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Nesta quinta-feira (14), o procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou denúncia contra a cúpula do que chama de “quadrilhão do PMDB da Câmara”, grupo político liderado pelo presidente Michel Temer. Na peça acusatória encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente e seus principais aliados dentro do partido são acusados de formar um “subnúcleo” de organização criminosa que também envolve políticos do PT, do PP, senadores do PMDB e empresários.

Além de Temer, foram denunciados os ex-deputados Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures, os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, e os atuais ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, todos também ex-deputados, além do empresário Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, da J&F.

Na denúncia, de quase 250 páginas, Janot cita inúmeros casos e traça uma linha do tempo da atuação do grupo. Algumas passagens do documento são bastante curiosas. Leia abaixo cinco destaques da denúncia contra o PMDB da Câmara.

1. Louco do Zap

Como evidência da união entre os denunciados, Janot cita o número de ligações, mensagens por SMS e mensagens online entre os vários membros acusados de integrar uma organização criminosa. Cunha, por exemplo, contatou Geddel 5.299 vezes, e Alves incríveis 9.523 vezes entre 2012 e 2014.

Algumas das mensagens estão na denúncia. “Joes aqui. Saindo. Confirme dos 3 convites, 1 RN 2 SP/Disse a ele!”, disse Alves a Cunha. “Ou seja ele vai tirar o de sao paulo para dar a vc? Isso vai dar m* com michel”, respondeu o ex-deputado fluminense.

Na interpretação da PGR, Joesley estaria negociando um pacote de “convites” (propina) com Alves. Ficou decidido que dois iriam para “São Paulo”, base de Temer, e um para o “Rio Grande do Norte” – estado de origem do próprio Alves. Ao saber disso, Cunha diz que Temer vai se irritar – provavelmente porque, pelo acordo inicial, os três “convites” supostamente iriam para o atual presidente.

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2. Meritocracia

Nem só de amizade vivia o PMDB. Os conflitos eram frequentes dentro do grupo. Em uma das ocasiões citadas na denúncia, Cunha teria interesse em colocar um de seus aliados, Fabio Cleto, em uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal. Moreira tinha interesse em manter Joaquim Lima, então no cargo em questão. Nisso, começou um cabo de guerra entre os dois peemedebistas.

Segundo a denúncia, teria cabido a Temer resolver a questão. Entretanto, ao invés de favorecer seu aliado mais próximo e de longa data, ele optou pelo adversário. “MICHEL TEMER sabia que o potencial para arrecadar propina de EDUARDO CUNHA era bem superior ao de MOREIRA FRANCO e por isso concordou com o pedido de EDUARDO CUNHA”, diz a denúncia.

3. O talentoso Cunha

Ao contrário de Temer, Alves, Franco, Geddel e Padilha, que já eram figuras estabelecidas dentro do PMDB, Cunha se elegeu pelo PP e ainda era um deputado de primeiro mandato recém-chegado ao partido quando a aliança com o PT foi selada. Segundo Janot, sua ascensão meteórica dentro do grupo foi devido ao seu, digamos, talento.

“A capacidade demonstrada por EDUARDO CUNHA de fazer negócios ilícitos de volumes expressivos e de movimentar um número cada vez maior de parlamentares na direção por ele indicada, cacifou-o perante às lideranças’ do “PMDB da Câmara”, especialmente depois das eleições de 2006, quando conseguiu arrecadar valores relevantes para as campanhas do partido”, diz a denúncia.

Segundo Janot, o principal aliado de Cunha dentro da cúpula era Alves. “A parceria formada entre EDUARDO CUNHA e HENRIQUE ALVES serviu de anteparo a MICHEL TEMER, resguardado do trato mais periférico sobre os esquemas”, diz.

4. Ministério de notáveis

Na denúncia, Janot diz que Temer usou o ministério para dar poder ao que chama de “organização criminosa”. “MICHEL TEMER assumiu a Presidência da República em 12.05.2016, provisoriamente, e, em definitivo, no dia 31.08.2016. Na sua gestão, garantiu espaços relevantes aos lideres do PP e do PMDB que já pertenciam à organização criminosa, com destaque ao papel atribuído a Romero Jucá”, diz.

Abaixo, segue lista com: Blairo Maggi, Ricardo Barros e Gilberto Occhi, do PP, Sarney Filho, do PV (filho de José Sarney, um dos principais caciques do PMDB do Senado), e os peemedebistas Jucá e Hélder Barbalho. Além disso, cita as posições ocupadas por outros denunciados.

Ele cita ainda a nomeação posterior de Osmar Serraglio como um favor a Rocha Loures e a indicação de André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo na Câmara como um afago a Eduardo Cunha.

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5. Os outros

Durante a denúncia, Janot deixa claro que está focando somente em uma parte do núcleo político da “organização criminosa”, que chama de “PMDB da Câmara”.

“Além desses denunciados, o núcleo político da referida organização era composto também por integrantes do Partido Progressista - PP e do Partido dos Trabalhadores — PT, que compunham subnúcleos políticos específicos, além de outros integrantes do chamado “PMDB do Senado”, diz, no início da denúncia.

Segundo Janot, esse núcleo, liderado por Temer, existia desde antes do governo Lula, mas se aliou aos outros grupos a partir de 2006, quando o PT buscava ampliar sua base de apoio após as denúncias do mensalão. No seu entendimento, não havia “hierarquia”, mas o PT tinha proeminência por controlar a presidência da República.

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