Vista aérea da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos| Foto: Reprodução/Facebook

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, montou a sua turma de “Chicago Boys” brasileiros. São quatro economistas, incluindo o próprio ministro, formados na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que agora vão implementar no Brasil os ideais que aprenderam na instituição considerada o berço do liberalismo econômico: menos Estado, mais iniciativa privada. Mas, apesar do ineditismo por aqui, a ideia de formar um time de economistas liberais vindos de Chicago é antiga e já foi aplicada em um país vizinho: o Chile, a partir da década de 1970.

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É de lá que são os “Chicago Boys” originais. O termo foi usado para apelidar um grupo de cerca de 25 economistas, todos jovens, que fizeram mestrado e/ou doutorado na Universidade de Chicago, considerada o grande centro de estudo do liberalismo econômico. Todos eles voltaram para o Chile e, convidados pelo ditador Augusto Pinochet, aplicaram na prática o, na época, novo modelo de condução da economia.

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Como tudo começou

A histórica começou ainda nos anos 1950, quando a Pontifícia Universidade Católica do Chile e a Universidade do Chile fecharam um convênio com o Departamento de Economia da Universidade de Chicago para o intercâmbio de alunos. A iniciativa partiu da hoje Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (antiga ICA, na sigla em inglês), com o objetivo de trazer estudantes de economia chilenos para aperfeiçoar seus estudos e, ao mesmo tempo, fazer com que os americanos aprendessem mais sobre a realidade econômica chilena.

Com isso, um grupo de não de mais de 30 chilenos foi enviado à Universidade de Chicago para fazer mestrado e doutorado em Economia. O convênio durou de 1956 a 1961. Lá, eles tiveram aulas com grandes economistas liberais, como Arnold Harberger e o Prêmio Nobel em Economia Milton Friedman. Harberger foi o principal mentor dos ‘Chicago Boys’ nos Estados Unidos. Depois, ele morou no Chile, onde ajudou a convencer Pinochet a implementar as ideias de Chicago na economia.

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Na universidade americana, os chilenos aprenderam os princípios da Escola de Chicago, como ficou conhecida as teorias econômicas difundidas pela instituição de ensino. Entre elas, estão: a teoria monetarista, que considera que a oferta de moeda pode e deve ser controlada pelo governo para manter a inflação em níveis baixos; papel do governo quase que restrito ao controle da moeda, já que o livre mercado se ajusta sozinho; políticas fiscais rígidas; livre concorrência; entre outros.

Tudo isso acabou sendo aplicado no Chile, em maior ou menor grau, quando o ditador Augusto Pinochet chegou ao poder. Como a economia do país estava entrando em colapso, Pinochet resolveu abandonar o socialismo, adotado até então, e, a partir da década 1970, apostou no modelo econômico liberal. Para isso, chamou os economistas chilenos que estudaram Chicago para trabalhar ou colaborar com o governo. Daí, o apelido de “Chicago Boys”. O Chile foi o primeiro país a aplicar de fato os princípios da Escola de Chicago.

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El Ladrillo

O principal documento que guiou a revolução feita pelos “Chicago Boys” na economia chilena foi chamado de “El Ladrillo”. O livro só veio a público na década de 1990, mas ele foi escrito ainda antes de Pinochet tomar o poder. Nele, havia o relato da situação econômica do Chile deixada por Salvador Allende Gossens (presidente de 1970-73) e seus antecessores e o que poderia ser feito para salvar o país de um colapso econômico.

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O livro foi escrito, entre outros autores, pelo economista Sergio de Castro, que depois se tornou ministro da Economia de 1974 a 1976 e, logo depois, de Finanças, até 1982. Castro foi um dos principais economistas do governo Pinochet oruindos de Chicago. Além deles, se destacam Rolf Luders, ministro da Economia de 1982 a 1983, Jorge Cauas, ministro de Finanças de 1975 a 1977 e José Pinera, ministro do Trabalho de 1978 a 1980. Alguns dos Chicago Boys atuaram, ainda, como diretores ou conselheiros do governo.

Economia liberal

Todos eles foram responsáveis por conduzir a guinada liberal econômica do Chile. Entre as principais ações, feitas ao longo de mais de dez anos, estão: forte austeridade fiscal; abertura comercial; priorização de acordo bilaterais; reforma da Previdência com adoção do sistema de capitalização; reforma trabalhista; adoção de câmbio flexível; independência formal ao Banco Central; concentração de gastos públicos em apenas atividades críticas ao estado; implementação de vouchers para educação; modernização da agricultura; estímulo ao mercado de capitais; privatização da grande maioria de empresas estatais; entre outros.

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Essa série de medidas fez com que o Chile vivesse o chamado “milagre econômico”, principalmente no fim da década de 1980. Foi o país que mais cresceu na América Latina entre 1983 e 2004. Ainda assim, durante o período de guinada liberal, enfrentou algumas crises, como a do petróleo na década de 1970.

Agora, o país latino será o modelo econômico do governo Bolsonaro, em especial dos ‘Chicago Oldies’, como estão sendo chamados os economistas brasileiros que estudaram na Universidade de Chicago há cerca de 50 anos que vão assumir ministérios e estatais brasileiras, a convite do futuro superministro Paulo Guedes.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]