Em 1985, logo após a redemocratização no Brasil, a prefeitura de Curitiba assistia a uma de suas disputas mais acirradas. Por apenas 19 mil votos (de um total de 500 mil), a capital consagrou o PMDB de Roberto Requião que, naquele ano, bateu o PDT de Jaime Lerner.
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Mas, se em 1985 os ventos sopravam contra Jaime Lerner, quatro anos depois, em 1989, ele venceria a disputa e assumiria o posto mais importante na hierarquia municipal. Não pela primeira vez, mas, sim, pela terceira (já havia sido prefeito de 1971 a 1975 e de 1979 a 1983). A última foi a única, no entanto, por votação direta e não indicação do governador. Dessa vez, apelando ao "coração curitibano", um sentimento de orgulho pela cidade que ele mesmo, anos antes, ajudou a criar.
Os primeiros anos Lerner
A história de Lerner se confunde com sua trajetória profissional. Ele se formou na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde cursou Engenharia e Arquitetura na primeira turma do curso. Era a década de 1960. Foi no ambiente acadêmico que estreitou laços com nomes igualmente talentosos que mais tarde, em 1965, estariam ao seu lado na estruturação do Ippuc – o órgão criado por Ivo Arzua para acompanhar o planejamento urbano da cidade. Seu papel revolucionário no desenho da capital o levou a ser nome forte para comandar a cidade poucos anos depois.
E assim foi. Em 1971, Lerner foi nomeado para o cargo. Talvez por não ter sido submetido ao voto popular, o prefeito implementou medidas controversas para a época, como fechar a Rua XV para os carros. O passeio dos motoristas pela principal via de Curitiba era um dos passatempos curitibanos de uma década antes. Além disso, a gestão Lerner inaugurou o sistema de canaletas exclusivas para os ônibus e implantou o Sistema Integrado de Transporte Coletivo. Em seu início, os ônibus articulados eram descritos como “ônibus assassino” por seus detratores – para uma população desacostumada com as vias exclusivas, os acidentes se tornaram comuns.
Aprovadas pela opinião pública ou não, as mudanças foram vitais para suportar o crescimento da cidade. Na década de 1970, Curitiba já alcançava seus 750 mil habitantes. O sistema de transporte da cidade privilegiava os embarques rápidos, poucas paradas e frequência dos veículos. A partir daí, começou a trabalhar na descentralização de serviços e na mobilidade mais facilitada, criando políticas que privilegiavam pedestres e ciclistas. “Esses termos cheios de adjetivos não me convencem. A resposta para a mobilidade não está na tecnologia. Está em tudo ser perto: lazer, moradia e trabalho”, disse, em entrevista à Gazeta do Povo, em 2017.
Lerner voltaria a comandar a prefeitura uma década depois. No fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, assumiu a cidade com uma campanha focada em resgatar o orgulho curitibano. Algo que, indiscutivelmente, teve um forte componente de suas intervenções nos anos 1970. Graças a muitas de suas mudanças (e, claro, dos que vieram no período entre seus mandatos), Curitiba passou a se destacar no cenário nacional, dando uma sensação de orgulho e pertencimento aos que moravam por aqui.
Em seu terceiro mandato, as inaugurações de parques como o Jardim Botânico e a Ópera de Arame fortaleceram os cartões-postais da cidade. Além disso, o prefeito implementou o programa “Lixo que não é lixo”, quando Curitiba fortaleceu sua marca de “Capital Ecológica”.
Lerner não deixou de lado, no entanto, sua marca arquitetônica. Nos anos 1990, inaugurou a primeira Rua 24 Horas do país. A obra em metal e vidro é, ainda hoje, uma das mais lembradas pelos visitantes de Curitiba.
Governos estaduais polêmicos
Assim como Ney Braga e tantos outros, o prefeito seguiu os passos na política e tentou replicar o sucesso como prefeito no Palácio Iguaçu. Lerner foi eleito duas vezes governador do estado (1995 a 1999 e 1999 a 2003), com gestões altamente contestadas. O ex-governador chegou a ser condenado por improbidade administrativa em 2011, por conta da dispensa em licitação na construção de um trecho da BR-476 e PR-427. Ele, no entanto, reverteu a pena em multa. Ainda hoje ações de seu governo são judicializadas, especialmente envolvendo a concessão do pedágio – seu ato mais lembrado no Executivo estadual.
Em 2002, abandonou, segundo ele em definitivo, a vida como homem público. Hoje, aos 82 anos, parece, de fato mais interessado em estender seu legado urbanístico do que político.
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