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Os desdobramentos da pandemia da Covid-19 são só um dos muitos desafios que o próximo prefeito, que toma posse em 1° de janeiro, terá de enfrentar na área de saúde. Questões como planejamento de longo prazo, envelhecimento da população e carreira dos médicos também deverão estar na agenda da saúde municipal, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

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Os desafios são grandes, ressalta o professor Edevar Daniel, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor da Escola de Saúde Pública do Paraná. E foram acentuados pela pandemia, que mostrou a necessidade de um sistema mais robusto de vigilância contra as doenças, de foco na atenção básica, com profissionais preparados e um bom suporte hospitalar.

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Outra questão é a ampliação da coordenação administrativo-financeira e com outros entes da federação. “A Covid mostrou que existem recursos para a saúde. Na pandemia, observou-se que há possibilidade de agilidade por parte do poder público”, enfatiza o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Roberto Issamu Yosida.

Até setembro, segundo o Portal da Transparência da Prefeitura de Curitiba, o município tinha recebido R$ 512,3 milhões em recursos da União e do Estado para o enfrentamento à Covid. Até então, R$ 244,7 milhões tinham sido usados em despesas com aquisições de produtos, materiais e serviços para o enfrentamento da Covid-19.

“Há também a necessidade de maior articulação e parceria com outras esferas públicas como Justiça e Ministério Público. Há problemas, principalmente relacionados a medicamentos de alto custo utilizados por poucos pacientes, que acabam sendo judicializados”, lembra Daniel.

Problemas de curto prazo na saúde de Curitiba

Um dos problemas que a saúde pública terá de enfrentar no curto prazo é o aumento na demanda por atendimento, aponta o decano da Escola de Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), José Knopfholz.

Com a crise, 12,9 mil postos de trabalho com carteira assinada foram fechados na capital paranaense entre janeiro e setembro, de acordo com dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). E o número de beneficiários de planos de saúde em Curitiba encolheu em 10 mil entre março e junho, o equivalente a quase 1%, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

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Outro problema imediato envolve o subtratamento de doenças crônicas durante a pandemia. “Com a Covid, a população perdeu o controle de hipertensão, diabetes, cardiopatias.... Muitas pessoas tiveram doenças crônicas que foram pouco controladas. Isto acaba levando à evolução para quadros mais graves”, lembra o especialista da PUC-PR.

Knopfholz também defende também o desafogamento das UPAs. A estratégia passa pelo desenvolvimento de um sistema de atendimento às urgências e emergências de forma mais descentralizada.

Um desafio que vem ganhando força e que terá impactos já no curto prazo é de natureza demográfica: a população está ficando cada vez mais idosa e vivendo mais. “É uma fonte de preocupação para a saúde pública, devido à exigência maior de recursos”, afirma Yosida.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 1991, 7,1% dos curitibanos tinham mais de 60 anos. No primeiro trimestre de 2020 eram 18%, A expectativa média de vida de uma pessoa de 60 anos, em 1991, era de 13,3 anos. Em 2018, ela passou para 22,6 anos.

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Os números, segundo os especialistas, reforçam a necessidade de se pensar mais políticas municipais para o idoso. “Os gestores municipais vão ter de olhar com mais atenção para essa faixa etária, que demanda mais cuidados”, diz Knopfholz.

Este cenário de população mais idosa também reforça a necessidade de se investir em prevenção, o que pode contribuir para a redução dos custos no médio e longo prazo. Daniel, da UFPR, avalia que com foco à atenção primária e bom planejamento é possível resolver 80% dos problemas. “O custo de uma internação, especialmente em UTI, é muito elevado.”

Carreira

Outra questão que o prefeito que assumir terá, a partir de 1° de janeiro, é o de pensar na formatação de um plano de carreira para os médicos públicos municipais. “O ideal seria o de implantar uma carreira de estado que permita mais dedicação e progressão no longo prazo”, diz Yosida, do CRM-PR.

Por outro lado, a Covid vai deixar um legado que terá impacto na qualificação dos profissionais. “A capacitação dos profissionais vai ser facilitada, tanto tecnologicamente quanto financeiramente”, afirma Daniel.