Beto Preto: “poderíamos ter ganhado mais uns 20 dias”| Foto: Geraldo Bubniak
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Três meses após o decreto de situação de emergência em razão da pandemia de Covid-19 no Paraná, o secretário estadual de Saúde, Beto Preto, considera que algumas medidas restritivas tomadas em março, como o cancelamento das aulas presenciais e o fechamento do comércio em diversos municípios do estado, podem ter ocorrido cedo demais. Em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário disse que o fechamento precoce acabou causando uma abertura também antes da hora, obrigando as prefeituras a tomarem ações ainda mais rigorosas agora, no momento em que a pandemia parece ter chegado com mais força. Beto Preto ainda avalia os números do coronavírus no Paraná e cita que, apesar do crescimento recente de casos e mortes, o estado segue entre os que têm menores índices de incidência do Brasil. Confira a íntegra da entrevista.

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Que avaliação pode-se fazer destes três meses em situação de emergência no estado?

As medidas de restrição para incentivar o distanciamento social que tomamos foram necessárias e fundamentais para termos certo controle da pandemia até agora. E a grande maioria das pessoas compreendeu e tem tentado cumprir o isolamento domiciliar. Jovens sem aula, e a interrupção de aulas foi importante. Mas aí, agora os adolescentes começam a fortalecer esse coro de sair de casa e se encontram, fazem reuniões, aglomerações. Essa  movimentação toda dos últimos dias está aumentando os nossos índices e preocupando, principalmente em Curitiba e Cascavel. Mas, de qualquer maneira, até agora tivemos um grande esforço para passar por tudo que estamos passando, e, ao mesmo tempo, montamos uma estratégia. Até agora, uma estratégia equilibrada, de não atuar com hospital de campanha, até porque eu vejo que isso, é até difícil de dizer, mas isso não atende com respeito as pessoas. E nossa rede de hospitais até agora dando conta do recado, claro, com algumas vagas a mais em alguns locais, algumas vagas a menos em determinadas posições geográficas, mas estamos passando. Mas todos os dias com esse estresse, com esse olhar no horizonte que nos chama a atenção. Estamos testando mais, e essa estratégia de testar mais de um lado estressa e chama a atenção para muita coisa, de outro lado também facilita a possibilidade de fazer o bloqueio dessas pessoas.  E estamos atuando com todas as possibilidades possíveis, percebendo que muita gente quer ajudar. Mas é assim: cada dia com a sua agonia.

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E por quanto tempo mais deve durar essa situação de emergência?

Não dá para fechar uma data né? Nós trabalhamos entre quatro e seis meses. Algumas contratações dos nossos serviços são de no mínimo quatro meses e prevendo um total de seis meses, inicialmente. Principalmente na contratação de serviços médicos e compra de alguns equipamentos, materiais para serem entregues nesse período. Agora, é o tipo da situação que você entra e não sabe como vai sair. É absolutamente inédito.

Comparando com os outros estados, o Paraná sempre esteve em uma situação menos crítica, com a menor incidência, uma das menores mortalidades. Mas, nas últimas semanas, o número de casos e de mortes aumentou. A pandemia saiu do controle nos últimos dias?

Eu fiz essa consideração na reunião com o Governador e os prefeitos. Nós passamos noventa dias. Em 75 dias, tivemos um terço dos casos e, nos últimos quinze dias, tivemos dois terços dos casos. Então, é sim um momento de muito cuidado, de atenção total. Mas nossos números continuam ainda bastante equilibrados em relação aos outros estados. Em incidência, o Paraná, na relação por 100 mil habitantes, é o último do país; e no número de mortes é o 22º. Então, eu sempre tenho insistido que cada óbito é uma história de vida, uma pessoa, é uma família, mas nós temos menos óbitos do que a média dos outros estados. Isso não pode servir de alento. Na verdade, isso serve de alarme. Toda vez que morre alguém é um alarme aqui para nós.

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Esse aumento de casos e de mortes acontece na esteira da maior circulação das pessoas, que também aumentou após a reabertura de alguns estabelecimentos de comércio e serviços, como shoppings, academias e bares. O senhor considera que foi acertada e no momento correto a decisão por essas reaberturas?

