Sede do Instituto das Cidades Inteligentes: briga que já se arrasta há quatro anos.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O pedido de suspensão temporária de uma ação judicial que a prefeitura de Curitiba move contra o Instituto das Cidades Inteligentes (ICI) indica que Rafael Greca (PMN) adotou um tom mais amistoso que o da gestão anterior nas negociações entre o Executivo Municipal e a organização que cuida da estrutura de tecnologia da prefeitura de Curitiba. Essa mudança de abordagem reacendeu o debate sobre a prestação de serviços do Instituto e a falta de autonomia da prefeitura na gestão de seus sistemas de tecnologia da informação.

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Ainda que os serviços prestados pelo ICI sejam restritos ao ambiente virtual, seus reflexos são percebidos diretamente na rotina dos curitibanos. Da marcação de consultas à gestão tributária; do portal da transparência às reclamações ao 156, a atuação da prefeitura depende diretamente dos sistemas de informação criados e gerenciados pelo ICI.

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O que gerou o imbróglio entre prefeitura e ICI?

A raiz da discussão entre o Instituto Cidades Inteligentes e a prefeitura de Curitiba são os códigos que geraram esses sistemas utilizados pelo município, os chamados códigos-fonte. Desde 2011, o ICI cobra da prefeitura pelo uso de sistemas que o próprio município pagou para desenvolver. Essa cobrança passou a ocorrer após uma mudança contratual feita em 2010, durante a gestão de Luciano Ducci (PSB), que repassou gratuitamente a propriedade dos códigos-fontes dos sistemas utilizados pela administração municipal para o instituto – que é uma entidade privada.

No total, entre janeiro de 2011 e março de 2013, o município pagou R$ 24,2 milhões ao ICI para utilizar esses sistemas.

Por que a prefeitura passou a questionar a alteração no contrato com o ICI?

Em 2013, quando Gustavo Fruet (PDT) assumiu a prefeitura de Curitiba, houve uma mudança no entendimento da gestão municipal sobre esta cláusula contratual. Fruet passou a questionar esses pagamentos e decidiu suspendê-los a partir de abril de 2013.

“Se eu entendo que esses códigos já são meus, por que vou pagar por eles? Em razão disso, suspendemos esses pagamentos enquanto discutimos”, justificou à Gazeta do Povo, em 2015, o ex-secretário de Informação e Tecnologia da prefeitura, Paulo Miranda.

A reportagem procurou representantes do ICI para comentarem o imbróglio, mas o Instituto não atendeu ao pedido de entrevista e respondeu com uma nota em que afirma que “segue trabalhando e prestando todos os serviços normalmente, firme no propósito de contribuir com o desenvolvimento da administração pública”.

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Em 2015, também à Gazeta do Povo, o então presidente do ICI, Luís Mário Luchetta afirmou que os códigos-fontes sofreram profundas alterações, o que justificaria a transferência dos códigos para o instituto.

Quais medidas foram tomadas pela prefeitura para tentar reverter o contrato?

Tanto a prefeitura como o ICI entraram com ações judicias para tentar resolver a disputa. Em 2014, o ICI pediu na Justiça que os valores retidos pela prefeitura a partir de abril de 2013 fossem pagos. Em resposta a esse pedido, a prefeitura entrou também entrou com uma ação que demandava a anulação do pedido do ICI e também o reconhecimento de propriedade dos códigos-fonte, além da devolução dos valores já pagos.

Em agosto do ano passado, o juiz Eduardo Lourenço Bana proferiu uma decisão liminar favorável à prefeitura que previa devolução dos códigos-fonte de todos os programas indicados pela prefeitura bem como os bancos de dados e documentação necessária para que os códigos se transformem em sistemas executáveis.

Como a decisão era liminar, o juiz não se manifestou sobre a devolução dos valores pagos, mas, em seu despacho, defendeu a tese de que os códigos-fonte são de propriedade da prefeitura e não poderiam ter sido repassados gratuitamente ao ICI por meio de alteração no contrato.

No dia 17 de março a prefeitura de Curitiba pediu a suspensão dessa ação pelo período de 120 dias, o que foi atendido pela Justiça.

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Por que a prefeitura pediu a suspensão da ação judicial se já tinha uma decisão favorável?

De acordo com o secretário de Governo da Prefeitura de Curitiba, Luiz Fernando Jamur, a suspensão do processo é temporária e ocorre em um momento em que o município e o ICI estão negociando os termos para um novo contrato. Segundo o secretário, quando Rafael Greca assumiu a prefeitura não havia contrato vigente com o ICI, por isso o Executivo está trabalhando em um termo emergencial para suprir a necessidade de prestação de serviços enquanto um novo contrato definitivo não é pactuado.

“Se nós estamos fazendo essa tratativa, é claro que tem que criar um ambiente favorável para essas tratativas”, afirmou o secretário.

A prefeitura vai abrir mão de cobrar os R$ 32 milhões do ICI?

O secretário de Governo não detalhou qual será a posição da prefeitura em relação aos R$ 32 milhões que a gestão passava jugava ter a receber do ICI.

“Dentro do contrato de gestão que vai ser construído tudo isso vai ser tratado, com certeza”, afirmou Jamur.

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O que já se sabe sobre o novo contrato com o ICI?

A prefeitura negocia, ao mesmo tempo, a elaboração de um contrato emergencial com o ICI para que os serviços possam ser retomados e um outro termo que vai vigorar por um prazo mais longo. Para este contrato de gestão, o secretário de governo já informou que o contrato envolverá a prestação de um número menor de serviços. Segundo o superintendente da secretaria de Informação e Tecnologia, Leandro Raimundi, o contrato deve avançar do ponto de vista da governança e também da tecnologia, levando em conta as recomendações emitidas pelos órgãos de fiscalização.