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Política regional

Preteridos nas articulações para cabeça de chapa, vice-governadores buscam lugar ao sol em 2026 

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Boa parte dos vice-governadores deve assumir as respectivas máquinas estaduais no máximo até abril, e assim terão a chance de, quem sabe, surpreender e forçar uma reconfiguração dos acordos. (Foto: Fotomontagem Gazeta do Povo (Igor Jacinto/Vice-Governadoria do PR, Celso Silva/Governo de SP, Gil Leonardi/Assessoria vice-governador de MG, Divulgação/Governo do RJ))

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No Rio de Janeiro é oficial. Em São Paulo e no Paraná ainda não, mas é praticamente certo. Em Minas Gerais, quase. De um jeito ou de outro, chama a atenção a forma como os vice-governadores destes estados liderados por possíveis presidenciáveis da oposição ao governo federal são considerados “cartas fora do baralho” para suceder seus governadores ou mesmo fazer parte de uma articulação mais ampla para as eleições de 2026.

Cada qual ao seu modo, nas eleições de 2022 esses vices tiveram papel importante na composição das chapas nas quais foram eleitos. Agora, a pouco mais de um ano do início das campanhas eleitorais de 2026 e mesmo com a perspectiva de assumir as respectivas máquinas estaduais até abril do ano que vem — quando os governadores que quiserem se candidatar a algo diferente da reeleição devem promover a descompatibilização do cargo —, estão escanteados.  

“Todos eles, cada um a seu modo, foram importantes para a eleição de suas chapas em 2022”, afirma o economista Luis Carlos Burbano Zambrano, especialista em política e gestão pública. "O Felício Ramuth, por exemplo, foi prefeito de São José dos Campos, é muito popular e foi fundamental para agregar votos à candidatura de Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo) na região, para além de ser o 'preposto' do Kassab e do PSD no governo”, avalia. 

“No entanto, todos esses vices hoje acabam tendo pouca visibilidade e não conseguem se projetar, ficam sem espaço sob a sombra de governadores muito fortes e presentes”, diz o economista. "Isso não significa que estejam simplesmente sendo esquecidos. Nenhum deles demonstra força política para encabeçar uma chapa, mas geralmente existem acordos que os contemplem nos governos eventualmente eleitos e para eleições futuras.”

No Rio de Janeiro, o plenário da Assembleia Legislativa aprovou a indicação do vice-governador Thiago Pampolha (MDB) para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ele recebeu 57 votos a favor e cinco contra; houve ainda sete abstenções e uma ausência.

A costura para enviar Pampolha ao tribunal foi feita pelo grupo do governador Cláudio Castro (PL) a fim de tirar o vice da linha sucessória e facilitar os planos eleitorais do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), que já se colocava como pré-candidato ao governo no ano que vem. Como Castro tende a se desincompatibilizar em abril para poder disputar o Senado em outubro, Pampolha, se continuasse como vice, sentaria na cadeira e poderia tentar a reeleição ao Palácio Guanabara — o que afetaria os planos do grupo político do governador, que no momento abraça o projeto de Bacellar.

Com o vice fora do governo, o primeiro na linha sucessória vira o chefe da Alerj. Bacellar quer se tornar conhecido do eleitorado antes do período eleitoral. Por isso, considera fundamental estar na cadeira durante a campanha. O impasse agora reside na data exata em que Castro passará a ele o bastão. Caso encare mesmo a disputa, o político de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, caminha para ter como principal adversário o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD).

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Em São Paulo, a lista de candidatos pelo campo da direita para a eleição estadual é ampla — a começar pelo próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que, pelo menos oficialmente, não desistiu de disputar a reeleição. Caso ele vá para uma disputa presidencial com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não falta quem esteja se oferecendo para disputar a vaga no lugar do vice-governador, Felicio Ramuth (PSD).

A começar pelo próprio padrinho de Ramuth no governo de São Paulo e presidente nacional de seu partido, Gilberto Kassab (PSD). No final de março, pela primeira vez ele foi categórico. "O candidato em São Paulo é o Tarcísio, e o meu candidato será o dele. Caso ele decida disputar a Presidência e avalie que o meu nome é o mais adequado, eu aceito a missão”, afirmou então em entrevista à CNN Brasil.

Antes de Kassab, o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), já havia sinalizado sua disposição de concorrer ao cargo. Desde que se reelegeu na prefeitura de São Paulo, Nunes dá sinais de possuir pretensões de tentar eleger-se governador do estado em 2026, caso Tarcísio não dispute a reeleição.

