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 | Henry Milleo    /    Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo

Nos dois depoimentos que prestou à Polícia Federal sobre suposto esquema para beneficiar o setor portuário, em especial a empresa Rodrimar, que também atinge o presidente Michel Temer, o ex-assessor palaciano Rodrigo Rocha Loures encarnou um personagem conhecido dos bastidores do poder. O do “mequetrefe”: aquele que nada sabia, nada viu, um mero assessor do presidente e não seu amigo pessoal, que não se recorda dos episódios e que não tinha esse poder todo que falavam. Enfim, minimiza e reduz a insignificante sua relevância com um único intuito: de comprovar não ter nada a ver com a história. 

A expressão ‘mequetrefe” surgiu no mensalão. Para demonstrar que sua cliente, a secretária Geiza Dias, do poderoso operador Marcos Valério, não tinha conhecimento dos esquemas, o advogado Paulo Sérgio Abreu a classificou como um coitada, uma subalterna, uma "funcionária mequetrefe". E o adjetivo pegou, fez sucesso na mídia e caiu na boca de jornalistas, advogados e ministros do STF. Geiza acabou absolvida no caso. 

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Pois bem. Rocha Loures, que despachava pessoalmente com Temer nos anos que o auxiliou na Vice e na Presidência da República,  antes de assumir seu mandato em março de 2017, afirmou ter uma relação com o presidente apenas profissional, respeitosa, administrativa e funcional. Uma relação amistosa, sem amizade. Disse à PF que não tinha o hábito de questionar Temer sobre demandas de empresários e sequer ligava diretamente para o presidente. Usava as estruturas formais, afirmou. 

A investigação envolve benefício para donos de portos via um decreto baixado pelo presidente em 2017. Loures, mesmo sendo amigo de um dos empresários do setor portuário, e tê-lo recebido em seu gabinete na Câmara, negou influências na costura desse acordo. Disse desconhecer o início da tramitação do decreto, e jogou a “culpa” no governo Dilma Rousseff. 

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Rocha Loures admite ter recebido o empresário e amigo Ricardo Mesquita, da associação do setor portuário (ABTP), no seu gabinete, mas que jamais se comprometeu a fazer pressão junto ao governo sobre alterações no tal decreto. O ex-assessor chegou a dizer ao delegado Cleyber Malta, que tomou seu depoimento, que "por ter passado pela Presidência da República as pessoas imaginavam no declarante (Loures) uma maior interlocução das demandas tratadas naquela ocasião junto a seu ex-chefe. O que não era verdadeiro". Ou seja: Loures diz que nunca foi o influente que foi. 

Quando assumiu o mandato em março do ano passado, Loures virou direto um dos vice-líderes do governo e era abordado a todo momento por parlamentares e outros interessados em "demandas" que deveriam ser encaminhadas ao Planalto. 

Por último, Rocha Loures dá a seguinte explicação por ter sido parabenizado pelo ministro dos Transportes, Maurício Quintela, quando o decreto foi editado: que foi em função da finalização do decreto, mas sem qualquer relação com o papel desempenhado pelo depoente na elaboração e edição do assunto. 

No mensalão, o papel de mequetrefe colou. Agora, é outro caso e outro personagem.

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