Na saída de Umuarama, em direção a Mariluz e Guaíra, o tráfego em pista simples na PR-323 é congestionado| Foto: Ivan Amorim/Gazeta do Povo/Arquivo

A Odebrecht, que chegou a ser a maior empreiteira do Brasil, não tocava nenhuma obra pública do Paraná. Mas tinha interesse em atuar no estado e escolheu um projeto bilionário para fazer isso. A empresa se apresentou como interessada em transformar a PR-323, rodovia que liga Maringá a Guaíra, na primeira Parceria Público-Privada (PPP) paranaense. Seria uma espécie de concessão, com cobrança de pedágio e uma “ajuda” do governo estadual, que destinaria inicialmente R$ 95 milhões ao ano para deixar a tarifa mais barata.

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O primeiro passo foi dado pelo governo estadual, que abriu em 2013 a possibilidade de que empresas realizassem o projeto de engenharia para a realização da obra. A Odebrecht se candidatou, analisou a viabilidade da concessão e fez um projeto considerado ousado, mas que também seria a mais cara obra rodoviária do estado. Posteriormente, a Odebrecht se associou a outras empreiteiras e formou a Rota das Fronteiras, consórcio que foi o único participante da licitação, em abril de 2014, que escolheu quem administraria a rodovia. A autorização para o início das obras foi assinada por Beto Richa (PSDB) em junho daquele ano.

A obra

O projeto da PR-323, principal rodovia do Noroeste do Paraná, envolvia a duplicação de 207 quilômetros na ligação entre Paiçandu e Francisco Alves. A Odebrecht tinha interesse em tocar um projeto com 30 anos de duração e orçado em R$ 7 bilhões – sendo mais de R$ 2 bilhões só em obras.

Cerca de 60 acidentes ocorrem todos os meses, com média de quatro mortos ao mês. O fluxo diário na PR-323 oscila entre 31 mil veículos na saída de Maringá e 4 mil nos trajetos menos usados.

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Apenas três meses depois, segundo delatores da Odebrecht, a empresa foi procurada por supostos “arrecadadores” da campanha eleitoral do governador, com pedidos de doação. Teriam concordado em repassar R$ 4 milhões, dos quais R$ 2,5 milhões teriam sido efetivamente depositados. “Foi alocado aqui esse pagamento, que era o único projeto [da Odebrecht] que existia no Paraná. [Se o projeto fosse adiante], ia ser lançado como despesa, ele ia onerar o projeto: ou diminuir na minha margem ou na nossa capacidade de dar desconto”, afirmou Benedicto Júnior, ex-diretor da empreiteira, em vídeo de delação premiada.

Logo depois de conseguir o contrato, a empresa se viu enredada em uma série de escândalos impulsionados pela Operação Lava Jato. Sem credibilidade no mercado, não conseguiu o empréstimo de que dependia para realizar a obra. O Conselho Gestor de Concessões, órgão do governo do estado, decidiu cancelar o contrato em função da demora no início das obras. É que enquanto o impasse se arrasta, a rodovia não manutenção, agravando a precariedade que já marca o trecho.

Outro lado

Ao ser procurada pela reportagem, a Odebrecht enviou nota afirmando que entende que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos. A empresa acrescenta que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.

Sobre a arrecadação durante a campanha eleitoral de Beto Richa, o governo estadual informou que as respostas ficam a cargo de Juraci Barbosa Sobrinho. Em nota, ele disse que refuta “toda e qualquer denúncia lastreada em ilações, mais ainda as que acusam a campanha de 2014, na qual fui coordenador financeiro, de ter recebido valores não contabilizados ou de origem ilícita. Uma investigação mais aprofundada certamente demonstrará que as denúncias são falsas, e estas jamais poderão se sobrepor à verdade, conforme prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.”

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