| Foto: Nelson Almeida/AFP

A reta final do primeiro turno das eleições 2018 chegou e, por incrível que pareça, quatro dos 13 candidatos à Presidência da República ainda não conseguiram pontuar nas pesquisas de intenção de voto do Ibope. Segundo a última aferição, divulgada na quarta-feira (3), José Eymael (DC), Guilherme Boulos (PSOL), João Goulart Filho (PPL) e Vera Lúcia (PSTU) não atingiram um ponto percentual sequer.

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Mas o que é necessário para um candidato se destacar em um pleito presidencial? Levando em consideração o viés econômico da campanha, é possível afirmar que o dinheiro influencia muito no seu sucesso, porém, não é sinônimo de bons resultados.

Para ter um exemplo bem claro disso basta comparar os gastos dos presidenciáveis com as pontuações em pesquisas. Boulos recebeu cerca de R$ 6 milhões em recursos para promover sua candidatura. Um valor quase seis vezes maior que o recebido pelo candidato que lidera as pesquisas desde o início do período de campanha, Jair Bolsonaro (PSL). Mesmo assim, enquanto o primeiro não conseguiu ultrapassar mais que um ponto percentual em todo período, o segundo continua crescendo nas pesquisas.

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Há ainda um pensamento de que tudo depende do tamanho do partido ou coligação que o candidato representa. Pode-se confrontar esse pensamento com o cenário dessas eleições. Um pleito bem pulverizado, com 13 candidaturas, em que a maior coligação é a que tem o PSDB na cabeça de chapa, com Geraldo Alckmin. Tanto apoio resultou no maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Pois bem, Alckmin iniciou o período de campanha eleitoral com 7% das intenções de voto. E mesmo com mais que o dobro do tempo da segunda maior coligação, se encaminha para o dia de eleição com os mesmos 7%, tendo oscilado muito pouco entre a primeira e a última pesquisa.

Ao observar o segundo partido com maior representatividade no Congresso Nacional, o MDB, essa ideia também cai por terra. O representante do partido, Henrique Meirelles, que injetou R$ 45 milhões em sua campanha, não conseguiu atingir mais que 3% em nenhuma pesquisa Ibope e na última, do dia 3 de outubro, aparece com apenas 2% das intenções de voto.

O peso das propostas

Seguindo o raciocínio, sobre a análise que o eleitor faz das propostas defendidas por cada candidato. De fato, os quatro últimos colocados nesta corrida eleitoral possuem discursos bem radicais. Dois representantes de extrema esquerda e dois estadistas. Ambos com propostas que alterariam em muito o atual cenário político e social do país.

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Eymael defende um estado robusto, que tem a responsabilidade de resolver mazelas sociais e que deve ser o principal impulsionador da geração de renda, trabalho e desenvolvimento industrial e social. João Goulart Filho tem a mesma visão sobre a atuação do Estado e ainda, como ponto crucial de seu projeto, defende a revogação de todas as emendas constitucionais aprovadas desde 1988, o que, segundo ele, devolveria o caráter cidadão, da Constituição.

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Boulos, que tem um histórico de defesa das pessoas sem moradia, é representante maior da extrema esquerda brasileira. Suas propostas procuram diminuir as desigualdades sociais por meio de ações afirmativas e proteção das minorias pelo Estado. Entre as mais polêmicas, está a liberação do uso recreativo da maconha, o que segundo o candidato, significaria o fim da guerra contra o tráfico, que mata milhares de jovens negros e pobres no país.

Para a candidata do PSTU, Vera Lúcia, os trabalhadores devem ser o centro de todas as ações de governo. Seu projeto é todo voltado para a causa trabalhadora e sua principal proposta é a revogação completa da nova Lei Trabalhista, sancionada pelo presidente Michel Temer no final de 2017.

Esses pontos apresentados mostram que esses candidatos adotam posições bem extremadas que, de modo geral, tendem a causar a resistência do eleitorado. Contudo, boa parte dos eleitores que apoiam os dois candidatos de maior preferência defende seu voto com o argumento de que desejam que haja uma mudança no país, o que evidencia a complexidade dos critérios envolvidos na hora da escolha.

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O que se observa nesta eleição é que o eleitor tem se comportado de modo diferente das demais disputas. Os quesitos para definir o candidato parecem passar longe do que os marqueteiros políticos estavam acostumados.

Segundo o cientista político e professor da UFPR Émerson Cervi, os brasileiros ainda têm a memória da eleição de 2014, a mais disputada da história e que ainda hoje é questionada, tanto que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Aliado a isso, foram revelados vários escândalos de corrupção e o país enfrenta uma crise econômica que demora a passar. Todos esses fatores podem ter influenciado nessa mudança crítica do eleitorado.

“Essa eleição é atípica, se tirarmos o caso do Haddad, que é bem específico [o candidato assumiu a candidatura depois que o ex-presidente Lula foi impedido de participar, com base na Lei da Ficha Limpa], vemos que, no geral, todos os outros candidatos tiveram variações mínimas de intenção de voto. Olhando para isso, podemos dizer que os componentes de campanha ficaram em segundo plano. Mas não podemos dizer que foi assim em 2014. E nem que será assim em 2022”, analisa Cervi.