladas por ano.

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A ADF é a mistura de areia (sílica), bentonita (argila), pó de carvão e água que aquecida a 1.400º C dá origem a moldes que recebem metais na forma líquida que quando resfriados dão origem a peças das mais variadas funções - maquinários, joias, objetos decorativos, etc. Após a fundição de peças que podem ser de ferro, aço, cobre, alumínio e latão, a ADF é desmodelada e o farelo, antes descartado, agora será utilizado no Paraná na produção de concreto asfáltico, artefatos de concreto, tijolos, telhas, artefatos de pavimentação, no assentamento de tubulações, entre outros produtos da construção civil.

Atualmente, o descarte no Paraná se dá em aterros sanitários industriais, o que encarece a produção das fundições com o frete e altas taxas cobradas na destinação desse resíduo para os aterros. No Paraná, o valor médio para as fundições descartarem a ADF em aterros é de R$ 100 a tonelada. Custo que chega a cair para R$ 20 a tonelada na reciclagem na construção civil, equivalendo apenas ao valor do frete.

"Além de ser mais barato para as fundições encaminharem a ADF para reciclagem, esse manejo cumpre a lei de resíduos sólidos que determina o encaminhamento para os aterros apenas do que realmente não pode ser reutilizado", destaca a doutora em química pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em gestão de resíduos sólidos Raquel Luísa Pereira Carnin, que prestou assistência técnica na elaboração do projeto de lei dos deputados estaduais Maria Vitória e Hussein Bakri. "O uso da ADF na construção civil também reduz risco de acidentes ambientais nos aterros, nos quais quem produziu o resíduo também pode ser responsabilizado", complementa a química.

Areia de fundição é reaproveitada há décadas em outros países

O resíduo da fundição é reutilizado em larga escala há cerca de 30 anos na construção civil de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Dinamarca, Japão e Austrália. Em Santa Catarina, a lei estadual já obriga a reutilização de ADF desde o início de 2018.

Raquel cita uma obra em que prestou consultoria em Joinville na qual foram utilizadas 31 toneladas de ADF no lugar de argila para reforçar a estrutura do solo antes de a edificação ser erguida. O valor da argila era de R$ 50 o metro cúbico. Com a ADF, o valor do metro cúbico caiu para apenas R$ 10. Convertidas as unidades, o volume de argila utilizado na obra custaria perto de R$ 4,3 mil, enquanto que com a ADF ficou perto de R$ 877,8. Ela cita ainda a economia de 40% que a Companhia de Águas de Joinville vem obtendo com o uso da ADF no assentamento de tubulações.

Agricultura

A ADF também pode ser usada na agricultura em substituição a alguns tipos de fertilizantes. Isso já é feito nos Estados Unidos e alguns países da Europa.

Segundo Raquel, a areia da fundição é misturada com argila, que é rica em nutrientes para as plantas, em especial na produção de hortaliças e na preparação do solo. Estudo feito em 2020 por Raquel na lavoura de arroz apontou ser possível reduzir gastos usando a proporção de 30% de ADF com 70% de fertilizante.

"Geramos uma economia de 30% na aquisição de fertilizante sem perda na lavoura, sendo que o custo do fertilizante mais em conta na época era de R$ 950 a tonelada", explica a química. Nesse ano, Raquel pretende testar a proporção de 50% ADF e 50% fertilizante, o que pode baratear ainda mais o plantio.

Sobre o risco de a ADF ter resíduos de metais, a química explica que os moldes usados na indústria passam por varredura com eletroíons para capturar quaisquer partículas de metais que sobrem. Portanto, não há risco de haver resíduo de metal tanto no extrato encaminhado para a construção civil, como para a agricultura.

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