Como a corrupção criou um dos grandes gargalos de Ponta Grossa

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Com novos investimentos previstos no curto prazo na indústria, a cidade de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, agora lida com a necessidade de resolver gargalos estruturais que podem barrar seu crescimento e o desenvolvimento econômico paranaense. Um dos principais é de ordem logística: construir um contorno que desvie o tráfego pesado dos caminhões da área urbana da cidade. Embora cogitado desde os anos 1990, a rota nunca saiu do papel.

O fluxo neste trecho chega a ter pico de 45 mil veículos por dia – superior ao de avenidas como a Visconde de Guarapuava, em Curitiba. Para o prefeito do município, Marcelo Rangel (PSDB), é o que justifica a construção de um desvio ter "absoluta prioridade". "O município cresceu avançando sobre a BR-376. Com isso começamos a ter problema como teve Campo Largo anos atrás”, diz, fazendo referência à cidade da região metropolitana, que resolveu boa parte dos problemas de fluxo urbano após inaugurar um contorno de 11 quilômetros em 2014.

“Não existe outra solução a não ser o contorno norte. É um investimento alto, mas de muita necessidade. Mas acreditamos que será um pleito dos governos federal e estadual”, defende Marcelo Rangel.

O Governo do Estado também admite a urgência da obra. Segundo a Secretaria de Infraestrutura do governo de Carlos Massa Ratinho Jrunior (PSD), o trecho urbano da BR-376, chamado de BR-373 ou Avenida Souza Naves, é o mais letal entre os trechos de rodovias federais que atravessam o perímetro urbano.

Embora classificado como "prioridade" pelos agentes públicos, o contorno não deverá sair do papel pelo menos pelos próximos 2 anos. É que o trecho da rodovia federal que corta o município é parte de um lote concedido para a iniciativa privada pelo Governo do Estado. Quem cuida da estrada é a Rodonorte Concessionária de Rodovias Integradas, que tem a concessão da BR até 2021, quando o contrato do pedágio se encerra.

Contorno foi dispensado em aditivo contratual

Secretário da Infraestrutura, Sandro Alex -- irmão do prefeito ponta-grossense -- aponta que tal construção era prevista no fim dos anos 1990, na elaboração da concessão das rodovias do Anel da Integração (conjunto de rodovias pedagiadas no estado). “Com o problema dos aditivos, foi retirada a construção do contorno”, atesta o gestor.

O secretário se refere a uma série de revisões contratuais favoráveis às concessionárias, nas quais foram retiradas parte das obrigações referentes a obras. Estas alterações, que iniciaram no começo dos anos 2000, foram alvo da Operação Integração, derivada da Lava Jato, que investiga corrupção, com pagamento de propina, nestas negociações.

Em março, o Ministério Público Federal firmou um acordo de leniência com a Rodonorte, que admitiu irregularidades e se comprometeu a repassar ao estado valores na ordem de R$ 700 milhões, dos quais R$ 365 milhões devem ser investidos obrigatoriamente em obras de infraestrutura. Sandro Alex aponta não poder afirmar se tal verba será usada na construção parcial do contorno, uma obra que deverá ser substancialmente mais cara do que esse valor, por conta do sigilo de Justiça.

“No desenho do novo Anel de Integração [conjunto de rodovias estruturais do estado que são pedagiadas] está prevista construção do contorno. É um dos três, junto com os de Cascavel e Londrina”, diz o secretário, projetando o contrato que será oferecido à iniciativa privada na revisão das concessões.

Mas, por enquanto, não há soluções previstas e a situação segue delicada na região. Segundo números da Polícia Rodoviária Federal, de janeiro a maio deste ano, três pessoas morreram em atropelamentos na Avenida Souza Naves, o trecho urbano de rodovia que teria seu fluxo desviado. No ano passado, no mesmo período, havia sido registrada uma morte.