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Vacina da AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz.
Vacina da AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz.| Foto: Américo Antonio/Sesa

A Prefeitura de Londrina foi procurada por pessoas que se disseram representantes da empresa Davati Medical Supply para negociar a venda de doses das vacinas da Covid dos laboratórios Pfizer, Janssen e AstraZeneca. O nome da empresa foi citado na CPI da Covid no Senado durante as investigações de uma suposta oferta de propina na compra de imunizantes.

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A informação foi confirmada à Gazeta do Povo pelo secretário municipal de Gestão Pública, Fábio Cavazotti, em entrevista por telefone nesta segunda-feira (5). Cavazotti, que comanda o setor responsável pelas compras feitas pelo poder público municipal em Londrina, disse que os primeiros contatos foram feitos em março, logo após a entrada em vigor de uma lei federal que passou a permitir que estados e municípios fizessem a aquisição de doses de vacinas por conta própria. Só que alguns detalhes na negociação chamaram a atenção do secretário.

“Havia uma busca mundial por vacina, os maiores laboratórios do mundo produzindo e fechando contratos diretos com os governos nacionais, e uma dificuldade grande de conseguir essas doses. E de repente aparece um atravessador de uma empresa que nunca se ouviu falar e que sequer tinha documentos comprovando que representava de alguma forma os laboratórios. E essa empresa prometeu acesso a grandes quantidades de vacina com entrega rápida. Aquilo parecia pouco crível, não parecia verossímil”, revelou o secretário.

Cavazotti confirma que apesar de desconfiar da abordagem do representante, ainda tentou manter um contato para formalizar a proposta da empresa. Para tanto, o secretário pediu que fosse enviada a documentação que comprovasse a ligação entre a empresa e o laboratório fabricante da vacina. As respostas eram sempre evasivas, relatou o secretário.

“Eles mandavam mensagens recorrentes no meu celular particular perguntando se eu não tinha interesse, se não queria comprar as vacinas. A resposta sempre era a mesma: nós temos total interesse, mas primeiro nos mandem a documentação que comprova que vocês têm autorização para representar o laboratório. Eles insistiam e falavam que havia sido feito contrato com muitas cidades. Mas nunca conseguiram provar qualquer entrega de qualquer quantidade de doses. Pedimos a documentação mínima comprobatória para que a gente pudesse dar sequência ao processo de compra. Mas o que havia era a ausência completa de credenciais, de um mínimo de documentação que permitisse à secretaria ter sequer o início da negociação. A empresa nos dizia que vendia vacinas da AstraZeneca, mas não tinha nenhum documento do laboratório confirmando que ela tinha essa representação”, comentou.

Por precaução, disse o secretário, a Prefeitura de Londrina encaminhou ofícios aos três laboratórios cujas vacinas foram ofertadas ao município. “Já que a lei permitia, resolvemos questionar diretamente os laboratórios se eles vendiam diretamente as vacinas para os municípios. E, se não vendiam, nós queríamos saber se havia algum representante autorizado para fazer essa negociação”, detalhou.

Os três ofícios foram respondidos, e como lembra Cavazotti, o conteúdo era muito semelhante entre eles. “Em todas as cartas recebidas, da AstraZeneca, da Pfizer e da Jansen, a resposta era: ‘não, não fazemos a comercialização direto com os municípios e não, não há representantes comerciais autorizados’. Quando recebemos a negativa dos laboratórios, dizendo que não vendiam direto aos municípios e que não tinham representantes autorizados, nós suspendemos as conversas”, explicou o secretário.

Ainda houve insistência por parte dos representantes, comentou Cavazotti. Nunca houve um encontro pessoal, aponta o secretário. Os contatos eram sempre feitos por mensagens de celular. “Em uma ocasião eu fiz uma reunião online com um desses supostos representantes, e a pessoa estava em um local que não era em um escritório, parecia até que estava na rua. Era tudo muito informal, chamava muito a atenção a falta de consistência”, avaliou.

O secretário confirmou à reportagem que desde que o nome da empresa foi citado na CPI não houve mais contato por parte do representante. “Para nós foi sempre tudo muito enrolado desde o começo, chega a ser ridículo. É tudo muito perfeito, eles alegam que têm grandes quantidades de uma vacina que é escassa e que conseguem fazer pronta-entrega. Não que eu tenha torcido para isso acontecer, mas quando eu vi as notícias me deu um alívio ao pensar que nós fizemos a coisa certa. Espero que as outras prefeituras não tenham caído nisso”, concluiu.

Laboratórios não têm intermediários

Em seu site oficial, a Janssen publicou uma nota na qual afirma expressamente que no Brasil foi assinado um acordo de compra de milhões de doses entre o laboratório e o Ministério da Saúde. A empresa garante que “neste momento, o fornecimento [de vacinas] é exclusivo para o governo federal, por meio do Programa Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”. Segue a nota: “Por isso, nenhuma pessoa física ou empresa está autorizada a negociar em nome da Janssen nossa vacina contra a Covid-19, seja direta ou indiretamente”.

O posicionamento é semelhante ao do laboratório AstraZeneca, que em seu site publicou uma nota na qual afirma que tem trabalhado “incansavelmente para cumprir o compromisso de acesso amplo e equitativo no fornecimento da vacina para o maior número possível de países ao redor do mundo”. A nota segue informando que “no momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, (...) não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado ou para governos municipais e estaduais no Brasil”.

A Pfizer, assim como os outros dois fabricantes, também deixa claro em seu site oficial que “decidiu que a vacina contra a Covid-19 é um bem que deve ser oferecido à população em geral, por isso destinou seus esforços para negociações com governos federais de todo o mundo”. Na nota, o laboratório explica que “neste momento, a companhia não pretende comercializar sua vacina no mercado privado, ou com estados e municípios”.

A reportagem tentou contato com a Davati Medical Supply, mas não obteve retorno das mensagens enviadas por e-mail. O site da empresa está fora do ar.

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