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Empresas incluem rodízio entre trabalho na empresa e em casa na volta gradual às atividades.
Empresas incluem rodízio entre trabalho na empresa e em casa na volta gradual às atividades.| Foto: Bigstock

Desde o início da pandemia, muitas empresas têm sentido os efeitos, positivos ou não, do home office em suas rotinas. Passados cinco meses, algumas começam a retomar o trabalho presencial, recebendo os colaboradores em suas sedes e tentando se adaptar à nova realidade. Baias separadas, distanciamento mínimo de 1,5 m, fim das aglomerações na hora do cafezinho, máscaras e álcool em gel espalhados por todo o escritório tornam-se cenas comuns no dia a dia de muitas companhias. E é justamente pensando em evitar esses agrupamentos e frear eventuais contaminações que muitos desses locais passaram a adotar o modelo misto – ou híbrido – de jornada, onde os funcionários se revezam numa espécie de rodízio, trabalhando parte do tempo em casa e a outra fração presencialmente. Se antes esse sistema de trabalho não era levado em consideração e nem visto com bons olhos por alguns gestores, o novo coronavírus mostrou que ele é sim possível e alguns grupos já planejam adotá-lo de forma definitiva.

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No caso da FTD Educação, uma empresa com aproximadamente 1.500 colaboradores, essa mudança dos processos internos já vinha ocorrendo há cerca de dois anos e por isso a transição foi mais tranquila. O home office é uma realidade dentro da companhia e foi ampliado após a pandemia. Antes, os funcionários podiam escolher dois dias da semana para trabalhar de casa e cerca de 20% deles já adotavam o modelo. Mais recentemente, no plano de retorno gradual ao trabalho presencial, previsto para agosto na matriz São Paulo, todos os 300 funcionários farão três dias de home office.

Antecipando-se a essa volta, a empresa montou um plano de retomada com protocolos de higiene e regras comportamentais validados pelo Hospital Marcelino Champagnat, do Grupo Marista, de Curitiba, do qual a editora também faz parte. As ações de cuidados no local de trabalho são extensíveis ao lar dos colaboradores.

Para Idathy Munhoz, diretora de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO) da companhia, o sistema home office funcionou muito bem durante o período e agora o modelo híbrido deve ser reforçado ainda mais. “Com a escuta dos colaboradores e dos gestores estamos disponibilizando o espaço físico a partir de agosto na matriz em São Paulo para que, conforme a necessidade das áreas, eles possam voltar a trabalhar em alguns períodos dentro da organização”.

Segundo a executiva, as filiais estão funcionando de acordo com a sua localidade e a situação da pandemia no local. O plano integrado para o retorno híbrido, de acordo com ela, foi desenhado por um comitê com representantes de todas as áreas; toda a preparação e protocolos foram feitos com assessoria da área de saúde. “Os profissionais de saúde do Hospital Marcelino Champagnat ajudaram na revisão e implementação de protocolos no parque gráfico, que continuou normalmente, e para este retorno híbrido temos tudo preparado nas dependências. Este retorno presencial vai ser feito por etapas e gerenciado pelos próprios gestores e colaboradores”, diz.

A ideia é manter o sistema híbrido por tempo indeterminado, uma vez que o modelo está funcionando bem. Novos ajustes serão realizados nas estruturas físicas da empresa para a adaptação dessa nova forma de trabalho. “Os funcionários estão bem favoráveis, pela escuta que foi feita. Eles acreditam que está funcionando bem, estão trabalhando bem e até mais do que imaginavam”, completa Munhoz.

Mais tempo com a família

Para a pedagoga e coordenadora educacional da FTD, Ana Paula Xavier, a adaptação ao trabalho remoto durante a pandemia teve de acontecer de forma rápida. Mãe da Sofia, de 2 anos, a profissional precisou se desdobrar para dar conta das duas tarefas – da empresa e do lar. “Os primeiros dias, foram mais complicados. Fiquei preocupada com a interferência do ambiente enquanto as reuniões aconteciam. Cachorro, movimento de pessoas, carro do ovo, além de Sofia, que precisou se adaptar ao fato de eu estar em casa, mas não poder estar com ela o tempo todo”, diz.

