Empresas de pedágio do Paraná são acusadas por ex-diretor do DER-PR de pagar propinas a Richa; concessionárias negam.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Durante os anos que permaneceu à frente do governo do Paraná, Beto Richa (PSDB) recebeu propina de concessionárias de rodovias que atuam no estado, segundo o engenheiro civil Nelson Leal Júnior, que é ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Na esteira de sua prisão durante a Operação Integração, Nelson Leal Júnior passou a colaborar com os investigadores do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF).

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Parte dos depoimentos de Nelson Leal Júnior foi anexada a uma denúncia oferecida nesta quarta-feira (5) pelo MPF e que trata especificamente do suposto crime de corrupção que teria sido praticado por agentes públicos e executivos da Odebrecht durante o processo de licitação da obra da PR-323, no ano de 2014. Mas, nos relatos, também constam outros detalhes sobre o que o ex-diretor-geral do DER classifica de “esquema sistêmico de arrecadação de propina” junto a empresas que mantinham contratos com o governo do Paraná. Os citados pelo engenheiro civil negam as acusações (saiba o que eles dizem).

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De acordo com o delator, todas as seis concessionárias de pedágio que atuam em rodovias administradas pelo governo do Paraná pagaram propinas a agentes públicos: a ele próprio, e também a um grupo de pessoas da confiança de Beto Richa, como o irmão José Richa Filho, o Pepe Richa, então secretário de Infraestrutura e Logística, pasta que abriga o DER.

Nelson Leal Júnior inicia explicando aos investigadores que, logo quando assumiu o DER, em janeiro de 2013, comentou com Pepe Richa que considerava o salário “muito baixo”. Ao ouvir a insatisfação, Pepe Richa o orientou a procurar Aldair Petry, conhecido como Neco, e que seria o responsável por arrecadar propina junto a quatro concessionárias de pedágio - RodonorteViaparEcoviaEcocataratas. Ao entrar em contato com Neco, Nelson Leal Júnior teria passado a receber uma mesada de R$ 30 mil, para “complementar” o salário.

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Já as outras duas concessionárias de pedágio, Econorte Caminhos do Paraná, pagavam propina ao próprio governador do Paraná, de acordo com o delator. O pagamento seria feito através de interlocutores do Palácio Iguaçu. O ex-diretor-geral do DER cita nomes: na Econorte, Luiz Fernando Wolf de Carvalho entregava a propina para Ezequias Moreira, então secretário de Cerimonial e Relações Internacionais; na Caminhos do Paraná, Carlos Lobato entregaria a propina para Ricardo Rached, assessor direto de Beto Richa. 

“Ezequias e Rached usavam o dinheiro para pagamento de despesas pessoais do governador, incluindo multa de campanha”, disse o ex-diretor-geral do DER. O que sobrava era repassado a Luiz Abi, primo de Beto Richa e responsável por uma espécie de caixa principal da arrecadação ilícita, segundo o delator.

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Outro lado

Por meio de nota, a defesa de Beto Richa disse que “entende que as alegações do Ministério Público Federal não apresentam qualquer sustentação” e que ele “sempre pautou suas ações baseado nos princípios legais”. O tucano acrescentou que “a obra de duplicação da rodovia PR-323 nunca aconteceu”: “Também nenhum recurso público, de origem federal ou estadual, foi aportado na licitação. Não houve também qualquer direcionamento em licitação. Tanto é assim que a Corte Especial do STJ decidiu de forma unânime que tal investigação deva ocorrer na Justiça Eleitoral, na qual será comprovada, sem sombra de dúvidas, a lisura dos atos do ex-governador. Infelizmente, tornou-se comum delatores apresentarem falsas afirmações na tentativa de se verem livres das penas que, certamente, serão condenados pelos graves crimes praticados”.

A defesa de Pepe Richa informou que “as declarações do delator não são verdadeiras e que está tomando todas as medidas judiciais cabíveis para reparar a indevida utilização de seu nome”.

Ao portal G1, a defesa de Luiz Abi disse que as afirmações de Nelson Leal Júnior são descabidas e inverídicas, e que o único objetivo dele foi conseguir um acordo de colaboração premiada.

A defesa de Ezequias Moreira afirmou que “as declarações do delator são mentirosas” e que “nunca participou, em nenhum momento, de qualquer tipo de arrecadação junto a empresas e empresários e que está à disposição da Justiça para esclarecimentos”.

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Em nota, as concessionárias Ecovia Ecocataratas “negam peremptoriamente” as afirmações de Nelson Leal Júnior e “estudarão medidas cabíveis em face do falseamento da verdade”.

Ao G1, a Rodonorte disse que nenhum dos citados na denúncia pertence à empresa e que desconhece o depoimento mencionado na reportagem.

Ao G1, a Viapar afirmou que sempre cumpriu todas as regras legais e que está comprometida em atender ao contrato de concessão, de forma ética e transparente, e que está à disposição das autoridades.

Ao G1, a Triunfo Econorte declarou que tem prontamente atendido a todas as solicitações das autoridades.

Ao G1, a Caminhos do Paraná disse que considera a acusação absurda e descabida.

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Gazeta do Povo tenta contato com os demais citados na delação de Nelson Leal Júnior e mencionados na reportagem.