| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Pré-candidato à presidência da República pelo Psol, Guilherme Boulos defendeu nesta segunda-feira (11), em entrevista à Gazeta do Povo, a estatização de empresas que não cumprirem contratos, ao abordar o setor de telefonia móvel e os problemas que colocam as empresas entre as líderes de reclamações por parte do consumidor.

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Ao falar sobre um eventual governo sobre sua presidência, citou que sua primeira medida relativa ao setor será exigir que as empresas cumpram imediatamente os contratos, exigindo, por exemplo, a ampliação de cobertura, a instalação de mais antenas e a redução no valor dos serviços. “Hoje o consumidor compra um combo, não sabe o que é, não tem para quem reclamar, a pessoa liga, fica em um robô, desligam na cara”, questionou. “O estado tem que atuar num primeiro momento regulando. Empresa não quis com a farra, não aceitou regulação, estatiza”, definiu.

“O fato é temos o serviço de telefonia e de dados mais caro do mundo e um dos piores do mundo. Quem nunca teve que ir do banheiro para a sala para conseguir falar ao telefone? Por que não tem regulação nenhuma, a Anatel, que deveria regular isso, está nas mãos das companhias de telefonia”, disse. “Não cumprem sequer o contrato de concessão. Tem que cumprir imediatamente e se não cumprir, o estado tem que renacionalizar.

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Petrobras

Boulos falou ainda sobre o que chamou de privatização velada da Petrobras ao citar a mudança de política de preços adotada a partir do ano passado, sob a presidência de Pedro Parente, que deixou a companhia após a greve dos caminhoneiros. Para o pré-candidato, ao tirar a autonomia da companhia de formação de preços, atrelar o valor do petróleo ao valor do barril internacional, e importar o insumo em vez de desenvolvê-lo internamente, a empresa perdeu seu papel social e passou a atuar com foco no lucro dos acionistas internacionais.

“Estão subutilizando as refinarias, mandando petróleo cru lá para fora, como era no tempo colonial, que você mandava cana e importava açúcar refinado, e importando diesel e gasolina. Quando você importa, importa em dólar. Com o preço do dólar estourando, isso se reflete no preço do combustível. É uma política insana, resultado de um processo de privatização velado de uma empresa pública. Isso não pode continuar, o estado tem de intervir nisso”, defendeu.

Polícia desmilitarizada

Ao falar sobre propostas para segurança pública, Boulos citou a PEC 51, de 2013, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que propõe a reorganização das forças policiais excluindo o caráter militar e determinando atuação no policiamento tanto ostensivo quanto na área investigativa. Para o pré-candidato, que vê o tráfico de armas de munição como o principal problema da violência pública, o combate não se dará com tropa de choque na rua, e sim com inteligência de investigação.

“O índice de homicídios no Brasil é 30 vezes maior que na Europa. Morre mais gente no Brasil do que na Síria, que está no meio de uma guerra. Mmostra que o modelo de segurança aplicado até agora fracassou. É caro, ineficiente e violento. Temos a polícia que mais mata e mais morre no mundo”, aponta.

Boulos elevou o tom ao citar ideias defendidas por outros pré-candidatos quando o assunto é segurança pública, sobretudo quanto à liberação do porte de armas à população. Para o socialista, o que os rivais que defendem a tese fazem é explorar o medo da sociedade de modo populista. “A lógica da militarização fracassou. A população carcerária no Brasil dobrou nos últimos dez anos e o país não está mais seguro por isso. E o que faz o ‘seu’ Jair Bolsonaro, [fala em] distribuir amar para a população para resolver a violência. Em nenhum lugar do mundo se reduziu violência armando a população”, reiterou. “Isso é populismo, de gente que se aproveita para explorar politicamente o medo da sociedade. O Bolsonaro deveria ter vergonha do desserviço que presta à população brasileira”.

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Política de habitação

Ainda ligado ao MTST, Boulos lembrou que, se eleito, a ideia de seu programa é adotar uma política de habitação que permita à população mais pobre habitar os centros das grandes cidades, e criticou a falta de regulação na condução do programa Minha Casa Minha Vida, estabelecido no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

“Houve investimento público nas cidades muito importante, pelo PAC e pelo Minha Casa Minha Vida. O problema é que não basta ter investimento e não ter regulação. O metro quadrado explodiu no Brasil porque não se usou mecanismos de regulação”, reclamou, apontando, como resultado dessa falta de regulação, o aumento no valor dos alugueis e a saída de moradores mais pobres de áreas centrais.

“Acho que houve um avanço ao ter um programa como o Minha Casa Minha Vida”, elogiou. “Mas tem uma série de limites que criticamos desde o começo. Primeiro, tem o protagonismo das empreiteiras. São elas que decidem a localização do condomínio, gerencia o projeto, faz a obra. Boa parte dos condomínios está nos fundões, nas periferias das grandes cidades, reproduzindo a velha lógica de que pobre tem que morar longe”, atacou. E refirmou que, se eleito, seu programa habitacional vai lançar mão de edificações abandonadas nas regiões centrais para permitir aos mais carentes estar mais próximos de regiões mais bem equipadas.