Mesmo com quebra na colheita de soja, setor do agronegócio está otimista com 2019| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

O silêncio da incerteza faz doer os ouvidos da economia brasileira. Sem aprovação de reformas estruturais tidas como fundamentais para o crescimento, o Brasil vive um estado letárgico e se agarra aos troncos pelo caminho.

CARREGANDO :)

Ao menos, um alento pode estar vindo do Sul do Brasil. Números cruzados de vários indicadores econômicos mostram que os três estados da região estão se saindo melhor do que a média nacional em 2019 em setores fundamentais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – principalmente agronegócio e indústria.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade

Ainda que a principal explicação seja a melhora na exportação, o desafogo sustenta um clima mais otimista.

O IBC-Br, um índice do Banco Central que calcula a atividade econômica e é considerado uma espécie de prévia do PIB (já que indica a tendência da produção nacional), mostra que juntos, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul cresceram 2,75% no acumulado dos últimos 12 meses (até maio deste ano).

Número acima da média nacional, de 0,72%. Não é só isso, os estados mais ao sul do Brasil estão mantendo níveis melhores de emprego e renda dos trabalhadores, o que denota melhora nas condições de negócios.

O agronegócio – incluindo os produtos básicos e a agroindústria – tem perspectiva de fechar o ano com bons números. Mesmo com quebra da safra de soja, que é nosso principal produto no campo, o Paraná viu sua produção de frango e milho alcançar novos patamares. “A perspectiva é de retomada. Só com o milho, devemos produzir 12,9 milhões de toneladas. Isso é uma alta de 44% em relação ao ano passado”, define o economista Luiz Eliezer Ferreira, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). É o campo que tem maior peso no PIB do estado.

Exportações tiveram impacto nos números

Entre os fatores fundamentais na análise de desempenho da economia da região Sul está o bom momento para o comércio internacional. Com o Real desvalorizado garantindo mais facilidade para a compra de produtos brasileiros, o número do campo e da indústria de alimentos ganhou um impulso.

Publicidade

O movimento foi melhor do que no resto do Brasil porque Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são alguns dos estados que mais se beneficiam do mercado externo.

No Paraná, o volume de exportações de janeiro a maio bateu a casa de US$ 6,3 bilhões, o que coloca o estado entre os seis grandes exportadores no Brasil até aqui. É um número mais baixo, se comparar com o mesmo período do ano passado, mas superior ao resultado de mais de 70% dos outros estados do Brasil. O volume de compra e venda garantiu um superávit acima de US$ 1 bilhão ao estado.

Diferentemente do que ocorre normalmente, a soja não foi a estrela absoluta nas exportações paranaenses. Desta vez, a quebra da safra só não naufragou o agronegócio do estado porque o mundo demandou mais carne de frango e milho. Mas fez os números caírem.

“A estiagem deste ano levou a dois fatores preponderantes para este resultado: queda na produção agrícola da soja, principal item do PIB agropecuário, e a baixa produção de energia, com níveis fracos nos reservatórios”, afirmou o pesquisador Julio Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), em documento sobre o assunto.

As exportações de carne de frango, por exemplo, aumentaram 12% de janeiro a maio no período, compensando parte das perdas de 29% da soja. O principal destino foi a China, que enfrenta uma grave crise de peste suína africana – com o receio do consumo de carne de porco contaminada, o país passou a demandar mais carne de frango.

Publicidade

Por sua vez, o envio de milho paranaense ao exterior subiu 53%, beneficiado pela lacuna que o milho norte-americano deixou no exterior – um ano repleto de chuvas e inundações fez com que o gigante da exportação deste grão se enfraquecesse em 2019.

Os estados vizinhos também se aproveitaram do mercado externo. Santa Catarina também vendeu mais frango e o Rio Grande do Sul se beneficiou com a exportação de fumo.

“Se pegar o agronegócio como um todo, em termo de valor, as exportações recuaram 8% [comparando os primeiros meses de 2018 e os de 2019]. Mas em compensação em algumas culturas tivermos altas de 44%, como em carnes”, aponta o economista Luiz Eliezer Ferreira, da Faep.

“No caso do milho, há a perspectiva de quebra da safra norte-americana. Eles esperam lá menos 50 milhões de toneladas. Isso é 70% a 75% da produção brasileira”, destaca. Um espaço que pode abrir ainda mais mercado para o produto brasileiro.