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Importante comprador internacional, Coreia do Sul está de olho na carne suína brasileira.
Importante comprador internacional, Coreia do Sul está de olho na carne suína brasileira.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Em janeiro, o parlamento da Coreia do Sul aprovou, por unanimidade de 208 votos, a proibição do consumo secular de carne de cães no país. O projeto ainda precisa passar pelo crivo do conselho de ministros e do presidente Yoon Suk Yeol, que apoia a proibição.

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O governo local estima que um milhão desses animais sejam consumidos anualmente na Coreia do Sul, mas o país quer virar essa página. O motivo está na rejeição do hábito alimentar pelas novas gerações, nas afeições domésticas e de companhia entre as famílias e os cães.

O governo coreano enfrenta o lobby dos abatedouros do segmento, mas o caminho se mostra sem volta.

A proposta caminha para proibir a criação, o abate, a comercialização e o consumo de carne de cachorro a partir de 2027. Quem desrespeitar pode, entre outras punições, ir para a prisão.

Essa perspectiva coloca em movimento outros segmentos de proteína animal, que avançam em acordos comerciais. E a suinocultura brasileira é uma delas.

“É importante acessar o maior número possível de mercados e estamos muito próximos de um acordo comercial com a Coreia do Sul. Temos capacidade de aumentar produção com qualidade e velocidade a qualquer mercado que venha solicitar a habilitação das plantas”, aposta o coordenador do Ramo Agropecuário da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), João Prieto.

Na avaliação dele, o principal desafio é consolidar a abertura desses tráfegos comerciais, independente do volume que se venda em um primeiro momento. “Depois, o foco precisa ser no aumento do envio dos produtos. O importante é ocupar espaços e acessar o país. Há alguns anos estamos em tratativas para esses credenciamentos e agora estamos próximos”, completou.

Ministério diz que acordo será firmado em 2024

A Coreia do Sul tem uma população de pouco mais de 51,7 milhões de habitantes e um consumo per capita de quase 40 quilos da carne de porco por ano, somando cerca de 2,1 milhões de toneladas. O país passa longe de produzir o volume necessário - apenas 1,4 milhão de tonelada por ano -, está de olho em fornecedores e paga bem por isso.

“Não temos dúvidas que o mercado com a Coreia do Sul estará aberto ainda neste ano. Recebemos missão em 2023 e habilitamos planta para a carne bovina, as próximas serão para a carne suína”, afirmou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro.

O governo federal não considera a proibição do consumo da carne de cães como a condição mais relevante para a abertura do mercado sul-coreano, mas não descarta a utilização desses espaços para a conquista comercial de um país que está no topo da lista entre os mais exigentes no aspecto sanitário.

O presidente do Fórum Nacional de Sanidade Animal, Otamir Martins, acredita que a aquisição de proteínas do Brasil vai auxiliar na substituição de hábitos alimentares peculiares na Coreia, mas o foco, segundo ele, está no abastecimento de um mercado promissor que consome muita carne suína e precisa de grandes fornecedores.

Em média, os sul-coreanos consomem o dobro da carne suína per capita se comparado com o Brasil, onde a média está estimada em 20 kg/habitante, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

“O que trava as exportações são as regras sanitárias. A Coreia, assim como o Japão, tem exigências elevadas e estamos nos preparando há muito tempo para esses credenciamentos. A Coreia está muito próxima dessas habilitações. Acabamos de credenciar um frigorífico no Paraná para a carne bovina e em seguida será a vez do mercado suíno”, destacou.

Restrições sanitárias: Brasil ainda vive reflexos comerciais da febre aftosa

As barreiras comerciais impostas após os surtos de febre aftosa no ano de 2005 no Brasil seguem travando relações comerciais com países asiáticos, como Coreia do Sul e Japão.

Missões recebidas dos dois países em 2023, assim como Chile, Republica Dominicana, México e Canadá, devem enfim reabrir ou estabelecer transações comerciais de estados como Paraná e Rio Grande do Sul, segundo e terceiro maiores produtores da carne suína, atrás de Santa Catarina, que é o único estado apto a vender proteína animal à Coreia do Sul por ser livre de aftosa sem vacinação desde 2007. Paraná e Rio Grande do Sul só alcançaram o status e o reconhecimento em 2021. Em alguns países, esse reconhecimento interno para certificação só está chegando agora.

Gradativamente, reforça o ministro da Agricultura, as barreiras estão caindo. “Em 2023 abrimos 78 novos mercados em 39 países com os quais o Brasil não tinha relação comercial do agronegócio. Em janeiro de 2024 foram mais nove e a nossa expectativa é que nos próximos meses a gente concretize Coreia do Sul e Japão, dois mercados importantes para as nossas proteínas”, destacou ele, em viagem recente ao Paraná.

O estado tem plantel estático de 7,02 milhões de cabeças de suínos. Somente o Sul concentra 23,02 milhões de animais, 52% do plantel nacional.

Anualmente, o Brasil produz 5,2 milhões de toneladas de carne suína e em 2023 exportou apenas 1,2 milhão de toneladas. O foco está nesta expansão.