Em cenário sem a presença do atual governador, o prefeito de São Paulo aparece à frente na disputa pelo Executivo paulista em 2026, segundo levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas no início de maio. No quadro em questão, Nunes tem 29,5% das intenções de voto, contra 16,2% do ministro do Empreendedorismo e ex-governador, Márcio França (PSB), que aparece em segundo lugar.

No final de maio, no entanto, em propaganda partidária do PL na TV, Tarcísio apareceu ao lado do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual André do Prado. A escolha de André do Prado para a publicidade partidária é uma sinalização de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, com intenção de oferecer o nome do deputado como pré-candidato ao governo no ano que vem.

A presença do governador na peça parece sinalizar a simpatia dele ao projeto. Em todas estas movimentações em São Paulo, apenas o nome do vice Felício Ramuth não aparece.

  • Metodologia da pesquisa citada: 1.700 entrevistados pelo instituto Paraná Pesquisas em 85 municípios do estado de São Paulo entre os dias 1 e 4 de maio de 2025. Nível de confiança da pesquisa: 95%. Margem de erro: 2,4 pontos percentuais.

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Já no Paraná, o governador Ratinho Jr. (PSD) tenta articular sua sucessão após dois mandatos, e as negociações não parecem envolver o nome do vice e correligionário Darci Piana, que terá 84 anos no pleito do ano que vem. O desafio para o grupo político do governador é segurar a ascensão do senador Sergio Moro (União Brasil), quem vem com muita força caso decida sair candidato ao comando do estado.

Em Minas Gerais, o vice-governador Mateus Simões (Novo) tem dito publicamente que gostaria de ser candidato ao cargo majoritário no ano que vem no lugar do correligionário Romeu Zema, mas defende unidade no campo da direita.

No entanto, é improvável que tenha força política, mesmo pela falta de envergadura de seu partido, para se opor a uma candidatura do senador Cleitinho ou do deputado federal Nikolas Ferreira, ambos do PL — e que aparecem com muita força para disputar o cargo de acordo com levantamento do instituto Paraná Pesquisas de abril.

  • Metodologia da pesquisa citada: 1.660 entrevistados pelo Paraná Pesquisas em Minas Gerais entre os dias 26 e 30 de março de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2,5 pontos percentuais.

Assumir comando dos estados pode evidenciar nomes dos vices-governadores em 2026

Para a cientista política Juliana Fratini, isso não significa que estes vices-governadores estejam completamente descartados para 2026. Afinal, boa parte deles deve assumir as respectivas máquinas estaduais no máximo até abril, e assim terão a chance de, quem sabe, surpreender e forçar uma reconfiguração dos acordos. “Tem uma coisa na política que se chama virtù e fortuna, que vem do Maquiavel”, diz.

"Virtù é tudo aquilo que a pessoa fez para preparar-se para as oportunidades e desafios da vida. A fortuna são os acasos e imprevistos que podem fazer aparecer uma chance. Quem tem virtù geralmente aproveita melhor a fortuna", continua Fratini.

“Não podemos descartar também que, nesse momento, praticamente na véspera de assumir o comando do governo, avaliem que não seja hora de se colocar como mais um na corrida, e prefiram esperar para ver com calma se assumem um protagonismo que dê viabilidade aos seus nomes, ou apenas compor o melhor acordo possível para apoiar alguém”, diz a especialista.

“A situação deles, de qualquer forma considerando-se uma candidatura majoritária, não é favorável, pois ao contrário de outros vices ‘anônimos’ que chegaram lá, como o Nunes e o [Bruno] Covas em São Paulo e o próprio Castro, no Rio, assumem de maneira previsível. Não aconteceu nada 'imprevisto' que os colocou no cargo de ‘surpresa', e possuem pouquíssimo tempo para se fazerem conhecidos”, afirma Fratini.

As exceções dentre os principais estados governados pela oposição seriam em Rio Grande do Sul e Goiás. Com o apoio do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), o vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (MDB), é o candidato natural à reeleição. O governador deve se desincompatibilizar do cargo para a pré-campanha por uma candidatura à Presidência da República até abril.

Mesmo com a filiação ao PSD, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, quer fazer de seu vice, Gabriel Souza (MDB), candidato ao próprio cargo no ano que vem. "Nós vamos buscar dar continuidade a esse projeto”, afirmou durante a cerimônia de sua filiação à nova legenda, em São Paulo.

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