Reprodução do jornal Gazeta do Povo relatando o incêndio de 1963.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

Se hoje são as queimadas na Amazônia que preocupam o país e o mundo, há 56 anos era o Paraná que estava no centro das atenções por arder nas chamas daquele que ficou conhecido como o maior incêndio florestal do país. O fogo começou em meados de agosto e durou cerca de dois meses. Quando ele finalmente foi controlado, o saldo foi de 2 milhões de hectares queimados - cerca de 10% da área do estado -, 110 mortes e cerca de mil pessoas feridas, além de 8 mil imóveis destruídos e cerca de 5,7 mil famílias desabrigadas.

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Notícias sobre os primeiros focos, registrados em Guaravera, Paiquerê e Tamarana, distritos de Londrina, foram publicadas em 14 de agosto de 1963. O fogo foi iniciado pelos próprios lavradores, que faziam pequenas queimadas para limpar seus terrenos. Contudo, com os campos secos após as fortes geadas registradas naquele ano, as baixas temperaturas e cerca de sete meses de estiagem, não demorou muito para ele se espalhar sem controle. Em pouco tempo, ele já havia atingido 128 municípios das regiões Norte, Central e dos Campos Gerais.

De acordo com o professor de Engenharia Flo­restal da Universidade Fe­deral do Paraná Antônio Carlos Batista, que em 2013 detalhou os estragos do incêndio de 1963 à Gazeta do Povo, 20 mil hectares da área devastada pelas chamas correspondiam a plantações, 500 mil hectares eram de mata nativa e 1,5 milhão de hectares eram compostos por campos e matas secundárias.

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Um relatório do governo do estado feito à época, trouxe ainda mais detalhes: o município de Ortigueira, nos Campos Gerais, teve 90% de sua área devastadas pelo fogo; em Tibagi, cerca de 70% das reservas florestais das Indústrias Klabin de Papel e Celulose também viraram cinza; entre Sengés e Jaguariaíva, pelo menos 15 milhões de araucárias foram queimadas.

Os municípios de Curiúva, Sapopema, Arapoti, Cândido de Abreu, Barbosa Ferraz, Reserva, Ivaiporã, Roncador, Palmital, Pitanga e Irajá também ficaram na lista dos mais devastados. Os estragos - e os problemas sociais decorrentes deles - foram tantos que, em 28 de agosto, o Paraná decretou estado de calamidade pública.

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O documento do estado, que foi feito antes do levantamento total de estragos provocados pelo incêndio, calculou que, em 19 cidades da área mais atingida, os prejuízos patrimoniais das famílias somava 200 milhões de cruzeiros e estimou que ele seria, em todo o estado, de 320 milhões de cruzeiros, "sem contar o valor representado pelas florestas destruídas".

Combate

O combate às chamas ficou conhecido como Operação Paraná em Flagelo e contou com ajuda de diversos estados do país - o que foi de extrema importância, mas não tornou a situação mais fácil. O fogo se espalhava muito rapidamente - de acordo com o relatório oficial sobre o caso, "as frentes de fogo cresciam à velocidade média de 20 km/h" - e foi criando uma "cama densa de bruma seca", que se instalou sobre todo o estado e dificultou o uso de aviões na operação durante um mês. Além disso, o calor impossibilitava que as equipes se aproximassem das chamas para combatê-las. Assim, o controle da situação só foi possível a partir do retorno das chuvas.

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Outros estados contribuíram ainda no socorro aos atingidos pela tragédia. O jornal Correio do Paraná de 17 de setembro anuncia, por exemplo, a chegada a Curitiba de caminhões de Campos, no Rio de Janeiro. Eles vieram carregados de roupas, mantimentos e adubo. “A carga, mais CrS 300.000,00 em dinheiro, angariados entre os funcionários de Lisymaco S/A, daquele Estado, foram entregues ao Rotary Club do Curitiba para posterior encaminhamento aos flagelados”, diz a nota.

Países como Estado Unidos, Itália, Japão, China e Suíça também enviaram medicamentos, ferramentas agrícolas, roupas e alimentos ao Paraná.

Imagens de Ortigueira no período do incêndio de 1963: destruição. Fotos: Colaboração/Alvaro Sady de Brito
Fotos: Colaboração/Alvaro Sady de Brito
Fotos: Colaboração/Alvaro Sady de Brito

Da tragédia à prevenção

O incêndio de 1963 ficou conhecido como o maior do país. Depois dele, tragédia de magnitude semelhante - em extensão - foi registrada em Roraima em 1998, quando 1,5 milhão de hectares foi atingido - e quando uma equipe paranaense foi enviada para ajudar no combate às chamas.

Sobre o Paraná, após a tragédia de 1963, a segunda maior devastação por fogo foi em 1999, quando 6.610 focos devastaram 126.864 hectares, segundo dados do Corpo de Bombeiros divulgados pela Coordenadoria Estadual da Defesa Civil.

Desde o registro da tragédia de 1963, o Paraná passou a se preocupar com a prevenção e o combate a incêndios florestais, inserindo, a partir de 1967, um curso voltado para esse tipo de ação no Corpo de Bombeiros e investindo em treinamentos para os membros da corporação. Desde 1998, o estado conta com um Plano Estadual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – MATA VIVA, que articula órgãos públicos, empresas da iniciativa privada, mídia e segmentos organizados da sociedade para prevenir e combater os incêndios florestais.

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