Digitalização de processos vai despender mais tempo e recursos – só não está claro ainda de quem.| Foto: Marco Andre Lima/Gazeta do Povo/ Arquivo

O trabalho braçal de digitalizar 100 mil inquéritos policiais virou uma queda de braço entre o Ministério Público do Paraná (MP-PR) e o Tribunal de Justiça (TJ-PR). No centro da discussão está a definição de quem vai pagar a conta pelo serviço.

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Em um primeiro momento, os promotores conseguiram uma decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que os desobrigou de converter os processos físicos em arquivos eletrônicos. Mas agora, neste mês de novembro, o próprio CNJ voltou atrás e concordou que o TJ-PR tem o direito, sim, de exigir que o MP entregue todos os documentos já digitalizados. Por algum tempo, o trabalho chegou a ser feito pelos cartórios judiciais.

Procurado, o MP decidiu não comentar a situação, mas disse que irá recorrer da decisão. No processo, alega que não há disponibilidade orçamentária para custear o serviço e que a exigência pode complicar o andamento de alguns casos, principalmente de réus presos.

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Já o TJ-PR deu um tempo para que a Procuradoria se adaptasse ao Sistema Projudi, até que em julho de 2018 bateu o martelo de que não aceitaria mais que documentos que instruem a denúncia sejam ajuizados por meio físico. Esses arquivos chegam para os promotores vindo das delegacias, que ainda não entraram na era da digitalização dos procedimentos de instrução criminal.

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“Uma oportunidade para uma estrutura enxuta”

Alexandre Quadros, presidente da Câmara de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), comenta que a dificuldade de adequação enfrentada pelo MP também foi vivenciada pelos advogados em 2006, quando o processo eletrônico foi implantado como regra no Judiciário. “Independentemente da idade do advogado, do tamanho do escritório e da capacidade financeira, todos tiveram de se adaptar”, diz.

Para Quadros, a obrigação do processo eletrônico cria a oportunidade para projetar uma estrutura enxuta de despesas públicas, como uma central de digitalização. Ele explica que, apesar de num primeiro momento representar gastos extras, a conversão em arquivos eletrônicos representa economia – em espaço e em remessa de material, por exemplo – além de muitas vezes agilizar as decisões judiciais. “É comum receber um processo, peticionar e receber a resposta no mesmo dia”, conta.

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Como funciona o processo?

Na prática, para digitalizar os processos é preciso que funcionários entendam o Projudi e disponham de tempo e equipamentos para escanear os documentos.

Há dúvidas se o melhor seria colocar aparelhos em cada promotoria ou regionalizar a estrutura de realização do trabalho. Isso será necessário enquanto os documentos não chegarem já digitalizados, vindos da delegacia.

Os inquéritos policiais (IP), termos circunstanciados (TC) e flagrantes nascem digitais, mas a tramitação dos IPs ainda é em meio físico. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), existe uma expansão para a tramitação digital para todas as delegacias da Região Metropolitana de Curitiba e Litoral até o final do ano.