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O Chile reconheceu oficialmente o Paraná como zona livre de febre aftosa sem vacinação e em breve deve importar carne suína dos produtores do estado. A decisão representa um avanço significativo para o agronegócio paranaense, que é o segundo maior produtor de suínos do Brasil — com 12,4 milhões de animais abatidos em 2024, o equivalente a 21,5% de todo o abate nacional.
A novidade foi comemorada pelo setor da suinocultura. “É uma grande conquista para o Paraná. Nós do cooperativismo vemos como um passo importante na direção certa, para conquistar novos mercados e valorizar o que é do estado”, afirma Alexandre Monteiro, analista de desenvolvimento técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).
Embora ainda não existam projeções específicas sobre o crescimento da suinocultura paranaense devido a essa nova parceria, a entrada no mercado chileno é vista como uma oportunidade para aumentar as exportações e diversificar os destinos da carne suína produzida no estado. “Uma vez que o produto vai para exportação, passou por um reconhecimento, está em um patamar diferente. Isso valoriza até internamente, o que reflete no setor produtivo, que deve crescer nos próximos anos. É um passaporte para novos mercados", aponta Nicolle Wilsek, analista do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
A opinião é compartilhada por Marcelo Janene El-Kadre, presidente da Sociedade Rural do Paraná, que acrescenta que a autorização oficial do Chile para a importação de carne suína do Estado é um reconhecimento internacional da excelência sanitária do Brasil. “O status de área livre de febre aftosa conquistado pelo Paraná é resultado de décadas de investimentos, rigor técnico e compromisso dos produtores com as melhores práticas de manejo e biosseguridade. Para os produtores rurais do Paraná, essa liberação significa não apenas acesso a novos mercados como valorização do seu trabalho, geração de empregos, aumento de renda no campo e fortalecimento de toda a cadeia agroindustrial”, defende o ruralista.
O secretário paranaense da Agricultura e do Abastecimento, Marcio Nunes, também comentou a conquista. “Esse é um grande momento para o Paraná, um dos maiores produtores de suínos do Brasil. A decisão deve gerar mais renda aos nossos produtores, mais empregos e, principalmente, reforçar o reconhecimento da qualidade e sanidade dos nossos produtos, agregando valor e abrindo espaço para novos mercados”.
Segundo Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, o aval chileno atendeu a uma antiga reivindicação dos frigoríficos paranaenses. “Este é um pleito muito antigo do estado e, logo as empresas paranaenses deverão estar exportando carne suína para o Chile”, reiterou.
Paraná lidera o crescimento da produção nacional de carne suína
Em 2024, o Paraná também liderou o crescimento da produção nacional, com um aumento de 281,4 mil cabeças em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ranking de exportações de carne suína, o estado ocupa a terceira posição, com 185,5 mil toneladas exportadas, atrás de Santa Catarina (730,7 mil toneladas) e Rio Grande do Sul (289,9 mil toneladas).
O Brasil segue quebrando recordes nas exportações de carne suína, com um crescimento de mais de 18% nos embarques de carne in natura no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. No total, mais de 290 mil toneladas foram exportadas nos três primeiros meses do ano.
Um dado que chama atenção é a redução significativa das compras da China. Antigamente responsável por mais de 50% das exportações brasileiras do setor, o país asiático importou pouco mais de 12 mil toneladas em março de 2025 - praticamente a metade do volume adquirido pelas Filipinas, que agora assume a liderança entre os destinos da carne suína brasileira.
Exportação carne suína – março 2025 (dados da Secretaria de Comércio Exterior)
- Filipinas 24.083 toneladas
- China 12.379 toneladas
- Hong Kong 11.198 toneladas
- Japão 9.776 toneladas
Em termos de receita, a China ficou apenas na quinta colocação em março, sendo superada também por Hong Kong e Japão - este último ocupando a segunda posição no ranking de faturamento do mês. O volume embarcado para a China em março de 2025 foi o menor registrado em um único mês desde fevereiro de 2019, quando foram exportadas 11,9 mil toneladas.
A receita das exportações atingiu US$ 278 milhões em março, um crescimento de 44,2% em relação aos US$ 192,8 milhões registrados no mesmo mês de 2024. No acumulado do primeiro trimestre de 2025, as exportações de carne suína somaram 336,8 mil toneladas, volume 16,4% superior ao dos três primeiros meses do ano anterior, que foi de 289,4 mil toneladas.
Como o Paraná ficou livre da febre aftosa
O reconhecimento internacional teve início em maio de 2021, quando a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) declarou o Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação. A certificação foi resultado de um esforço conjunto entre produtores, cooperativas e órgãos estaduais, que adotaram rigorosos protocolos de biossegurança.
Desde então, as campanhas de vacinação foram substituídas por um sistema de atualização obrigatória dos rebanhos, com rastreabilidade e controle sanitário dos animais.
A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa que afeta animais de casco fendido, como bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Embora os suínos não sejam os principais hospedeiros, eles desempenham um papel importante na disseminação do vírus, pois podem eliminá-lo em grandes quantidades pelo ar e pelas secreções.
Nos porcos, os sinais clínicos mais comuns incluem febre alta, perda de apetite, salivação excessiva, dificuldade para andar e presença de aftas dolorosas nos lábios, focinho, língua e entre os cascos. Essas lesões causam dor e dificultam a locomoção e alimentação dos animais, afetando diretamente seu bem-estar e desempenho zootécnico.
A manutenção do status de zona livre da febre aftosa é uma preocupação contínua. "Durante muitos anos tivemos o controle da doença pelo uso da vacina, até não ter a presença do vírus no rebanho. O risco é a reintrodução da doença. Por isso, a principal medida é manter o fechamento da fronteira de animais vivos para dentro do Paraná, medida de biosseguridade, porque o rebanho está sem proteção vacinal", explica a professora e pesquisadora Ana Maria Bridi, líder do Grupo de Pesquisa e Análise de Carne (GPAC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
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