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Foto: Acervo pessoal/
Mais da metade da safra de tomate ainda deve ser colhida na propriedade de Fernando Itimura, em Cornélio Procópio.| Foto: Acervo pessoal/Fernando Itimura

A massa de ar polar que chegou ao Paraná nesta semana derrubou as temperaturas em Cornélio Procópio. Na propriedade de Fernando Itimura, onde ele cultiva tomates, as mínimas registradas na madrugada desta quinta-feira (29) ficaram na casa de -1,5° C. A plantação só não foi perdida completamente porque o produtor rural conta com estufas instaladas em sua propriedade, e os cerca de 6 mil metros quadrados de lavoura ficaram isolados das baixas temperaturas. Esse tipo de estrutura, porém, é quase uma raridade nas propriedades rurais do Paraná.

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A avaliação é do coordenador estadual de Olericultura do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Paulo Hidalgo. Segundo ele, apenas 20% da área de produção de verduras e hortaliças do estado conta com estufas. E a explicação para a baixa adesão dos agricultores ao cultivo protegido, conta o coordenador, pode ser a desinformação a respeito dos custos e das técnicas necessárias para o correto manejo das estufas.

“A gente vem cada vez mais incentivando o cultivo protegido no estado todo. As estufas garantem a qualidade, a produtividade e a segurança, se o agricultor souber manejar corretamente. O modelo que temos predominante por aqui é o reto, quadrado, que tem um custo de aproximadamente R$ 20 por metro quadrado para a instalação. Permite ter mais controle sobre a irrigação, a adubação e dá possibilidade de prevenir os efeitos da geada. Mas tem que ter comprometimento. O problema é quando começa com conversas como ‘ah, mas aqui na minha área faz tempo que não dá geada’, ou ‘não vai fazer tanto frio quanto estão falando’. Aí é que vem o prejuízo”, disse.

Para quem tem áreas mais extensas de folhosas, como alface e repolho por exemplo, a estufa pode não ser a única opção. Para esses casos, Hidalgo aponta a cobertura das plantas com uma camada simples de TNT, o tecido não tecido. “É fácil de encontrar em lojas de tecidos e é barato para ser comprado em quantidade. Dá para cobrir as plantas com o TNT, e isso tem uma certa eficácia contra aquelas geadas mais leves que acontecem em campo aberto. Ajuda a não formar o orvalho nas folhas, e isso previne a queima das plantas”, explicou.

Já o manejo correto das estufas, explica Hidalgo, depende de muito comprometimento por parte do agricultor. Principalmente no frio extremo, quando é necessário controlar o clima no interior das estruturas, seja com o calor proveniente da queima de carvão ou com o uso de fumaça. “Quando se queima uma mistura de óleo, serragem e um sal de potássio o resultado é uma cobertura de fumaça que também atrapalha a formação da geada”, disse.

É um trabalho já conhecido por Itimura. As três estufas que ele tem na propriedade só tinham cobertura fechada no topo – dos lados foi aplicado um material conhecido como sombrite, que bloqueia parcialmente a passagem da luz mas não bloqueia o ar gelado. Nas duas primeiras geadas pela qual passou no ano, Itimura usou a fumaça para evitar a queima das plantas. Mas para esta onda de frio mais recente, a estratégia foi outra.

“Dessa vez o frio veio mais forte. Eu vedei a estufa inteira com plástico, em todas as laterais. O que eu achei de plástico sem furo fui colocando para tampar o frio. Durante o dia, depois de envelopar as estufas, a temperatura dentro foi para 45°C enquanto fora estava a 15°C. Quando o sol se pôs a temperatura baixou muito rápido, foi para 25°C lá dentro. De madrugada a temperatura chegou a -1,5°C, e foi daí que eu acendi as latas com carvão, o que deixou a parte interna em 5°C. Salvei as três estufas com esse mesmo método”, comentou.

O investimento para salvar a produção compensou, garante Itimura. Ele estima ter gastado cerca de R$ 2,1 mil em plásticos e lonas para fechar as estufas e mais R$ 900 em carvão para manter a temperatura elevada dentro das estruturas. “Se for ver bem certinho, foram R$ 3 mil para não perder mais de R$ 110 mil em produção. Dá trabalho, tem que ficar quase 12 horas de madrugada, no frio, controlando o fogo. Se ficar muito forte, pode passar para o plástico e daí perde tudo. Se o fogo ficar muito fraco não cumpre o objetivo. Mas vale muito a pena. Até porque agora essa instalação vai durar pelo menos dois anos”, avaliou.

Além das três estufas que já tem, ele quer ampliar a área de produção. O orçamento para cada nova estrutura ficou em R$ 55 mil. Um valor que segundo Itimura se paga com o próprio trabalho. “Se o produtor fizer tudo direito, com todo o manejo correto, em dois anos o investimento está pago. Se ele tiver outra fonte de renda para ajudar no custeio, com duas safras, cerca de um ano, já consegue zerar o investimento”, calculou.

Produtores contam com apoio para construção de estufas e outras estruturas

Em abril de 2021 a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) abriu o programa Banco do Agricultor. Como explica Salatiel Turra, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab e coordenador do programa, não há linhas próprias de financiamento por parte da secretaria, e sim a concessão de benefícios aos produtores por meio de pagamento de parte dos juros dos contratos firmados com os bancos parceiros. “Apesar de se chamar banco, esse é só o nome do programa”, explicou Turra.

Os produtores interessados em instalar estufas ou outros equipamentos em suas propriedades rurais devem procurar a unidade mais próxima do IDR-Paraná, antigo Emater, para que seja feito um projeto técnico de viabilidade. Uma vez que o projeto esteja pronto, ele deve ser encaminhado pelo produtor rural a um dos bancos credenciados ao programa e à Fomento Paraná. Uma vez assinado, o contrato é remetido de volta para a Fomento Paraná para que seja garantido o benefício. O passo a passo está disponível no site da Seab.

Turra explica que há dois tipos diferentes de subvenção, e elas variam de acordo com o município onde está a propriedade rural. Caso seja em um município onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) seja menor do que a média do Paraná, o Estado assume até três pontos percentuais dos juros contratados. Caso o IDH do município onde está a propriedade seja maior que a média do estado, o benefício é de dois pontos percentuais. “Se o contrato, nesse primeiro caso, tiver uma taxa de juros de 4,5%, o estado banca 3% e o 1,5% restante fica a cargo do agricultor. Se for o segundo caso, 2% ficam com o Estado e 2,5% com o produtor. E esse valor fica empenhado por todo o tempo do contrato, não só nos primeiros anos”, explicou Turra.

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