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Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram que os preços do arroz e do feijão tiveram queda de dois dígitos nos últimos 12 meses, o que ajudou a segurar, em partes, a inflação dos alimentos. Um cenário que tem relação com a safra robusta desses produtos nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, os principais produtores nacionais de feijão e arroz, respectivamente.
Segundo o IPCA, que é o indicador oficial da inflação no Brasil, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor do arroz acumulou queda de 12,07% entre junho de 2024 e maio de 2025. No caso do feijão carioca, o mais popular no país, o recuo foi de 13,17%, enquanto o preço do feijão preto caiu 23,01%.
No acumulado dos 12 meses, o IPCA chegou a 5,32%, sendo que os itens de alimentação e bebidas ficaram em 7,33%. Dos 16 itens medidos pelo IBGE nessa categoria, somente quatro apresentaram quedas:
- cereais, leguminosas e oleaginosas;
- tubérculos, raízes e legumes;
- hortaliças e verduras;
- e pescados.
A queda dos valores do arroz e do feijão está relacionada a uma grande oferta, maior do que a demanda. Resultado de boas safras recentes desses produtos.
Na safra 2023/2024, foram produzidas 3,1 milhões de toneladas de feijão, sendo que o Paraná colheu 829,9 mil toneladas, mantendo a liderança no país. O arroz, por sua vez, teve uma produção total de 10,6 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70%, mesmo com as enchentes que assolaram o estado em 2024.
Nesse sentido, os dois estados acabaram contribuindo para que a produção expressiva derrubasse o preço do arroz e do feijão e, consequentemente, da alimentação no país. “Tivemos ofertas gigantescas”, analisa o especialista nos mercados de arroz e feijão da consultoria Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
Apesar de já terem sido mais consumidos em tempos recentes, esses alimentos ainda têm participação no prato dos brasileiros. “Em termos gerais, o arroz e o feijão são a base da gastronomia brasileira. São duas culturas que estão na cesta básica e têm um apelo mais social”, complementa.
Arroz e feijão têm pouca saída para o exterior
Os preços mais baixos do arroz e do feijão também encontram explicação no atendimento quase exclusivo do mercado interno, criando estoques significativos, sem tempo de escoar as safras anteriores. Com mais produto estocado, a tendência é de queda nos preços.
Se isso é bom para o consumidor final, pode ser um entrave para os produtores que precisam buscar compradores para não perderem seus produtos, especialmente o feijão, que tem menos saída para o exterior. Mesmo o arroz, que tem um mercado externo mais desenvolvido, não encontra muita facilidade.
“Todos os anos vai sobrando feijão, com safra chegando em momentos em que tem estoque da safra anterior. E isso cria uma dificuldade no escoamento”, explica Oliveira. Por causa dessa disparidade entre produção e estoque, o feijão acabou barateando, notadamente o feijão carioca, que tem ainda mais dificuldade para exportação — o feijão preto ainda consegue chegar a outros mercados.
Além disso, no caso do arroz, há uma concorrência com os países vizinhos Uruguai e Paraguai, que buscam mais liquidez e conseguem escoar mais facilmente o produto para outros países, deixando o Brasil com estoques maiores. “Isso vem acontecendo em todo o Mercosul, com os países buscando o mercado externo. E alguns países acabaram tendo mais sucesso, enquanto o Brasil não conseguiu aproveitar a oportunidade”, destaca o especialista da Safras & Mercado.
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