Indústria se prepara para novos mercados

O setor produtivo vê a ampliação do mercado internacional como altamente promissor. Em média, a Coreia do Sul paga cerca de 20% a mais pela carne.

O secretário de Comércio e Relações internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Perosa, avaliou que o processo com a Coreia está muito próximo da concretização, após anos de tratativas. “É um mercado exigente, mas que compra muito. O Brasil tem toda capacidade técnica e de qualidade para atender a esses mercados. Acreditamos que ainda neste semestre o acordo esteja finalizado e possamos exportar para eles”, disse.

Entre as indústrias que já miravam estes consumidores e estão focadas no aumento de produção está a Frimesa, maior player da carne suína no Paraná e quarto no Brasil. A cooperativa está em franca expansão produtiva após a inauguração de uma planta no município de Assis Chateaubriand (PR) em dezembro de 2022, a maior da América Latina no segmento.

Até o fim desta década, a expectativa é que a estrutura da Frimesa esteja em pleno funcionamento, com o abate de 15 mil cabeças por dia. Por enquanto, opera em cerca de um terço da capacidade. “O frigorífico tem como foco o mercado interno, mas trabalha com a possibilidade de abertura de novos mercados como o da Coreia do Sul e do Japão, que são importante consumidores mundiais”, reforçou o CEO da cooperativa, Elias Zydek.

Além da Ásia, a produção brasileira deverá ser ampliada para abastecer mercados como o do México - que está bem próximo de acordos comerciais - e as negociações que acabam de ser finalizadas com o Canadá, que reconheceu o Paraná livre de aftosa sem vacinação.

O prefeito de Toledo (PR), Beto Lunitti (PSD) está confiante nessa abertura de janelas comerciais. O município de 150 mil habitantes é o maior produtor brasileiro de suínos, com 910 mil cabeças no plantel estático. Toledo tem no segmento a principal fonte de arrecadação sobre o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP).

“A suinocultura responde por 40% do nosso VBP [R$ 1,3 bilhão] e o município é o que possui, por 10 anos consecutivos, o maior Valor Bruto da Produção do estado do Paraná [quase R$ 4,3 bilhões], mas o crescimento do setor traz desafios, como destinação de dejetos e práticas ambientais que vão garantir novos licenciamentos. Nosso principal gargalo está nas questões ambientais e, com isso solucionado, ampliam-se as possibilidades como a de ampliações de plantéis e, consequentemente, as energias renováveis, os biodigestores. Temos investido muito para amparar, com sustentabilidade, esse crescimento”, descreveu.

O secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, avaliou que, mesmo com as perdas volumosas de soja e milho na safra 2023/2024, produtos que são matéria-prima para alimentação animal, o mercado das proteínas está preparado para receber novas demandas.

“Com o Canadá evoluímos, com o México estamos próximos, assim como a República Dominicana, o Japão e a Coreia. A Coreia do Sul estamos caminhando muito bem. Numa escala até 12, já superamos 8, 9 etapas, é para logo”, lembrou.

Segundo Ortigara, as missões que visitaram o Brasil nos últimos meses encontraram um sistema bem estruturado, com qualidade técnica, operacional, sustentabilidade, bisseguridade e preocupação plena com a sanidade.

“Esses países tratam da sanidade com patamares elevados, são mercados mais exigentes. Temos estruturas bem preparadas, mostramos isso a eles com indústrias e um associativismo muito fortes. Temos estrutura para crescer com eficiência, qualidade. Estamos prontos para atendê-los”, completou.

Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o alcance e consolidação destes acordos comerciais se dá pela organização do sistema ao longo dos últimos anos. Fávaro reconheceu que isso só foi possível, na esfera governamental, porque encontrou o Mapa bem estruturado após gestões que asseguraram à pasta o cuidado técnico que o segmento exige.

Agro responde por quase metade das exportações brasileiras

As exportações do agro no Brasil registraram recorde histórico em 2023 com US$ 166,55 bilhões, 4,8% superior a 2022.

A Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura considerou que o segmento foi responsável por 49% da pauta exportadora total brasileira em 2023. No ano anterior, a participação foi de 47,5%.

"O ano de 2023 marcou um ponto de virada histórico para o agro brasileiro, com grandes avanços em exportações e expansão de mercados, resultando em um recorde no saldo da balança comercial de quase US$ 99 bilhões, um aumento de 62% em relação a 2022”, completou Roberto Perosa.

O Brasil exportou diretamente 193,02 milhões de toneladas na forma de grãos com registro de expansão no volume exportado de outros produtos que registraram mais de US$ 1 bilhão em vendas externas. O destaque foi para as carnes com crescimento de 5,4% ante 2022.

Em relação ao valor exportado os cinco principais setores foram: complexo soja (40,4% do total exportado); carnes (14,1%); complexo sucroalcooleiro (10,4%); cereais, farinhas e preparações (9,3%) e produtos florestais (8,6%). Em conjunto, esses setores destacados representaram 82,9% das vendas do setor em 2023.

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