Um edital da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que deve ser concluído no início da próxima semana, inaugura uma nova fase na importante ajuda que as universidades do estado estão dando no combate à Covid-19 e seus efeitos. A instituição desembolsará R$ 2 milhões, de recurso próprio, para investir em projetos de pesquisa, elaborados por seus acadêmicos e docentes, que possam trazer alguma luz sobre o incerto cenário pós-pandemia.
No país, diversas iniciativas como essa já estão avançadas. Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, há um comitê estudando os efeitos da pandemia no estilo de vida de famílias na cidade de São Paulo, avaliando principalmente indicadores socioeconômicos, de saúde, lazer e relações sociais. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por sua vez, tem avaliado efeitos do isolamento social e das demandas de trabalho durante a pandemia para oferecer insights sobre o futuro. Universidades de Brasília e do Rio de Janeiro também têm conduzido estudos sérios sobre o assunto.
No Paraná, as investigações ainda são tímidas. Mas existem. A Universidade Estadual de Maringá (UEM) programou para as próximas semanas um hackathon (uma espécie de reunião com grupos de trabalho) para tratar de design pós-Covid. O objetivo, diz a instituição, é que os estudantes de áreas relacionadas desenvolvam ideias para facilitar a reintegração das pessoas ao convívio social e minimizar os riscos de propagação da doença após a fase crítica da pandemia. O estudo é para criar “solução de problemas de forma simples, efetiva e variada”.
O trabalho proposto pela UFPR deve ser um dos mais estruturados. “É um edital que não é voltado para as ações do front [as ações emergenciais, como produção de máscaras e álcool gel]. Estamos em um trabalho para preparar a sociedade para a desaceleração da pandemia e, sobretudo, para o pós-pandemia. Nossa premissa é a de que a que não existem competências aptas a fornecer respostas como as que estão dentro das universidades públicas. Esse conjunto de áreas do conhecimento precisa ser colocado em ação. O mundo pós-pandemia será diferente e a universidade precisa pensar esse mundo diferente”, defende o reitor Ricardo Marcelo Fonseca.
A universidade indica que o edital é aberto a projetos de pesquisa e análise de diversas áreas – por exemplo, a prospecção da economia após as medidas de isolamento, o rearranjo e a interpretação das normas jurídicas que o período de crise trouxe, ou como a psicologia poderá ajudar nas relações humanas após a quarentena. Ao contrário do que ocorre em boa parte dos projetos apoiados por universidades estrangeiras, no entanto, o estudo selecionado não precisa ter um enfoque local. Pode ser nacional ou internacional. “Queremos um caráter interdisciplinar e transversal do conhecimento. Que tudo isso forme um conjunto de reflexões e possa contribuir com a sociedade”, aponta Fonseca.
Ajuda no front
Apesar de só agora estarem estudando a pós-pandemia, as universidades públicas têm prestado um serviço essencial no atendimento emergencial à crise do coronavírus, defende o reitor da UFPR. “Elas têm feito diferença. Estão ressignificando seu papel na sociedade, seu protagonismo e essencialidade”, diz Fonseca. “Em um primeiro momento, as universidades se dedicaram a questões biomédicas e de pesquisa relacionados ao vírus. A própria UFPR potencializou, por exemplo, a produção de álcool, de álcool em gel, de máscaras e outros equipamentos hospitalares. Estivemos empenhados em testes e coisas que dizem respeito a georreferenciamento e análises numéricas sobre avanço do vírus”, diz.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTPR), por exemplo, contabilizou 107 projetos relacionados ao combate ao coronavírus. Entre eles, criou um modelo de respirador – aparelho fundamental nas UTIs – de baixo custo. Enquanto um equipamento de mercado sai a, pelo menos, R$ 30 mil, o desenvolvido nos laboratórios da universidade custa perto de R$ 700. “Nossa intenção é apoiar as atividades e as pesquisas que possam ajudar no combate à Covid-19, fazendo com que as soluções cheguem à sociedade em curto espaço de tempo", disse o reitor Luiz Alberto Pilatti em comunicado. É uma união que poderá tornar o período menos traumático. “Sem ciência e universidade, estaríamos perdidos”, destaca Ricardo Fonseca.
Confira a evolução dos casos de coronavírus no Paraná.
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