| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em reunião nesta quarta-feira (14) com representantes de entidades de delegados e agentes, o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, fez um mea culpa sobre as declarações que concedeu à agência Reuters a respeito do inquérito que investiga o presidente Michel Temer. Ele também concordou que deve se abster de novas declarações à imprensa sobre casos em andamento.

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No encontro com os delegados, Segovia demonstrou que se arrependeu de ter feito comentários sobre inquérito que trata do presidente, que ainda está em andamento na PF e no Supremo Tribunal Federal (STF). Na entrevista à Reuters, divulgada na última sexta-feira (9), o diretor-geral disse que as provas coletadas até aqui são frágeis e indicou que o destino próximo do inquérito será um pedido de arquivamento.

Não foi a primeira declaração polêmica de Segovia a respeito das investigações contra Temer. No dia em que tomou posse, em novembro, o diretor-geral afirmou que “uma única mala” talvez seja insuficiente para provar que investigados cometeram crime de corrupção. Era uma referência à mala com R$ 500 mil carregada pelo ex-braço-direito de Temer Rodrigo Rocha Loures, que a recebeu de um executivo do frigorífico JBS.

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“Ele se arrepende de ter seguido por determinados caminhos, de falar da investigação sobre o presidente. Falar em entrevista sempre é muito difícil. E ele está abalado, abatido, com a repercussão toda que houve, mas deixa claro que houve uma certa distorção em relação ao que ele disse e que não houve nem haverá nenhum tipo de intervenção nem interferência nem pressão em cima dos investigadores”, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva.

No encontro, mais cedo, com o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, o diretor-geral reconheceu que teria sido “espontâneo demais” ao falar do inquérito e concordou com a sugestão de não dar mais declarações sobre investigações que estão em andamento no órgão, além de ter “mais prudência” em futuras entrevistas.

O encontro com os delegados foi marcado por Segovia e durou cerca de uma hora com a direção executiva da ADPF e com a presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol), Viviana da Rosa.

Ao final do encontro, a PF preferiu não se manifestar sobre o encontro e informou que Segovia só falará sobre o assunto ao ministro do STF, Luís Barroso, na próxima segunda-feira (19). Barroso intimou o diretor da PF a confirmar as declarações polêmicas sobre o inquérito de Temer e determinou que Segovia se abstenha de novas manifestações a respeito.

Explicações

Segundo Edvandir Paiva, que foi escolhido pelos outros delegados como “porta-voz” da reunião, Segovia relatou que a entrevista concedida à Reuters tratou quase todo o tempo sobre outro assunto, convênios e entendimentos que a Polícia Federal tem feito com autoridades do FBI, que exerce nos Estados Unidos papel semelhante ao da PF. No final de janeiro, Segovia viajou a Washington para tratar de assuntos variados como pornografia infantil e fake news.

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A intenção da entrevista, segundo o diretor-geral, era gerar uma agenda positiva para a PF. Mas quase no final da entrevista, segundo Segovia, a Reuters levantou o tema do inquérito que investiga o suposto pagamento de vantagens indevidas em torno da edição, em 2017, de um decreto presidencial sobre o setor portuário.

Quando os delegados indicaram a Segovia a necessidade de ele ser mais comedido nas manifestações à imprensa, o diretor-geral concordou com a sugestão de que deve submergir no noticiário, evitando novas entrevistas.

Mal-estar na corporação

Para o delegado Edvandir Paiva, o ponto mais importante da conversa foi Segovia reafirmar que “não interferiu nem vai interferir” em investigações da PF. Mas Paiva reconhece que o quadro de “mal-estar” continua na corporação.

“Essa palavra de garantir isso para a gente é importante mas o mal-estar ainda não está superado e a gente vai continuar acompanhando essas manifestações dele ao Judiciário e também no dia a dia. Acompanhando e seguindo para que não haja nenhum tipo mesmo de pressão nem de interferência e a Polícia Federal continue fazendo o trabalho que a sociedade admira”, disse Paiva.

“Foi uma reunião para ouvir do diretor-geral sobre o que ocorreu e a gente ouviu. Agora vamos esperar os próximos passos, a manifestação dele perante o Judiciário. Espero que a gente consiga ter um desfecho tranquilo e que a credibilidade da Polícia Federal se mantenha intacta”, disse o presidente da ADPF.

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