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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo

Quando Beto Richa (PSDB) venceu pela primeira vez as eleições para a prefeitura de Curitiba, em 2004, muitos apoiadores e até alguns analistas chegaram a projetar que o então prefeito eleito estava pavimentando uma estrada política para ir além do que conseguiu seu pai, José Richa, que foi deputado federal, prefeito de Londrina, senador e governador do Paraná.

Beto passou sem muitos arranhões pela prefeitura da capital, conquistou a reeleição e chegou a ser apontado em pesquisas como o melhor prefeito de Curitiba, o que abriu as portas para o Palácio Iguaçu. Começavam aí os problemas.

Em 2013, o governo sob seu comando enfrentava uma de suas mais duras crises, com a falência das contas do estado, que em determinados momentos não tinha recursos nem mesmo para gasolina de viaturas policiais e manutenção de delegacias.

Em 2015 veio a crise política. No dia previsto para a votação de um projeto que mudava o custeio do Fundo de Previdência do estado, ocorreu uma tragédia, que ficou conhecida como Batalha do Centro Cívico. A ação truculenta da PM para conter os manifestantes, em sua maioria professores, deixou mais de 200 pessoas feridas, sendo oito em estado grave.

ALÉM DE RICHA:quem são os implicados na proposta de delação de Fanini

Em meio a esses solavancos, denúncias de irregularidades no governo foram se acumulando. Do esquema de corrupção na Receita Estadual, investigado pelo Operação Publicano, ao escândalo do desvio de recursos destinados a obras em escolas, alvo da Operação Quadro Negro, hoje são seis os casos em que o ex-governador é citado em investigações.

O baque mais forte depois que Richa deixou o governo para concorrer ao Senado, em 6 de abril, veio na última terça-feira (5). A divulgação de uma proposta de colaboração premiada feita pelo engenheiro civil Maurício Fanini – réu da Quadro Negro – à Procuradoria-Geral da República (PGR) provocou um terremoto nas pretensões eleitorais do ex-governador.

No documento divulgado com exclusividade pelo Paraná TV, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), Fanini afirma ter intermediado pagamentos de propina para Richa entre os anos de 2002 e 2015. O dinheiro, segundo o diretor, abasteceu as campanhas de Richa para a prefeitura de Curitiba e para o governo do Paraná, além de bancar gastos pessoais do ex-governador e de familiares.

Maurício Fanini, que está preso em Brasília e tenta um acordo de delação premiada com a PGR, foi diretor de Engenharia, Projetos e Orçamentos da Secretaria Estadual da Educação (Seed) entre 2011 e 2014.

Detalhes

O escândalo do desvio de dinheiro da construção e reforma de escolas no Paraná, investigado pela Operação Quadro Negro, veio à tona em 2015. A estimativa do Ministério Público do Paraná (MP-PR) é de que a fraude tenha ultrapassado o montante de R$ 20 milhões. De lá para cá várias foram as ocasiões em que Beto Richa foi envolvido nas investigações. Agora, o que Fanini traz de novo na proposta de delação são detalhes que, segundo descreve no documento apresentado ao MP, implica ainda mais Richa.

De acordo com o ex-diretor da Secretaria da Educação, o ex-governador não só sabia dos desvios como era procurado diretamente para tratar do assunto. O ex-governador teria, ainda de acordo com a proposta de delação, pedido pessoalmente a Fanini para que ele arrecadasse dinheiro para a campanha de 2018 ao Senado junto às empresas envolvidas no esquema. Os recursos seriam destinados não só à campanha de Richa, mas também a de seu filho, Marcello, e a do irmão, Pepe Richa.

QUADRO NEGRO:Fanini liga mais nove empreiteiras ao pagamento de propina a campanhas

No documento apresentado ao MP, Fanini vai além das acusações de desvio de dinheiro para campanha eleitoral. O ex-diretor envolve também a mulher de Richa, Fernanda, e relata detalhes de viagens que teria feito ao lado do casal e de amigos do ex-governador. As despesas de viagens para Las Vegas, para os EUA e para o Caribe, segundo o ex-diretor da Secretária da Educação, não teriam sido pagas pelo ex-chefe do Palácio Iguaçu, mas sim por empresários que possuíam contratos com o governo do estado.

