Com um notebook e uma caixa com 448 componentes eletrônicos como motores, sensores e microprocessadores, alunos da rede estadual do Paraná aproveitam o contraturno escolar duas vezes por semana para preparar carrinhos elétricos, braços robóticos e até produzir sistemas de semáforo e de irrigação automatizada. “São as aulas de robótica”, conta a estudante Eloyse de Araújo Borguezani, do Colégio Padre Cláudio Morelli, em Curitiba.
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De acordo com a jovem de 17 anos — que prestará vestibular para engenheira mecatrônica —, os materiais foram entregues à instituição de ensino no segundo semestre de 2021 e estimularam os alunos a resolverem problemas, desenvolverem pensamento lógico e trabalharem em equipe. “Características que considero essenciais para o mercado de trabalho”, afirma a terceiranista.
E esses não são os únicos benefícios da oferta de aulas de robótica nas escolas, segundo o diretor de Tecnologia e Inovação da Seed, Gustavo Garbosa. “O aluno começa a pensar de forma diferente e a ter raciocínio mais rápido, o que também o auxilia nas disciplinas de matemática, física e química”, explica o cientista da computação, ao citar ainda que as aulas incentivam o estudante a seguir carreira em áreas de tecnologia que estão em amplo crescimento no Brasil.
Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), por exemplo, quase 800 mil novas vagas serão criadas no setor tecnológico até 2025, mas 530 mil podem não ser preenchidas devido à falta de profissionais qualificados no país. “Sabendo desse déficit, estamos preparando nossos estudantes para essas oportunidades de trabalho”, aponta Garbosa.
Aposta de 100% da rede atendida com aulas de robótica até 2023
Para isso, a Seed distribuiu quase 2.700 kits de robótica entre 272 escolas da rede e pretende licitar outros 18 mil até o final deste ano para atender 1.800 instituições estaduais que ainda não tiveram acesso ao programa. “Queremos 100% dos nossos colégios participando porque a adesão tem sido gigante”, comemora. “Já são mais de 32 mil alunos inscritos com nível de frequência de mais de 90%, algo fantástico para um curso que não é obrigatório e que ocorre no contraturno”.
Ainda de acordo com ele, isso é resultado da proposta do programa, que visa ensinar linguagem de programação digital, sua execução e a importância que tem na resolução de problemas de forma prática e dinâmica. “A ideia é que os professores incentivem o uso dos componentes mecânicos do kit para a montagem de diversas soluções para demandas de mercado”, explica.
Além disso, os participantes competem em uma olimpíada promovida no final do ano e podem participar de outros concursos, como o Torneio Nacional de Robótica First Lego League (FLL), que aconteceu no Rio de Janeiro, em março. “Minha equipe passou na etapa regional e representou o estado lá”, festeja a aluna Eloyse de Araujo Borguezani, que foi mentora do time durante o desenvolvimento de um robô capaz de reduzir a concentração de gás carbônico dentro de naves espaciais.
Na função, a estudante ajuda colegas na elaboração de projetos como esse e na preparação para os torneios, o que lhe rendeu outro prêmio por conta da dedicação: uma vaga para um intercâmbio nos Estados Unidos promovido pela Embaixada norte-americana.
Ao todo, 50 alunos da rede pública no Brasil foram selecionados para a viagem devido à atuação em projetos científicos no país. “Fiquei muito feliz por ter sido escolhida e agora estou ansiosa pelo intercâmbio, que começa no fim do mês”, adianta a jovem, ao garantir que as aulas de robótica preparam os alunos para o futuro no mercado de trabalho.
Outros projetos
E esse preparo pode ser ainda mais intenso para estudantes do primeiro ano do Ensino Médio. De acordo com o diretor de Tecnologia e Inovação da Seed, Gustavo Garbosa, além da oportunidade de aprenderem robótica no contraturno, eles têm a disciplina de Pensamento Computacional na grade curricular obrigatória. “Algo que foi implantado no início deste ano”, informa.
A novidade tem o objetivo de estimular a reflexão crítica e o uso ético das tecnologias digitais, “além de oferecer dentro da disciplina um pouco de programação”, comenta o diretor. “Lembrando que esse aprendizado pode ser intensificado por meio de outro curso oferecido no contraturno para estudantes de todo o Ensino Médio: o Edutech”, informa.
Segundo Garbosa, as aulas específicas de programação são realizadas de forma online por meio de videochamadas semanais com os professores, com a participação de 130 mil estudantes. “Alguns até conseguiram estágio por conta do aprendizado nessas aulas”.
A aluna Gabrielli de Lourdes Garcia está entre eles. Assim que ficou sabendo da novidade disponibilizada no Colégio Estadual Cívico Militar Senhorinha de Moraes Sarmento, em Curitiba, a garota de 16 anos decidiu participar e se destacou na turma. “Aprendi muito, participei de desafios que nos apresentavam e até ganhei medalha”, comemora a jovem, que aproveitou todo o conhecimento adquirido para concorrer a uma vaga de estágio na área de programação, e foi aceita. “Estou muito feliz!”, conta.
Incentivo do governo estadual
O objetivo do governo estadual é que oportunidades como essa alcancem outros milhares de estudantes. A abertura de novas vagas de estágio tem sido incentivada desde novembro de 2021 por meio do programa Cartão Futuro, que deve beneficiar 35 mil aprendizes entre 14 e 21 anos.
A ação tem investimento de R$ 57,8 milhões e incentiva a contratação de aprendizes por meio de um subsídio mensal de R$ 300 por jovem contratado. O programa é uma parceria do Governo do Paraná com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e Adolescente (Cedca) e pretende garantir o direito à primeira oportunidade de trabalho para jovens e adolescentes como Gabrielli. “Afinal, para ingressarmos no mercado de trabalho futuramente, essa experiência será essencial”, avalia a jovem.
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