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Produção da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais deve cair de 500 para cerca de 300 carros por dia.
Produção da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais deve cair de 500 para cerca de 300 carros por dia.| Foto: Divulgação / Volkswagen

Parte da produção da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, será paralisada a partir de junho. A montadora colocará em lay off cerca de 600 dos aproximadamente dois mil trabalhadores da unidade, que terão os contratos de trabalho suspensos temporariamente por até cinco meses. A medida foi anunciada durante uma entrevista coletiva promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) nesta quinta-feira (27).

De acordo com o representante sindical do SMC na fábrica da montadora, Daniel de Camargo, a produção diária de 500 veículos deve ser reduzida para cerca de 300 unidades. Com a medida, a expectativa de produção da unidade para 2023 deve cair de 100 mil para cerca de 85 mil veículos. O lay off e a consequente redução nos números da fábrica, explicou Camargo, têm relação direta com a venda de veículos zero quilômetro.

“Quando houve paradas anteriores era por causa da falta de componentes, mas agora o que está pesando é essa diminuição da procura pelos veículos por causa dos juros elevados e da dificuldade de acesso ao crédito. Nós estávamos esperando um aumento de produção e das contratações para dar conta desse aumento. Mas na realidade não é isso que vai acontecer”, lamentou Camargo, que confirmou a saída de 67 trabalhadores da fábrica após um programa de demissões voluntárias realizado pela montadora.

Fenabrave registra aumento de emplacamentos

Os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), porém, mostram que o mês de março registrou um salto de 52,5% nos emplacamentos de veículos zero quilômetro no Brasil em comparação com fevereiro. No acumulado do trimestre a entidade registrou 345,8 mil emplacamentos de carros zero quilômetro, um número 15% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.

Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da Volkswagen não se pronunciou sobre o lay off. Em manifestações anteriores, a montadora disse apenas que a suspensão temporária dos contratos de trabalho “está prevista em acordo coletivo firmado com o sindicato e funcionários da Volkswagen”.

Pressão nas montadoras

Como forma de pressionar as montadoras a garantir a manutenção dos empregos, o sindicato está organizando uma série de ações que terão início já na próxima semana. Além de assembleias com os trabalhadores nas sedes das fábricas na Região Metropolitana de Curitiba, o SMC também anunciou a intenção de se reunir com representantes do Governo Federal para buscar a redução da taxa básica de juros, que hoje está em 13,75% e reflete diretamente em todos os contratos de financiamento, deixando a compra de um carro zero ainda mais cara.

“Nós questionaremos os governos, mas vale lembrar que a crise não é só na Grande Curitiba, mas no País inteiro. Ou seja: todos têm de fazer a sua parte para que formemos uma forte mobilização. Ou o Banco Central baixa os juros ou então teremos uma crise mais grave ainda”, avaliou o vice-presidente do SMC, Nelson de Souza.

Para ele, a alta constante da Selic tem potencial para gerar uma onda de desemprego no setor. Por isso, ressaltou, é importante “conscientizar os trabalhadores sobre o momento que o país está vivendo. A alta na taxa de juros tira a competitividade por parte dos empresários e consequentemente gera desemprego. A sociedade brasileira precisa entender isso”.

Em março, representantes de cinco montadoras e da diretoria da Anfavea, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, se reuniram como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a equipe do ministério para discutir soluções que melhorem a concessão de crédito no país e o sistema tributário que incide sobre a venda de veículos. A reunião ocorreu dias depois do anúncio da diminuição do ritmo de produção de algumas fábricas de automóveis do país.

Possibilidade de greve não foi descartada

A possibilidade de greves nas fábricas das montadoras no Paraná não foi descartada. Para o secretário geral do sindicato, Jamil Dávila, os resultados desse movimento iniciado em Curitiba são “imprevisíveis”, mas ele disse se lembrar de várias situações ocorridas no país que seguiram esse mesmo roteiro. “Nós estamos fazendo a nossa parte, vamos questionar os juros. Quando as pessoas vão financiar um carro zero, descobrem que vão ter que pagar o dobro do valor. E quando elas não compram, a montadora não vende. Esperamos que outros sindicatos sigam o nosso exemplo, e também façam isso. Isso tem que ser uma reivindicação nacional”.

Nelson de Souza foi mais direto ao afirmar que “o sindicato está preparado para o que for preciso para defender os empregos dos trabalhadores. Nós apostamos no diálogo, acreditamos na conversa, e por isso trabalhamos. Mas não tem como a gente aqui pagar o preço por essa questão do capital, do Banco Central. Se não tiver outro jeito, a greve vai ser o caminho que nós não gostaríamos de tomar”.

Para BC, Selic alta é "compatível com meta de inflação"

Sobre a manutenção da Selic em 13,75%, a assessoria de imprensa do Banco Central confirmou à reportagem que o Comitê de Política Monetária (Copom) “entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024”.

A nota segue, afirmando que “a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”.

Produção na Renault segue sem interrupções

A paralisação temporária das atividades também não foi oficialmente descartada pela Renault, que também tem uma fábrica em São José dos Pinhais. A montadora, que até 2019 trabalhava em três turnos de produção, reduziu o ritmo de fabricação dos veículos para apenas dois turnos em 2020.

À Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da Renault confirmou, por meio de nota, que a montadora “segue acompanhando o cenário”, e que “a produção segue normal no Complexo Industrial Ayrton Senna”.

Volvo paralisou a produção no fim de abril

A Volvo já havia anunciado em fevereiro uma previsão menor de fabricação de caminhões na unidade da Grande Curitiba. Em nota enviada à Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da montadora explicou que o cenário da montadora de caminhões e ônibus é diferente das fabricantes de veículos leves, mas confirmou que “de fato há queda no mercado de caminhões, por conta do custo dos veículos com a nova tecnologia de emissões Euro 6 (válida para todas as marcas) e das condições econômicas adversas”.

A montadora também confirmou que alguns contratos de trabalho temporários que se encerraram em março não foram renovados. “A produção durante esta última semana de abril foi cancelada, com compensação em banco de horas”, informou a Volvo, que também explicou que “por hora, medidas como férias coletivas e lay off ainda não foram necessárias”.

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