Garibaldis e Sacis: no ano passado, saída do bloco foi realizada por produtora privada| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo

Se no ano passado o carnaval em Curitiba foi marcado por cancelamentos e pouco diálogo, o deste ano, ao que tudo indica, caminha no sentido contrário. Até porque a programação já teve início com o pré-carnaval, que havia sido cancelado em 2017. O que sinaliza outro tipo de relação entre prefeitura, escolas de samba e demais grupos que compõem o calendário da festa na capital do estado.

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No último dia 28, o bloco Garibaldis e Sacis ocupou a avenida Marechal Floriano, no centro, na já tradicional festa de pré-carnaval. O evento foi alterado em virtude do clássico Atletiba, realizado no dia 4, quando inicialmente estava marcada a saída do bloco. Antes, no dia 13 de janeiro, o bloco 10 Afinados e daí? fez a primeira das suas cinco saídas. A Zombie Walk está confirmada para o dia 11; o Psycho Carnival, de 9 a 12. Os desfiles das escolas de samba acontecem um dia antes, no sábado, na rua Marechal Deodoro, no Centro. E na sexta-feira (9), blocos de rua se encontram na Boca Maldita.

“A gente teve um começo de ano em 2017 muito tumultuado por conta de uma transição fragilizada”, lembra Beto Lanza, diretor de ação cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), citando a passagem de bastão da gestão de Gustavo Fruet (PDT) para a de Rafael Greca (PMN) no comando do executivo municipal. Houve ainda a saída do presidente da FCC à época, Maurício Appel, que deixou o cargo após a revelação de que foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por dano ao erário público.

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Diante do ocorrido no ano passado, a FCC decidiu criar um grupo de trabalho permanente para se dedicar, entre outras ações, à elaboração de um edital para o carnaval deste ano, no valor de R$ 1 milhão, a partir de recursos do Fundo Municipal da Cultura da prefeitura. O edital estabeleceu R$ 595 mil às escolas de samba e blocos carnavalescos, sendo R$ 400 mil a cinco projetos de até R$ 80 mil; R$ 150 mil a três projetos de até R$ 50 mil, R$ 25 mil para uma escola ingressante, e R$ 20 mil para quatro projetos de blocos carnavalescos de até R$ 5 mil.

PROGRAME-SE: a programação completa de carnaval em Curitiba

Outros R$ 316,7 mil foram direcionados para despesas de infraestrutura e R$ 88,3 mil para apoio às atividades do pré-carnaval. Este ano, a FCC assumiu ainda a intermediação das conversas dos envolvidos nos eventos paralelos com a Comissão Permanente de Análise de Eventos de Grande Porte (Cage).

Para a festa deste ano, a FCC trabalhou ainda na divulgação dos eventos, utilizando mobiliário urbano para aplicar peças publicitárias da Zombie Walk e do Psycho Carnival, eventos considerados estratégicos para a cidade, sobretudo o festival, devido ao volume de turistas que atrai para a cidade. Em contrapartida, o Psycho vai oferecer um set grátis de apresentações na Praça Nossa Senhora de Salete para aqueles que não puderem pagar pelos eventos fechados, diz Lanza.

No ano passado, a prefeitura cancelou o pré-carnaval e cortou pela metade a verba destinada às escolas de samba alegando falta de recursos. Foram R$ 539 mil para infraestrutura e segurança do desfile; cada escola do grupo especial recebeu R$ 30 mil, e as escolas do grupo de acesso, R$ 18 mil. Com verba menor do que a esperada, as escolas decidiram cancelar a disputa, sem campeã, queda ou acesso ao grupo especial.

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A programação de pré-carnaval também acabou fora do calendário oficial no ano passado por falta de recursos. A Zombie Walk chegou a ser cancelada por conta de exigências feitas pela prefeitura aos organizadores, para que assumissem gastos com segurança, limpeza e banheiros químicos. O evento foi retomado após negociação com a FCC. Já o pré-carnaval de 2017 com o Garibaldis e Sacis foi organizado por uma produtora privada e contou com patrocínio de uma marca de cerveja.

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Reuniões

“As demandas vieram da parte dos eventos pré-carnavalescos, o carnaval, a Zombie Walk e o Psycho Carnival, que tem tradição, relevo para o turismo de Curitiba”, explica Lanza. Para organizar a programação, a FCC realizou reuniões ao longo do segundo semestre de 2017 com as escolas e os grupos que promovem as festas alternativas ao carnaval da avenida. E antecipou às escolas o repasse de verbas.

O que tornou a relação mais clara com os grupos que participam do carnaval na cidade. Flávia Nogueira, da organização da Zombie Walk, lembra que em julho já participou da reunião de lançamento do edital do carnaval, o que permitiu organizar a programação com mais calma. “A gente começou este ano sabendo o que teria de suporte da fundação. Foi muito mais tranquilo. Todos os anos a gente ficava na expectativa se o projeto seria ou não liberado”.

Flavia explica ainda que para este ano o evento teve a liberação para utilizar a Praça Nossa Senhora de Salete como espaço para alimentação e área de shows. E a expectativa é que cerca de 20 mil pessoas participem da marcha. “A gente sentiu uma melhora muito grande de estrutura e de planejamento”, comemora.

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“Preto no branco”

“O que aconteceu foi que eles [a FCC] começaram a conversar com a gente deste agosto”, informa Marcel Cruz, um dos músicos organizadores do bloco Garibaldis e Sacis. Para a realização das atividades do bloco, ele conta que o apoio da FCC garantiu trio elétrico, banheiros químicos e segurança para as festas realizadas no centro e no Sítio Cercado. Já cachês para os músicos fica sob responsabilidade do bloco, que está em busca de patrocínio para essa despesa.

“O que eles falaram, cumpriram. Foi preto no branco”, garante Cruz. Ele cita alguns ajustes finos que precisaram ser feitos ao longo das negociações, mas que segundo ele não influenciaram na programação.

“A gente já detectou já vai precisar ajustar algumas coisas”, avaliou Lanza. Entre esses ajustes está o contato antecipado com os órgãos de segurança, que entende podem ser feitos com mais tempo. Foi essa articulação que permitiu a negociação com o Garibaldis, a Polícia Militar e os bombeiros para que a festa não coincidisse com o clássico entre Coritiba e Atlético, no Couto Pereira.

“No geral, acho que a coisa tende a melhorar”, avalia Cruz. “As conversas estão legais, está tudo muito claro. Claro que a gente sabe que pode melhorar, isso em qualquer circunstância. [Mas] Dentro do que a gente tem no momento, está tudo de comum acordo”.