Programa Patrulhas do Campo, idealizado para a manutenção de estradas rurais, virou acusação contra Beto Richa e seu governo.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER) Nelson Leal Junior relatou que sofreu pressão do ex-governador Beto Richa (PSDB) e de parte do núcleo político do tucano para colocar em execução o programa Patrulhas do Campo. Ele também confirmou que teve conhecimento de que o projeto estava atrelado à arrecadação de propina. O Patrulhas do Campo é alvo de uma investigação que prendeu, temporariamente, Richa e ex-secretários do governo. Veja aqui o que alegam os citados.

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Leal Junior foi ouvido no último dia 14 pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), no âmbito da Operação Rádio Patrulha. O ex-diretor do DER foi preso em fevereiro pela Operação Lava Jato e, em junho, firmou um acordo de colaboração premiada.

Segundo o depoimento, assim que assumiu a direção do DER, em janeiro de 2013, Leal Junior teria passado a receber pressão para colocar em execução o Patrulhas do Campo, cuja licitação havia sido concluída no ano anterior.

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“Tinha uma pressão muito grande em cima da minha pessoa pelo Deo [Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete de Richa], pelo Pepe [Richa, ex-secretário de Infraestrutura e irmão de Beto], pelo Ezequias [Moreira, ex-secretário de Cerimonial], pelo próprio governador, para que colocasse esse programa em execução”, afirmou o delator.

Leal Junior revelou que o então governador chegou a exercer pressão pessoal, em pleno Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná. “Ele [Richa] me chamou no gabinete umas duas ou três vezes, junto com o Deo [Deonilson]. (...) Eu ia na sala do Deo, o governador estava lá: ‘Precisamos fazer as coisas acontecerem em relação às patrulhas”, disse.

Propina

O ex-diretor do DER disse que sabia que a licitação havia sido direcionada a “empresas parceiras” do governo e que o programa envolvia a arrecadação de “vantagem indevida ao governo”. Apesar disso, Leal Junior disse que nunca presenciou o pagamento direto de propinas nem discussões sobre porcentuais a serem desviados.

“Tinha interesse político e financeiro nessas patrulhas, no sentido de pagar alguma vantagem indevida ao governo”, relatou. “O que eu ouvia falar é que tinham feito a licitação, que eram empresas parceiras que tinham ganho e que tinha que fazer as coisas girarem, as coisas rodarem, que as coisas tinham que acontecer”, acrescentou.

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Leal Junior narrou ainda que Richa teria determinado que ele demitisse Aldair Petry, o Neco, funcionário da Secretaria de Infraestrutura e apontado pelo delator como “braço direito” e “arrecadador” de Pepe. Segundo as investigações, Neco teria sido encarregado de receber parte da propina paga pelos empresários a um “caixa de campanha” de Richa.

“Ele [Richa] me disse: ‘Ó, temos um assunto importante pra tratar com você. Eu quero que você vá na Secretaria [de Infraesturutra], meu irmão [Pepe] está viajando, e faça a demissão do Neco, porque ele não está fazendo as coisas de acordo. Ele arrecada e não faz os repasses para o Luís Abi [Antoum, primo de Richa]’”, contou Leal Junior.

O ex-diretor do DER disse que não demitiu Neco, argumentando que não tinha ascendência hierárquica sobre ele. Depois da volta de Pepe, Neco teria sido transferido à Companhia Paranaense de Energia (Copel).

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Investigação

Richa, Pepe, Ezequias, Luís Abi e Neco chegaram a ser presos pelo Gaeco e foram postos em liberdade por meio de um salvo-conduto concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Deonilson Roldo segue detido, porque a Justiça Federal havia decretado a prisão preventiva dele em decorrência da Lava Jato.

Segundo o Gaeco, a licitação do programa Patrulhas do Campo foi direcionada a três empresas que pagariam propinas mensais ao governo, no valor de 8% do que receberiam. A licitação integral estava orçada em R$ 72 milhões. As investigações apontam Richa como o “chefe do esquema”.

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Outro lado

Por meio de sua assessoria, Richa disse que “qualquer manifestação sobre o referido processo se dará nos autos. Persiste a confiança na Justiça”. A defesa de Pepe também informou que seu cliente só se manifestará ao longo do processo judicial.

A reportagem tentou contato com o advogado de Deonsilson Roldo, mas não conseguiu ouvi-lo. A Gazeta do Povo não encontrou a defesa de Luís Abi Antoum e de Ezequias Moreira.

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