Fios soltos e ociososo costumam estar relacionados a operadoras menores e até mesmo clandestinas que deixam de prestar o serviço, mas não retiram os fios.| Foto: Divulgação/Copel
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Quem caminha pelas ruas de Curitiba, mesmo em trechos de calçamento e vias restaurados ou requalificados, se frustra ao olhar para cima: é comum ver aquela montoeira de fios “socados” nos postes, muitos deles ociosos, quando não com fios soltos.

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Para mitigar a poluição visual, a Copel e a Prefeitura de Curitiba começaram, na última segunda-feira (15), um trabalho de limpeza nos postes de energia – com organização do cabeamento aéreo e retirada de fios irregulares –, pela Rua Kellers, no centro histórico de Curitiba, o primeiro de 14 endereços que terão ações dos projetos municipais Caminhar Melhor e Rosto da Cidade. Somente nos dois primeiros dias de trabalho, foram retirados, segundo a Copel, 600 quilos de equipamentos e cabos.

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Se para quem observa aquela montoeira de fios o problema parece de fácil solução, um emaranhado tão confuso quanto o dos fios envolve também as responsabilidades sobre a situação. Os postes de energia estão na cidade, mas não são de responsabilidade da prefeitura municipal. São estruturas gerenciadas pela companhia elétrica, que opera o serviço.

Entretanto, pela legislação, a companhia elétrica deve ceder espaços nos postes a um número limitado a quatro, de operadoras de telecomunicações - telefonia, dados móveis e tevê a cabo. E são os fios dessas operadoras que muitas vezes entopem os dutos ou ficam soltos, pendurados no poste e poluindo visualmente a cidade.

Por este motivo, a responsabilidade pela organização e alinhamento dos fios, assim como pela retirada de fios excedentes ou inutilizados não é da companhia elétrica, como explica a Copel, mas sim das empresas de telefonia, tevê a cabo e provedores de internet. “Com a pluralidade cada vez maior de agentes nestes setores, tem sido um desafio conter a poluição visual gerada pelo cabeamento”, explicou a companhia em consulta pela Gazeta do Povo, visto que uma fiscalização constante exigiria muitas equipes continuamente monitorando essas estruturas.

Como esses ativos não pertencem à companhia, também não há como estimar nem qual parcela de fios está ociosa, nem quanto deve ser retirado nessas ações. “Mas boa parte dos problemas que envolvem emaranhados de fios, fios pendurados, caídos e até amarrados em postes e árvores, decorre de instalações feitas por empresas de telefonia e provedores de internet que com o tempo têm o desligamento dos serviços solicitado pelo cliente, mas os fios não são retirados”, explica a Copel. Somam-se a isso muitos fios danificados por vandalismo, que os deixam pendurados, e a ação de provedores de internet clandestinos.

Troca e desligamentos sem retirada multiplica cabos ociosos

Esta situação, que se reflete em postes cada vez mais carregados, foi o que levou a Prefeitura de Curitiba, segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a “tomar à frente para alinhar essa situação, visto que recebemos muitas reclamações dos munícipes”, explicou o órgão, que atribui grande parte do problema não às grandes concessionárias da área de telecom, mas às pequenas, que colocam novos cabos mas não retiram os velhos, e às clandestinas. “Ocorre como nos dutos de energia de uma casa, que muitas vezes está cheio de cabos, inseridos por diversas companhias ao longo do tempo e que se acumulam. Então você pode não ter mais espaço no duto, mas isso não quer dizer que todos os cabos estejam sendo usados, pois muitos estão ociosos ou mesmo cortados, ligando nada a coisa alguma”, explica o Ippuc.

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Durante o alinhamento desta ação que ocorre agora, em meados do ano passado, o gerente da Divisão de Projetos, Fiscalização e Inspeção de Compartilhamento de Estrutura da Copel, Oneil Schlemmer, citou que 90% dos problemas com fiação solta provinham de cabos metálicos antigos e que é recorrente a não retirada de materiais desligados por empreiteiras contratadas por operadoras responsáveis pela instalação de novos pontos. “Não adianta só trocar por um cabo de fibra. Tem que tirar o anterior”, reforçou o gerente na ocasião.

À época, Schlemmer disse que se não houvesse regularização, essas empresas seriam notificadas e teriam prazo para se adequar, com risco de multa pela companhia, de R$ 600 por poste, a qual podem se somar R$ 1,5 mil se a Copel identificar o problema e tiver que dispor de equipe para solucioná-lo, por omissão da empresa notificada.

Operadoras maiores afirmam retirar redes antigas

Segundo a operadora Vivo, consultada pela reportagem, a empresa “acompanha o projeto de retirada de fios promovido pela Copel e a Prefeitura de Curitiba e realiza ações para adequação da sua rede nos locais indicados pelo projeto, além de manter um projeto de expansão de rede de fibra ótica com a retirada de redes metálicas nos pontos modernizados”. A empresa reforça que cumpre a legislação vigente e monitora permanentemente a qualidade e a segurança de sua rede.

