Nos anos finais do EF, aprendizagem das crianças está estagnada| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A rede municipal de Curitiba é, tradicionalmente, uma das com melhor desempenho entre as capitais do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Nas últimas edições do exame, no entanto, o desempenho das escolas geridas pela prefeitura da capital não melhorou tanto quanto o de outras cidades. Em 2017, cujos dados foram divulgados em setembro, Curitiba ficou na quarta posição entre as capitais nos anos iniciais e em terceiro nas etapas finais do Ensino Fundamental (EF). Em 2015, por outro lado, a rede municipal tinha a melhor nota entre as capitais brasileiras nos primeiros anos do EF e a segunda nos anos finais.

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No caso dos primeiros anos, a queda no ranking ocorreu mesmo com o aumento da nota das escolas municipais da capital paranaense de 6,3 para 6,4. A secretária de Educação do município, Maria Sílvia Bacila, atribui o resultado a diferenças na taxa de aprovação dos alunos na rede em Curitiba e nas cidades que a ultrapassaram – Teresina, no Piauí (com Ideb de 6,8); Palmas, no Tocantins (com nota de 6,6); e Rio Branco, no Acre (com 6,5). Em Curitiba, a taxa de aprovação dos alunos caiu de 98% para 97%.

“É impossível competir com o Ideb de uma capital que aprova quase 100% dos alunos. Eu questiono esse dado”, afirma a secretária. É o caso de Palmas, que teve índice de 100% de aprovação do 1º ao 5º ano do EF. Teresina teve 99%, enquanto Rio Branco teve 96%.

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“Estamos caminhando para um processo em que temos que oferecer cada vez mais possibilidades de aprendizagem e evitar a retenção. Eu vejo casos, aqui e em qualquer lugar do país, em que a criança não tem total domínio de determinados conceitos para ir adiante. Por isso, acho difícil encontrar uma situação em que não haja nenhuma reprovação”, diz Maria Silvia.

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Aprendizagem

O cálculo do Ideb considera não só os dados sobre aprovação escolar, mas também as médias de desempenho dos alunos nas avaliações realizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Considerando a média apresentada pelas capitais nas avaliações sobre a aprendizagem de Matemática e Português, Curitiba avançou nos anos iniciais: foi de 6,45 para 6,57. As outras capitais, entretanto, melhoraram mais do que a paranaense: Teresina foi de 6,26 para 6,92; Rio Branco, de 6,12 para 6,75; e Palmas de 6,30 para 6,65.

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Se considerados os anos finais do EF, por outro lado, a capital paranaense estagnou. A média dos alunos da rede municipal em Matemática e Português foi de 5,65 para 5,63. Também houve queda na aprovação, de 95% para 93%. Com isso, a capital acabou com Ideb de 5,2, atrás de Teresina (nota 6,0) e Palmas (nota 5,8).

“Nesse caso há uma questão de aprendizagem que nos preocupa, especialmente em termos de como o currículo está sendo trabalhado pelos professores”, afirma a secretária. Segundo ela, de forma preventiva, a prefeitura aplicou uma avaliação própria, a Prova Curitiba, para fazer um diagnóstico das escolas e das situações em que o Executivo precisa atuar de forma mais efetiva.

“Não esperamos o Ideb para tomar uma providência. Construímos uma avaliação nossa, que nos deu antecipadamente os resultados, para atuar nas escolas e superar os problemas”, diz Maria Sílvia. Os resultados dessa avaliação, no entanto, não foram disponibilizados pela secretaria à reportagem. A secretária argumentou que os dados são “de gestão”, e que “não estão disponíveis para a comunidade”.

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Problemas estruturais

Para a professora e pedagoga Evelise Portilho, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o resultado vivido em Curitiba se insere em um contexto que vem sendo registrado em todo o país. “Temos problemas estruturais. Os professores ainda carecem muito de formação inicial e continuada, na própria escola, para se preparar para lidar com a realidade em que trabalham”, diz.

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Outro problema apontado por ela é o fato de que pedagogos têm atuado muito em questões burocráticas, deixando os docentes sem suporte. “O professor acaba ficando muito sozinho, sem uma estrutura que o ajude e facilite seu trabalho. Isso acaba enfraquecendo muito a educação como um todo”, diagnostica.

Especificamente sobre o caso de Curitiba, Evelise ressalta que, mesmo que tenha sido ultrapassada, a cidade ainda está entre as melhores capitais. “Não é uma queda tão significativa, ainda mais se pensarmos em todo o contexto do país”, conclui.

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