Sobre um dos filhos do ex-governador, Fanini afirma na proposta de delação que R$ 500 mil em propina teriam sido destinados à compra de um apartamento para Marcello Richa em Curitiba. O dinheiro teria sido pedido por um parente do ex-governador, Luiz Abi Antoun, acusado pelo Ministério Público de ser o “operador político” de uma suposta “organização criminosa” – sob investigação da Operação Publicano – formada por auditores fiscais, contadores e empresários para favorecer a sonegação fiscal mediante o pagamento de propina.

Ainda de acordo com o ex-diretor da Secretaria da Educação, além de Abi, outras duas pessoas intermediavam a propina para campanhas eleitorais de Richa: Ezequias Moreira, ex-assessor, e o empresário Jorge Theodócio Atherino (confira as figuras carimbadas das investigações que cercam Richa ).

Abalo na candidatura

As denúncias de Fanini veem à tona no momento em que Richa prepara sua campanha para o Senado (assista à sabatina da Gazeta com ele ). Apesar do abalo, segundo analistas políticos, as acusações do ex-auxiliar só terão um efeito determinante nas eleições do ex-governador se surgirem novos fatos.

“O conteúdo da proposta de delação de Fanini chamuscam ainda mais o governador, mas é muito cedo para afirmar que comprometem a eleição dele para o Senado. São duas vagas e o ex-governador não tem muitos adversários”, diz Mário Sérgio Lepre, cientista político e professor da PUC-PR.

Na avaliação de Lepre, a questão é “quais são os adversários”. Em um cenário em que Osmar Dias saia para governador e faça aliança com Requião, uma das vagas para o Senado seria de Requião. Ainda assim sobraria uma vaga para o Beto Richa, que não tem um adversário forte no campo da centro-direita”, diz ao acrescentar que tudo poderia mudar caso surgisse um “outsider”, um nome novo que não tenha envolvimento em denúncias de corrupção. “Mas esse nome não existe no momento”, pontua.

O também cientista político Doacir Quadros, professor da Uninter, avalia que o impacto das denúncias na candidatura de Richa poderá ter algum efeito no eleitorado da capital e região metropolitana. Já no interior, dificilmente provocará estragos sérios.

“O ex-governador tem uma grande inserção política nas cidades do interior, uma base estruturada de apoio nos municípios”, avalia.

Enredo de novela mexicana e traição, diz Beto Richa

Diante do potencial explosivo da proposta de delação de Maurício Fanini, o ex-governador reagiu de imediato, com vídeos nas redes sociais, nota de esclarecimento e entrevistas em que nega participação nas irregularidades e acusa seu ex-diretor na Secretaria da Educação de tentar envolvê-lo para conseguir benefícios em eventual acordo de colaboração.

Segundo Richa, as acusações de Fanini “são levianas”, feitas por “um criminoso para fugir das garras da Justiça, para escapar da cadeia onde ele se encontra”.

“Ele está tentando terceirizar o problema. Tentando uma homologação de uma delação que não tem nenhum elemento de prova. E não pode ter mesmo porque os fatos são inexistentes”, afirmou em entrevista exclusiva à RPC na quarta-feira, acrescentando que o caso se parece com um “enredo de novela mexicana”.

O ex-governador disse também que quem abriu a investigação para apurar desvios de recursos destinados a obras em escolas foi o seu governo e que pediu para depor “para contribuir para o esclarecimento de todos os fatos”. “Não tem ninguém mais interessado do que eu, que tudo seja devidamente esclarecido, detalhadamente, o mais rápido possível.”

PERFIL:Quem é Maurício Fanini, o suposto “longa manus” de Beto Richa?

Richa admitiu que tinha relações pessoais com Fanini, mas que se decepcionou com ele. “Quem não foi traído na vida? Quem não se decepcionou com uma pessoa próxima? Eu fui decepcionado”, questiona.

Sobre a acusação de propina para compra de um apartamento para seu filho, Marcello, Beto Richa disse que Fanini não tem como provar nada e que os fatos são inexistentes. Exibindo a escritura pública do imóvel, o ex-governador afirmou que “está comprovado o pagamento dos valores acertados com o antigo proprietário do apartamento em transferências bancárias” e que todos os comprovantes serão entregues ao Ministério Público.

Richa disse ainda não acreditar que a proposta de delação será homologada.

“Qual a razão de dar credibilidade a um criminoso que realizou 870 depósitos em dinheiro vivo, em sua própria conta corrente, pagou cartões de crédito em dinheiro vivo e formou um patrimônio incompatível com sua renda?”, questionou.

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