O Paraná está colhendo em dólares o resultado das florestas comerciais que começaram a ser plantadas na década de 1970. A madeira produzida no estado, totalmente proveniente de áreas de cultivo, já tem mercado garantido no exterior, o que ficou evidenciado durante a pandemia, quando a demanda cresceu em todo o mundo, e o setor paranaense viu aumentar de forma expressiva as exportações.
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No primeiro semestre deste ano, as exportações em valores cresceram 73% e em volume, 33%, em comparação a igual período de 2020, de acordo com dados da balança comercial, divulgada pelo Ministério da Economia. “Aumentaram muito as vendas, especialmente para os Estados Unidos, que têm a construção civil baseada na madeira e é o nosso principal mercado”, diz Álvaro Scheffer Junior, presidente da Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal (Apre).
Para ele, em grande parte foi o ‘faça você mesmo’, comum no país, que determinou esse ‘boom’. “O norte-americano tem o hábito de comprar a madeira e ele mesmo fazer benfeitorias, reformas e ampliações em suas residências. Como foi obrigado a ficar em casa na pandemia, antecipou esses reparos e, em alguns casos, teve que adequar ou ampliar espaços para viabilizar o trabalho remoto”, conta.
“Também muita gente mudou de apartamentos para casas e isso aqueceu a construção civil, que consome muita madeira”, diz. A explicação bate com o que mostra o balanço das exportações paranaenses de janeiro a julho. Conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, o item madeira "trabalhada" (folhados, contraplacados e aglomerados) foi o que teve maior alta no segmento, 139%, alcançando uma receita de US$ 619 milhões - o que representa 5,6% do total do valor das exportações do Paraná no período.
Paraná é o maior produtor de pinus do Brasil
Esse cenário fez a demanda por madeiras destinada à construção disparar e o Paraná lucrou porque é forte no segmento. O estado é o maior produtor de pinus do Brasil. De uma área total de 1 milhão e 8 mil hectares de florestas plantadas, 722 mil hectares são ocupados com pinus e 287 mil hectares com eucalipto. O pinus fornece madeira para a construção civil e o eucalipto para papel e celulose.
O Paraná exporta madeira serrada (na forma de vigas para estruturas na construção civil), molduras (para esquadrias, como portas, janelas, sancas e demais acabamentos) e também chapas de MDF (para pisos, forros e móveis). Há também a exportação de madeira para produção de celulose e papel, bem como o processamento dessa madeira dentro do estado por grandes indústrias do setor. Os principais mercados da madeira paranaense são os Estados Unidos e a China. A madeira é exportada em contêineres, já beneficiada.
Ainda não é possível saber se as exportações continuarão em alta. “É difícil traçar um cenário pra frente, mas a pandemia não deve acabar tão cedo e é essa situação que tem influenciado a demanda”, diz Evanio Felippe, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Segundo ele, os Estados Unidos estão comprando muito e é para lá que vai mais da metade das nossas exportações. Em 2019, 44% das exportações de madeira do Paraná tiveram como destino os EUA. No mesmo período desse ano, esse porcentual subiu para 57%.
Álvaro Scheffer Junior, da Apre, que também é diretor florestal da Águia Florestal, uma das grandes exportadoras de madeira serrada do Paraná, com sede em Ponta Grossa, diz que o mercado já dá sinais de normalidade e que as exportações devem voltar aos patamares de 2019.
Mesmo assim, o Paraná continuará forte no mercado internacional da madeira. O estado responde por 33% da produção do Brasil, que está entre os principais exportadores do mundo. E é das florestas plantadas do Paraná que sai um quarto da madeira exportada pelo país.
“O setor madeireiro é um dos que mais tem crescido e que tem mais contribuído para o aumento da produção industrial paranaense”, diz Evanio Felippe, da Fiep. Segundo ele, no último semestre o setor teve uma elevação de mais de 50% de participação no PIB industrial do estado.
Indústria diversificada permite processar 100% da árvore
O que diferencia o Paraná dos demais estados não é apenas a grande área de floresta e o grande volume de madeira, mas a diversificação e estrutura do seu parque industrial. “Foi isso que permitiu um aumento rápido da produção para atendimento à maior demanda”, diz Scheffer Junior. Ele cita o exemplo de sua própria empresa. “Abrimos um novo turno e ampliamos em 30% o número de colaboradores a partir do segundo semestre de 2020”, conta, acrescentando que também investiu em máquinas e caminhões.
“Temos no Paraná indústrias que fabricam produtos em madeira para todas as etapas da construção de uma casa, por exemplo, desde a estrutura inicial até o acabamento”, destaca o presidente da Apre. Ele acrescenta que a característica do setor madeireiro do estado viabiliza o aproveitamento e o processamento de 100% da árvore, agregando valor à produção e permitindo atender os mais diversos mercados.
“O Paraná tem uma matriz florestal bem completa, florestas bem manejadas e indústrias de todos os segmentos”, diz Paulo Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).
Para Pupo, a localização e as boas condições do porto de Paranaguá também ajudam. “O Paraná tem um canal de escoamento para América do Sul, América do Norte e Caribe, com boa performance de entrega e pontualidade", avalia.
Produção florestal é sustentável
As florestas plantadas destinadas à produção de madeira são sustentáveis e não se esgotam, já que são cultivadas em ciclos de plantios e replantios. São plantadas em talhões e a produção se dá como uma espécie de rodízio, quando um talhão está sendo cortado, outro está em desenvolvimento e outro sendo replantado. Dessa forma, sempre há árvores no ponto de corte.
Além disso, tem os ciclos da floresta, de acordo com a destinação da madeira. Uma floresta destinada à produção de celulose e papel, e também chapas de MDF, é de ciclo curto. No caso do pinus cerca de 14 anos e para o eucalipto, entre 6 e 8 anos.
Já para as estruturas, destinadas à fase inicial de uma construção, são necessárias madeiras mais grossas, de diâmetro maior e, nesse caso, são florestas de ciclo longo. Geralmente o pinus é usado para esse fim e o corte se dá por volta dos 26 a 28 anos de idade da árvore.
O pinus não rebrota. A partir do corte, tem que ser plantada outra árvore no lugar. No caso do eucalipto, há rebrota, porém a produtividade cai e a opção principal dos reflorestadores é pela substituição por plantas novas.
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