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Por falta de recursos humanos, Paraná só tem capacidade para abrir mais 300 leitos.
Por falta de recursos humanos, Paraná só tem capacidade para abrir mais 300 leitos.| Foto: Jose Fernando Ogura/AEN

“Estamos na busca por médicos há 10 semanas, já tentamos até mesmo em grupos de mensagens internacionais, com médicos de outros países da América Latina, e não conseguimos”. Esse é o relato do superintendente do Complexo Hospitalar Erasto Gaertner, Adriano Lago. A instituição tenta montar uma nova equipe de saúde para viabilizar a abertura de mais 10 leitos para a Covid-19 no Hospital Regional de Guarapuava, que é gerido pelo Erasto, mas esbarra na escassez de profissionais.

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A dificuldade é geral: governo, prefeituras e hospitais privados de todo o Paraná têm relatado o mesmo problema e apontado para a aproximação do limite da mão de obra especializada. Segundo o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), por causa da falta de profissionais, o estado teria capacidade para abrir no máximo mais 300 leitos para o combate à Covid-19. "A partir daí temos um problema sério, que é a falta de médicos, de material humano”, declarou, em entrevista ao jornal Boa Noite Paraná, da RPC, nesta quinta-feira (18).

O afastamento de profissionais que fazem parte de grupos de risco ou mesmo a desistência de alguns trabalhadores só piora a situação, segundo o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar). “Além de ampliar as contratações a gente teve que repor os profissionais afastados. Tem ainda aquele que saíram da área da saúde, seja por medo ou por insatisfação com o trabalho. Isso sem contar os afastamentos temporários de quem acaba sendo infectado pela Covid-19”, afirma o presidente da entidade, Flaviano Ventorim.

Não apenas a quantidade limitada de profissionais qualificados para o trabalho, mas também a sobrecarga física e emocional desses trabalhadores têm afetado a oferta de mão de obra. Segundo o superintendente do Erasto Gaertner, em decorrência dos plantões mais pesados, médicos têm diminuído a quantidade de hospitais em que atendem.

"É comum na área da saúde os profissionais trabalharem em mais de um hospital, intercalando plantões. Mas com esse crescimento desenfreado  da pandemia isso não tem sido possível. Na falta de outro médico pra repor, alguns profissionais acabam fazendo plantões de 48 h, 72 h, e não têm condições de seguir para o próximo”, conta.

Esgotamento também é emocional

Situação semelhante foi relata pela secretária municipal da Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, em entrevista à Gazeta do Povo. "Agora a gente tinha contratado uma nova equipe de UTI. Dois médicos avisaram que não iriam assumir o cargo antes mesmo de começar e dois pediram demissão. Isso porque os profissionais de saúde estão esgotados física e emocionalmente. É muita gente doente chegando ao mesmo tempo”, disse.

O agravamento da pandemia, com o surgimento da nova cepa do vírus, também tem significado uma maior sobrecarga emocional entre os profissionais. “Com a Covid, a taxa de perda de pacientes nas UTIs é alta em comparação com outros casos. Isso abala os profissionais, especialmente agora que temos pessoas cada vez mais jovens nas equipes”, afirma Adriano Lago.

Segundo o superintendente, na formação das equipes de intensivistas, é comum procurar combinar profissionais mais experientes com os mais jovens, outro fator que tem sido cada vez menos possível. “O médico intensivista, mesmo que jovem, tem plena capacidade técnica de trabalhar na UTI, mas a experiência necessária para lidar com a morte vem com o tempo. A perda abala muito mais o profissional pouco experiente”, relata.

Escassez não é só de médicos

Além de médicos, a equipe para atender a um paciente com Covid-19 envolve enfermeiros e técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas. Para garantir a segurança sanitária dos hospitais também são necessários trabalhadores da limpeza e conservação.

“Esse pessoal que nos dá suporte, desde quem recolhe o lixo, limpa uma sala, é extremamente importante. A limpeza feita dentro de uma UTI segue uma série de regras e protocolos, treinar um profissional desse é demorado também, não é do dia pra noite”, afirma o gestor do Departamento de Fiscalização do Exercício Profissional do Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), Carlos Naufel.

"Os profissionais que trabalham em um pronto socorro, uma UTI, têm que desempenhar funções mais elaboradas, o que muitas vezes um recém-formado não tem. Um enfermeiro, por exemplo, é ideal que tenha uma pós-graduação em UTI. Fora isso, tem uma questão de perfil. Tem gente que prefere trabalhar numa maternidade, no cuidado com idosos”, explica o presidente do Sindipar.

O gestor do CRM aponta também para a dificuldade de convocar médicos de outras especialidades para atuarem no combate à pandemia. "Não é tão simples pegar uma pessoa que é oftalmologista há 30 anos, por melhor formada que ela seja, faz tempo que não atua com outros casos além da oftalmologia. Quebra um galho, mas a assistência não vai ser a ideal”, diz.

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