Os governos brasileiro e paraguaio ainda vão definir, conjuntamente, sobre a destinação dos US$ 2 bilhões de receita anual extra que a Itaipu Binacional passará a ter a partir deste ano. O excedente vem do valor que até então vinha sendo pago pelo financiamento contratado no ano de 1973 para a construção da usina hidrelétrica. O último pagamento foi feito em 28 de fevereiro, quando o empréstimo foi quitado.
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Segundo Enio Verri (PT), que está à frente da gestão brasileira em Itaipu, a definição sobre a aplicação da "sobra" de US$ 2 bilhões será discutida com o Paraguai a partir do início do segundo semestre. Enquanto isso, lideranças e empresários paranaenses iniciaram um movimento para propor de que forma o valor pode ser aplicado.
Investir em obras de grande magnitude, a partir da Itaipu, é a proposta que vem do Instituto Democracia e Liberdade (IDL), órgão sem fins lucrativos que trabalha em projetos e ideias para o desenvolvimento do Paraná. O IDL desenvolveu o projeto Olhar sem Fronteiras, a partir da criação do Fundo para o Desenvolvimento da Interland do Centro-Sul da América do Sul, com difusão a partir do Paraná e Paraguai. Pela proposta, o fundo seria gerido pela Itaipu Binacional para o financiamento de projetos voltados ao desenvolvimento da região oeste do Cone Sul, com foco em: infraestrutura e logística; geração de energia limpa e sustentável e otimização da produção de alimentos.
“Investir em infraestrutura traz mais resultado do que baixar a tarifa”, defende IDL
“Esperamos que o governo, ao invés de baixar a tarifa de luz, que se dilui, vai para o ralo e não beneficia ninguém, invista em obras de infraestrutura que dá muito mais resultado”, defende o presidente do IDL, Edson Ramon, ao se referir aos recursos de Itaipu. Segundo ele, são projetos de longo prazo em que se pode investir pelos próximos 30 anos e "poderão ser multiplicados em três ou quatro vezes com a atração de fundos internacionais de investimentos”.
Ramon explica que o projeto é bastante abrangente e vai impactar não apenas o Paraná, mas estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e também o Paraguai. “A longo prazo, vai chegar ao Chile, levando nossa produção para o porto de Antofagasta, viabilizando as exportações pelo Pacífico”, diz. Hoje, a única saída por mar do Paraná é pelo Oceano Atlântico, via porto de Paranaguá.
Recentemente, o IDL fez uma reunião de trabalho para debater o projeto, que defende novas obras financiadas pela Itaipu, com os 40 associados e convidados. Na sequência, o Instituto vai envolver o Instituto de Engenharia do Paraná, o Movimento Pró-Paraná e entidades empresariais do estado, por meio do G7. O Olhar sem Fronteiras é conduzido pelo empresário Atilano Oms Sobrinho, do Grupo Inepar e do Instituto Centro de Tecnologia, Negócios e Inovação (CTNI), parceiro do IDL.
O projeto havia sido apresentado à diretoria anterior da Itaipu e agora será detalhado para o atual presidente, Enio Verri, com o qual o IDL está buscando agendar uma audiência. Será também apresentado ao governo do Paraná, ao governo federal e a parlamentares. O IDL informou também que manteve contato com o candidato que lidera as pesquisas na disputa eleitoral pela presidência do Paraguai, o economista Santiago Peña, do partido governista Colorado. Ele teria sido receptivo à proposta, segundo o IDL.
Questionado pela reportagem da Gazeta do Povo sobre a viabilidade da iniciativa, Verri respondeu que a decisão partirá do presidente Lula. Segundo Verri, "há diferença de características econômicas gigantes entre Paraguai e Brasil e, por isso, a negociação deve ser, antes do Brasil, viabilizada com o Paraguai, para ver se eles têm interesse".
Verri argumenta que o Paraguai tem necessidades sociais primárias em relação à infraestrutura, e por isso, a importância da avaliação e do interesse do país vizinho. "Se tiverem interesse, daí poderia se iniciar uma negociação", afirmou.
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