Eu quero deixar claro que academias o estado nunca autorizou. Foi por medida judicial. E nós, aqui, não temos o entendimento de que elas possam funcionar. Com todo o respeito do mundo por esse setor, que é um setor que emprega muita gente, tem muito empreendedor, eu quero dizer que, nesse momento, não seria ideal o retorno dessas atividades. Já os shoppings estão junto com essa atividade do comércio, mas eu também vejo com olhos muito atentos, porque no entendimento a gente liberou dizendo que tem que restringir. Se forem cumpridas todas as restrições, a possibilidade de contaminação é muito pequena. Mas você sabe como são as coisas, nós infelizmente, o estado do Paraná, tem dificuldade para fazer a fiscalização disso, fica por conta das prefeituras. E, na questão dos shoppings, apenas Curitiba e São José dos Pinhais não tinham liberado ainda. Todas as cidades de médio porte do estado tinham liberado, o que, no meu entendimento, também tem um certo equívoco nessa disparidade e heterogeneidade nas decisões. É isso que o governador quer tentar ajudar os prefeitos agora, no sentido de com o novo decreto para balizar ações, que os prefeitos possam aderir e, mais ou menos, ter posições parecidas.

E o momento em que se optou pelo fechamento, quando o Paraná ainda não tinha sequer registrado casos de contaminação comunitária, apenas casos importados, foi o mais correto?

O governador é um governador que tem esse viés municipalista, ele está sentindo essa situação em todos os municípios, situações diferentes, tomadas de decisões diferentes e muitas delas que vão e vêm. Primeiramente, muitos municípios colocaram tudo em quarentena, fechamento, e de repente foram abrindo sem o devido lastro técnico e científico. E agora estão fechando novamente, porque fecharam muito cedo. Nós tínhamos que ter fechado isso no início de abril, e nós acabamos fazendo uma quarentena seletiva a partir de meados de março. As escolas fecharam em 20 de março, nós poderíamos ter ganhado mais uns 20 dias com aulas efetivamente, aulas presenciais. Mas tudo tem um significado. Nenhuma medida tomada foi sem observação da técnica e da ciência. E, estamos trabalhando sempre com bastante transparência, nem que às vezes essa transparência também se coloque como um ponto de interrogação. Nós não temos solução para tudo, estratégia para tudo. Nós vamos observando diariamente os dados, revendo o trajeto, a possibilidade de observar se é necessário mudar ou não.

Os decretos estaduais continham, na maioria das vezes, apenas recomendações, e os municípios editavam seus próprios decretos acatando, aumentando ou flexibilizando o recomendado pelo estado. Agora, espera-se para esta sexta-feira um decreto estadual para estabelecer regras para a Região Metropolitana de Curitiba. Por que o estado terá que intervir agora?

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Porque Curitiba tomou essa decisão unilateral no sábado, e Curitiba tem uma estrutura maior. Curitiba é uma cidade de quase 2 milhões de habitantes, tem estrutura de saúde com muitos técnicos de alta qualidade e, diante das situações todas, o prefeito Rafael Greca, junto com a secretária de saúde, tomaram suas decisões, legítimas, que têm fundamento em lei e em acórdão do STF. Agora, é importante frisar que a Região Metropolitana tem muita gente que trabalha em Curitiba e esse fato nos chama a atenção. Precisamos dar segurança e conforto do ponto de vista sanitário, não é apenas segurança pública, é saúde pública. Temos que garantir saúde, segurança e acesso ao trabalho, quando for o caso, para essas pessoas da Região Metropolitana. Então, essa questão das aglomerações no transporte coletivo, por exemplo, tem que ser resolvida em conjunto.  Dentro desse sentido deve vir algo para ajudar os prefeitos a tomar uma decisão mais parecida.

E será, então, um decreto mais restritivo, para aumentar o isolamento?

Nesse momento, deve ser. Mas, assim, é uma ação, por exemplo, que pode incluir uma parceria com o setor de empregos, o setor dos individuais, o sindicato dos trabalhadores prestadores de serviço, o sindicato de empregadores de prestação de serviços. Nós precisamos mudar o horário desse pessoal, eles têm que sair do horário de pico do transporte coletivo. Deve ter uma unificação do horário de funcionamento do comércio nas cidades da Região Metropolitana, essa questão das aglomerações em postos de gasolina também é uma preocupação nossa, que o governador Ratinho Junior também defende, por isso a ideia de proibição da venda de bebidas alcoólicas após as 22h. Isso tudo contribui para diminuição de acidentes de trânsito, porque os acidentes de trânsito levam as pessoas para os prontos socorros dos nossos hospitais, que, nesse momento, estão atendendo Covid também. Então é uma série de medidas que podem ser alentadoras e tentar homogeneizar toda essa relação com os municípios da Região Metropolitana, mas que servem para outras regiões também.