Números de violência contra crianças e adolescentes aumentam no Paraná.| Foto: Elza Fiúza/ Agência Brasil
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Os últimos dados, apresentados pelo Comitê Protetivo do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), revelaram a realidade preocupante dos números da violência contra crianças e adolescentes no Estado. Apenas entre os meses de janeiro e março de 2021, a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (SESP-PR) registrou 2.773 casos de lesão corporal, ameaças e estupro de vulneráveis.

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Segundo o Comitê Protetivo, esses números estão subestimados. Com crianças e adolescentes fora do ambiente escolar, a situação piora. De acordo a juíza Noeli Salete Tavares Reback, coordenadora estadual do Comitê da Infância e da Juventude do TJ-PR, a escola é um dos locais onde mais facilmente são identificados os sinais de violência contra menores.

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“O dano psicológico se soma ao dano pedagógico. No ambiente escolar, os pedagogos e professores são pessoas capacitadas para identificar sinais que não são percebidos a primeira vista. A criança que sofre violência, na maioria dos casos, sente-se culpada e por isso não procura ajuda. É preciso que a sociedade esteja mais atenta nesse momento de isolamento social. Qualquer indício de violência na vizinhança, no condomínio, ou mesmo na rua, devem ser denunciados e identificados. Com a divulgação desses dados, o que queremos é que as pessoas tenham contato com essa realidade que vem se agravando ao longo da pandemia”, explica a juíza.

No Paraná, os maior número de crimes está concentrado nas maiores cidades. Entre janeiro de 2020 e março de 2021, Curitiba registrou 3.645 casos de violência contra menores e as cidades de Londrina (1.051), Ponta Grossa (902), Cascavel (732), Foz do Iguaçu (730) e Maringá (587) também apresentam números altos de casos.

Violência sexual é o crime mais recorrente

Os casos de violência sexual contra vulneráveis são os mais frequentes no Estado. Em 2020 a quantidade de casos registrados pela SESP-PR chegou a 3829. O levantamento aponta que, em 99% dos casos, esse crime acontece dentro de casa e é praticado por pessoas muito próximas às vítimas.

“A violência sexual é endêmica no Brasil. É preciso atuar na prevenção. As denúncias precisam chegar aos Conselhos Tutelares. Depois de agredidas, essas crianças normalmente não superam os danos psicológicos causados pelo abuso, dura a vida toda”, afirma Noeli.

Suspensão do poder familiar

Ainda de acordo com a juíza Noeli Reback o aumento do número de sentenças que determinam a suspensão ou a destituição do poder familiar depois do início da pandemia chamou a atenção do judiciário. Apenas entre os meses de março a julho de 2020, foram 187 sentenças proferidas.

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“A gente precisa olhar para esses dados de uma forma mais sistêmica. Muitas crianças que, parte do dia, estavam protegidas de suas próprias famílias agora tem que conviver o tempo todo com familiares ou tutores envolvidos com drogas, com problemas de alcoolismo ou desestruturação familiar e isso facilita a prática dos crimes”, afirma Noeli.

“A intenção com a divulgação desses números é alertar as pessoas e incentivar as denúncias. Sabemos que esses números são ainda maiores e precisamos agir coletivamente. Isso representa um grande risco social às gerações futuras”, conclui a juíza.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]