O empresário Sérgio Prosdócimo, que se dedicava a sua empresa do setor de pães, faleceu na madrugada desta terça-feira (22).| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

O empresário paranaense Sérgio Prosdócimo, que faleceu na terça-feira (22), será lembrado como um homem à frente de seu tempo. Foi ele quem fabricou o primeiro freezer vertical do Brasil, por exemplo. Também foi o responsável por trazer para o país o micro-ondas da marca japonesa Sanyo, o primeiro a chegar por aqui. Prosdócimo era acionista majoritária da Sanyo até 1998.

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O empresário fez história ao criar a Refripar (Refrigerações Paraná S/A), posteriormente vendida para a Electrolux, em 1996. Em 2001, partiu para o setor de panificação ao adquirir a empresa Charlotte Pães e Torradas, que, quase falida, ajudou a recuperar.

Prosdócimo também teve uma longa história ligada ao Coritiba. Junto a Joel Malucelli e Edison Mauad, o empresário formou o chamado “triunvirato”, que assumiu o clube em 1995 com o objetivo de resolver os problemas financeiros e recolocar a equipe do Alto da Glória na primeira divisão. “Quando vimos a conta que o Coritiba tinha a pagar, sugeri que devolvêssemos o comando para a gestão anterior. Prosdócimo, então, disse que poderíamos contar com ele, que estava vendendo a Refripar e teria dinheiro para colocar no clube”, conta Malucelli.

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Mauad também destaca que Prosdócimo foi uma das pessoas mais corretas que já conheceu e que sua paixão pelo clube era evidente. “Foi ele quem financiou o clube para passar pelos problemas da época e só foi ressarcido muitos anos depois”, revela o ex-diretor do Coxa. “Era um homem de boa índole. Sua palavra valia mais que muitos compromissos. O triunvirato deu certo porque éramos três pessoas de diferentes perfis, que se uniram, e um confiava no outro.”

Prosdócimo ficou responsável por cuidar da parte financeira do Coritiba como tesoureiro, enquanto Malucelli assumiu a presidência e Mauad a direção de futebol. Malucelli revela que só aceitou integrar o triunvirato pois Prosdócimo o deixava tranquilo. “Ele garantia o controle financeiro. Era muito organizado e determinado. Trabalhar e conviver com ele foi fantástico, nos tornamos grandes amigos”, lembra.

O empresário conta, inclusive, que na semana passada se reuniu com João Marco Prosdócimo, primo de Sérgio e presidente da JMalucelli Energia, e os dois estavam combinando uma visita a Sérgio para propor que ele entrasse para a política. “Ele tinha perfil para um cargo político, poderia ser um vice-governador, um senador. Nunca teve medo de nada, sempre foi um homem corajoso e disciplinado, de uma postura irretocável”, afirma.

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Bastidores

A política tradicional, no entanto, não fez parte da trajetória de Sérgio Prosdócimo. Pelo contrário. Segundo Antonio Carlos Romanoski, Prosdócimo era mais daqueles que atuam nos bastidores. Chegou a ser convidado diversas vezes por políticos de renome no estado a ocupar algum cargo, mas sempre recusou. Também recusou o convite, por mais de uma vez, para chefiar a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). “Ele tinha ideias, estimulava mudanças, aí quando o convidavam para um cargo, recusava. Se envolvia, sim, em políticas voltadas ao empresariado, mas na maioria das vezes ele não queria aparecer”, conta o empresário.

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Prosdócimo em foto de 2004. 

Romanoski trabalhou por 17 anos na Refripar, junto a Prosdócimo. Esteve a frente dos setores administrativo, financeiro e de relações de mercado da indústria, e foi um dos responsáveis por estruturar a Refripar – então formada por sete empresas menores recém-adquiridas – em uma empresa só, para que então fosse vendida à Electrolux. “Independente do profissional, formamos uma amizade sólida e o considero um dos meus melhores amigos”, diz.

Sérgio não hesitava em chamar para sua equipe pessoas que soubessem mais e pudessem auxiliá-lo, como Maurício Schulman e Saul Raiz. “Quando ele assumiu a empresa, não tinha experiência e fez questão de se cercar de pessoas que o ajudaram. Foi um homem que aprendeu com a vida, mas sempre com lealdade em seus relacionamentos, o que o distinguiu de tantos”, conta Romanoski. O amigo também destaca a importante participação da então esposa de Sérgio, Lisiane, que era responsável por promover o bem estar dos funcionários, sendo braço-direito de Prosdócimo em diversas ocasiões.

Dos tempos na Refripar, Romanoski se lembra em especial de uma situação que marcou Prosdócimo. Em décadas à frente da indústria, ele viu apenas uma greve de funcionários estourar. Chateado, o chefe pediu que fosse investigada a origem da greve, uma vez que não havia registros de queixas dos funcionários e ele se considerava um bom patrão. Romanoski, então, foi atrás das informações e descobriu-se que o piquete vinha de uma disputa entre duas centrais sindicais, sendo estimulada por um funcionário que pertencia a uma delas e que conseguiu um emprego na fábrica, articulando a paralisação. De acordo com Romanoski, este ex-funcionário é o ex-ministro Gilberto Carvalho. “Esse episódio deixou Prosdócimo muito chateado. Ele se considerava um bom patrão, costumava visitar a fábrica, caminhar por lá. Depois disso, nunca mais voltou”, lamenta.

A ligação de Sérgio com o esporte não se ateve apenas ao Coritiba e ao futebol. A Prosdócimo patrocinou por muito tempo atletas paralímpicos de diferentes modalidades. Novamente, essas atuações, segundo Romanoski, eram “por trás do pano, sem tentar se promover por isso”.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Luto

O empresário faleceu aos 76 anos em decorrência de problemas cardíacos, que já o acompanhavam há algum tempo. Malucelli, inclusive, lembrou que em uma viagem com o time Malutron em que Sérgio os acompanhava, o empresário passou mal e teve de voltar às pressas para passar por um procedimento cirúrgico de troca de válvulas.

Romanoski diz que, apesar de se mostrar sempre alegre, o stress do dia a dia empresarial afetou a saúde de Prosdócimo. “Ele dizia que gostaria de ter um fim tranquilo, sem incomodar a ninguém. Espero que tenha sido assim. É uma grande perda para todos os paranaenses”, finaliza.

Sérgio Prosdócimo deixa três filhos.