A Vivo cita ainda que orienta a população a entrar em contato para informar sobre cabos soltos ou rompidos pelo site da empresa e em seus canais oficiais nas redes sociais.

Já a Ligga Telecom, em nota, "informa que é a única empresa do Paraná que não tem cabos ociosos, soltos ou irregulares nos postes de transmissão".

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Também por meio de mensagem de texto, a TIM afirmou que "atua de forma preventiva, com constantes ações de verificação de sua rede inoperante, para readequações e reordenamento. No último ano, a operadora não precisou fazer a retirada de nenhum cabo sem utilização."

Segundo a Claro, que respondeu à Gazeta do Povo por email, a empresa afirma "que obedece a rígidos padrões de segurança na operação de suas redes e possui uma rotina de manutenção preventiva e preditiva, além de seguir os padrões técnicos da concessionária de energia, responsável pelo aluguel dos postes. A operadora esclarece que quando a Claro é acionada, por rompimento ou a presença de fios soltos, suas equipes técnicas são imediatamente escaladas para atuar e realizar a manutenção necessária no menor tempo possível." A empresa orienta que, para comunicar situações relacionadas, os moradores da cidade devem acessar o site da empresa e se comunicar pelo Fale Conosco.

Inventários de postes problemáticos

Para auxiliar no monitoramento desses postes, desde o começo do ano a Copel está fazendo um inventário dos equipamentos com problemas em diversas cidades. Em Curitiba, esse censo está previsto para acabar em setembro, quando as telecom passarão a ser notificadas sobre cabos irregulares e terá início o corte daqueles que não tenham dono ou não estejam identificados.

“Como algumas empresas não têm cumprido sua obrigação, talvez com cortes recorrentes esse quadro possa ser alterado”, diz a companhia, que criou há quase dois anos uma área específica na companhia para tratar de compartilhamento de cabos.

Fios soltos são feios, mas são risco à segurança?

Os cabos soltos que se veem pela cidade comumente são de telefonia e dados, que não colocam em risco a segurança das pessoas, visto que os de energia ficam bem acima e são mais grossos. Porém, ainda assim, dar de cara com um fio solto causa insegurança e ele não deve ser jamais tocado.

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Em casos críticos, analisados individualmente, a depender da gravidade, de acordo com a Copel, uma equipe de emergência da companhia é deslocada a para proceder a regularização dos cabos. “Quando identificada situação de risco iminente, ainda que se trate de ativos de telecomunicações, a Copel intervém para evitar a ocorrência de acidentes.”

Subterrâneos seriam solução, mas custo impossibilita mudança

O cabeamento subterrâneo, que seria uma solução definitiva para esses casos, é muito caro, então o que existe de cabeamento deste tipo hoje em Curitiba, segundo a Copel e operado por ela, soma cerca de um quilômetro quadrado, localizado no centro da capital.

Este projeto que entrou em operação na segunda-feira prevê, além da limpeza de cabos ociosos ou soltos, que já sejam enterradas as fiações externas em locais com dutos subterrâneos preparados na cidade.

Segundo o Ippuc, apesar da ideia disseminada popularmente de que toda cidade moderna tem muita rede subterrânea, isso não é algo observável. “É caro fazer essa estrutura e mantê-la, então não é comum que muitas áreas de cidades, mesmo em países desenvolvidos, tenham redes enterradas. O que se vê, muitas vezes, é enterrar ou quando há um corredor de transporte em que há acidentes com caminhões, por exemplo, ou quando há pontos turísticos”, dizem.

Além do custo, que envolve não apenas a abertura de buracos, mas a instalação de caixas e equipamentos, esburacar toda a cidade, até mesmo tendo de tirar árvores, torna tudo muito complexo, conforme cita a Copel.

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Sobre a chegada do 5G, um sistema que exige muito mais antenas e cabos de fibra óptica, a Copel informa que ainda não é possível afirmar se esse acúmulo de fios irá aumentar ou diminuir. “Ainda não podemos fazer uma previsão porque ainda nada foi trazido à companhia, mas a empresa irá avaliar quando isso acontecer”, diz a companhia.

Próximas fases do projeto

Nas próximas fases do projeto de limpeza dos postes, com calendário a ser definido pela Copel, entram trechos das ruas Cândido Lopes, Carlos de Carvalho, Riachuelo, Alameda Prudente de Moraes, Voluntários da Pátria, Trajano Reis, Saldanha Marinho, Emiliano Perneta, João Negrão, Barão do Serro Azul, Avenida Cândido de Abreu, Paula Gomes, Marechal Deodoro e as ruas do entorno do Mercado Municipal.

A operação tem apoio da Prefeitura de Curitiba, por intermédio das secretarias municipais de Obras Públicas, do Urbanismo e de Defesa Social e Trânsito.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]