Atualmente, com a rotina já adaptada, ela garante que o tempo mais próximo da filha compensa as dificuldades enfrentadas anteriormente. “Com o passar das semanas, e a rotina adaptada, comecei a ver as vantagens. Hoje consigo participar um pouco mais da vida da bebê, vê-la acordar e realizar os primeiros cuidados, participar do seu almoço e colocá-la para o soninho da tarde. No decorrer do dia, entre um momento e outro de reuniões e atividades do trabalho, consigo escapar para dar um carinho”, comemora.

Da rotina antiga, resta apenas a saudade da equipe de trabalho. “Somos em seis mulheres, que temos por característica o cuidado efetivo com o outro e a troca constante, sempre em um ambiente leve e de muita interação e afetividade. Mas temos realizado atividades, por vídeo, individuais e coletivas, para não perdermos esse clima, que tanto nos favorece e faz a diferença em nossas entregas. E não perdemos o bom humor por isso”, diz.

Experiência que deu certo

Para a Inva Capital, que atua na gestão de patrimônio, os novos modelos adotados para driblar as imposições causadas pela Covid-19 são uma novidade. A companhia nunca tinha experimentado o regime home office ou híbrido e precisou se adaptar rapidamente. De acordo com o CEO da companhia, Raphael Cordeiro, a experiência foi bastante positiva e agora a companhia já pretende adotar ao menos o sistema misto de forma definitiva.

“No nosso caso, antes da pandemia uma mudança brusca como essa não era pensada. Nunca fizemos nenhum tipo de home office, nem parcial. Nunca praticamos. Essa foi uma ideia que surgiu da pandemia mesmo e agora vai ser assim.”, diz Cordeiro. Apesar da perda de produtividade identificada inicialmente, causada, segundo o gestor, pela falta de uma estrutura de hardware e software adequada para o trabalho remoto, a economia com o tempo em deslocamento, a redução de custos no espaço físico do escritório e, principalmente, as reuniões mais objetivas são apontadas com os maiores benefícios identificados até o momento.

“Encontros que algumas vezes demoravam até duas horas agora são concluídos em 30 minutos. Houve um ganho de tempo nessas reuniões e elas têm sido mais eficientes. Essa foi uma das grandes vantagens. Parecia uma coisa impossível, mas acabou sendo muito mais fácil do que a gente imaginava”, diz.

Cuidados necessários

Para Rogério de Fraga, médico e gerente técnico do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, a questão do retorno ao trabalho presencial às empresas, seja de forma fixa ou mista, é bastante sensível em razão do momento. Essa volta, segundo ele, é importante até mesmo para reforçar aos colaboradores a importância da tomada dos cuidados necessários para evitar contaminações dentro dos próprios ambientes familiares. “Essas empresas têm um papel muito importante, inclusive de gerar educação para os seus próprios funcionários”, diz. Muitas vezes é no próprio local de trabalho que eles serão orientados sobre as medidas básicas de prevenção e levam esse aprendizado para o núcleo familiar.

Segundo o especialista, uma empresa será segura para a volta ao trabalho se ela garantir algumas condições básicas, como a aplicação de uma distância mínima entre as pessoas, disponibilização de álcool em gel em quantidade suficiente para atender toda a equipe e a preferência pela ventilação natural. “Algumas vezes em ambientes com ar condicionado, dependendo do tipo de ar, ele pode levantar algumas partículas. Se o trabalho for em ambiente fechado, é melhor que ocorra com o mínimo de pessoas possível e por períodos alternados para evitar a aglomeração”, diz.

As superfícies de trabalho também devem permanecer tão limpas quanto possível. Uma mesa de trabalho com objetos acumulados, como papel, objetos decorativos, equipamentos de escritórios, pode não ser segura, pois ainda não é conhecido o tempo exato que o vírus sobrevive nesses objetos. Alguns estudos sugerem que isso aconteça até por alguns dias.

Fraga faz um alerta importante com relação aos espaços compartilhados, como copa e refeitórios. É justamente nesses locais, entre um café e outro ou aquele bate-papo que se encontram os pontos mais vulneráveis. “É a hora em que as pessoas pensam que estão descansando e nesse momento, na maioria das vezes, não prestam atenção nessas questões de segurança sanitária".

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