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Sylvio Sebastiani tinha 92 anos
Sylvio Sebastiani tinha 92 anos| Foto: Arquivo da família

Perguntassem qualquer coisa sobre política paranaense a Sylvio Sebastiani, ele teria a resposta na ponta da língua. Quem conheceu ou conviveu com o político e jornalista falecido no dia 28 de outubro, aos 92 anos, por complicações da Covid-19, sabia dessa máxima.

A informação vinha completa. Ele lembrava não apenas dos fatos e datas em si, mas fornecia um cenário detalhado de como tudo aconteceu. Sabia de memória endereços do passado, lembrava da comida servida em eventos há décadas, descrevia palavra por palavra de conversas levadas pelo tempo. Assim, ajudou a moldar os rumos do estado, fundou o MDB local e teve papel importante ao comandar programas de análise política na TV e no rádio.

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Natural de Batatais (SP), chegou a Curitiba em 1946, pois o pai decidiu abrir uma loja de artefatos de couro na cidade. Alguns anos depois, a família voltou para São Paulo e Sylvio permaneceu por aqui, se tornando o único remanescente em terras paranaenses. Até firmar residência, o jovem fez suas traquinagens. Fugiu com um circo para a Bahia e, com seu característico poder de negociação, convenceu o detetive particular contratado pelo pai para trazê-lo de volta de que não precisava acompanhá-lo ou vigiá-lo, ele voltaria em breve e por conta própria, o que de fato aconteceu.

Sylvio e Clory celebraram sessenta anos de casamento

De passagem por Itajaí (SC), conheceu Clory Pereira da Veiga Sebastiani em um baile de Carnaval. Conversa vai, conversa vem, os dois descobrem que são vizinhos em Curitiba, ambos moradores da Rua Conselheiro Laurindo. Apressado e já apaixonado, ele avisa os pais da moça que se casará com ela. Após um noivado rápido, eles se unem e tornam-se parceiros inseparáveis por mais de 60 anos, até ela falecer em 2018. No início do casamento, vivem em Toledo (PR), onde Sylvio começa a se envolver com política, mas logo retornam a Curitiba.

Foi candidato apenas uma vez – a deputado estadual nos anos 1980 – mas gostava mesmo dos bastidores do jogo político. O pontapé inicial para esta carreira foi a colaboração à eleição de Ney Braga para prefeito de Curitiba. A partir de então, participou de inúmeras campanhas e sentiu os perigos do período de ditadura militar. Fazia parte do PTB e estava panfletando para que o povo apoiasse o presidente João Goulart quando foi retirado da rua e convidado a passar um dia na delegacia. Não chegou a ser preso, mas nos anos seguintes viu muitos de seus colegas e conhecidos serem encarcerados pelo regime. Era um dos poucos a visitar os presos.

Da época dos caminhões de som e do "jornal falado"

Unindo experiência e estratégia, foi o responsável por “fazer” muitos candidatos vencedores em eleições. Como a biblioteca viva de política que era, lembrava bem de rodar o estado com candidatos, em caminhões de som, conhecendo o eleitorado e conversando com as pessoas. Utilizou também os caminhões de som para espalhar notícias. Nas origens do MDB, fazia uma espécie de jornal falado, difundindo informações em diferentes locais da cidade. Talvez aí já desse sinais da migração para o jornalismo e para a análise política na imprensa, que aconteceu em definitivo na década de 1980.

Pelo contato com figuras e grupos importantes, pelo cultivo de boas fontes e pela confiança que inspirava em muitas pessoas, destacou-se como voz respeitada na área, colecionando furos e exclusivas. Com frequência, recebia dossiês e informações anônimas de interesse geral para que fossem divulgadas. A própria neta, Maria Fernanda Sebastiani Ribas Nitsche, lembra de ter sido abordada para que entregasse materiais ao avô, por uma fonte que não desejava se identificar. “As pessoas tinham muita confiança nele porque sabiam que era sério e, como ele mesmo dizia, não tinha rabo preso”, comenta ela. Entre as temáticas dos livros que publicou estão o posicionamento do MDB no Paraná, entrevistas com ex-governadores do estado e sua própria história.

Sem grandes apegos materiais, estava sempre pronto para ajudar quem precisava e utilizava sua vasta rede de contatos para isso. Os amigos comentavam que ele tinha dois grandes gostos: cuidar da família e fazer política. Sylvio deixa três filhos, sete netos e quatro bisnetos.

Foto da família iniciada por Sylvio e Clory
Foto da família iniciada por Sylvio e Clory| Arquivo da família
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